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China não quer GPUs nerfadas da Nvidia

Empresas, pesquisadores, e o governo da China recorrem a meios ilegais para adquirir as GPUs de ponta da Nvidia, banidas por sanções dos EUA

18/01/2024 às 10:24

Tão inevitável quanto a morte e os boletos, consumidores da China continuam adquirindo as GPUs mais avançadas da Nvidia, mesmo após as mais recentes sanções impostas pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que proibiu as vendas para o País do Meio das corporativas A100 e a H100, de suas versões mais modestas A800 e a H800, e da RTX 4090, a topo de linha para usuários finais/desktops.

Empresas, institutos de pesquisa ligados a universidades, e órgãos governamentais estão recorrendo ao mercado negro para manter estudos e aplicações de IA e defesa, para desespero da Casa Branca, e como se não bastasse, a RTX 4090 D vem sendo ignorada pelos chineses.

Especialistas apontam que sanções dos EUA só fortaleceram os processos chineses, que evoluíram para contornar as limitações de mercado impostas (Crédito: reprodução/acervo internet)

Especialistas apontam que sanções dos EUA só fortaleceram os processos chineses, que evoluíram para contornar as limitações de mercado impostas (Crédito: reprodução/acervo internet)

Ninguém freia a China

A mais recente rodada de sanções comerciais contra a China, impostas pelos EUA em outubro de 2023, mira em companhias locais diversas, como Huawei e a ZTE, fabricantes de dispositivos móveis e equipamentos de infraestrutura de rede, e a SMIC, manufatura estatal de semicondutores, responsável pelo controverso chip Kirin 9000s, e que não pode de jeito nenhum pôr as mãos nas máquinas da ASML.

Duas outras companhias chinesas na lista negra de Washington são a Biren Technology e a Moore Threads, a primeira por usar designs norte-americanos para desenvolver GPUs corporativas, para soluções de IA e outras aplicações críticas, tão poderosas quanto as mais avançadas da Nvidia.

A segunda, por sua vez, afirmou no passado ter desenvolvido processos de impressão de chips próprios, capazes de entregar GPUs "100% nacionais", pau a pau quanto as topo de linha da AMD e Nvidia para clientes corporativos e institutos de pesquisa, e claro, para soluções de Defesa.

O entendimento do governo dos EUA é que as empresas chinesas não chegaram a tal patamar sem apelar para a espionagem industrial, com apoio efetivo de Pequim, além de contrabando, o bom e velho mercado negro.

Nota: descaminho, ou mercado cinza, é a entrada "fria", sem nota e procedência, de produtos legais, o que não é o caso. Mercado cinza é quando você traz o PS5 do Paraguai, cruzando a fronteira sem nota; negro seria o mesmo cenário, mas caso o console fosse proibido no Brasil.

As restrições de mercado originais, impostas em 2022, proibiram a Nvidia de comercializar a A100 e a H100, suas GPUs corporativas de ponta, com empresas e instituições chinesas, ono que a resposta de Jensen Huang, CEO da companhia de Santa Clara, foi introduzir novos designs "nerfados", com capacidades de processamento mais moderadas, na forma das placas A800 e a H800.

No entanto, o Departamento de Comércio dos EUA proibiu também estas de serem comercializadas, com a adição da RTX 4090, bastante procurada por empresas e pesquisadores, além do consumidor gamer. De novo, Huang apresentou novos designs conforme as sanções, as corporativas HGX H20, L20 e L2, e a gamer RTX 4090 D, de "Dragon". Sutileza para quê, né?

A RTX 4090 D custa o mesmo que a 4090 e é mais fraca; consumidores da China não querem saber dela (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A RTX 4090 D custa o mesmo que a 4090 e é mais fraca; consumidores da China não querem saber dela (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Em comparação com a 4090 padrão, a versão exclusiva para o mercado chinês não tem suporte a overclock, tem um TDP menor (425 W contra 450 W), vem com menos 1.792 núcleos CUDA (14.592 contra 16.384) e 56 Tensor cores (456 contra 512).

Ambas têm o mesmo número de RT cores (128) e alcançam um clock em Boost de 2.520 MHz, mas o base é ligeiramente maior (2.280 MHz contra 2.230 MHz), o que é curioso.

Depois dos puxões de orelha de Gina Raimondo, secretária de Comércio, em Jensen Huang, a Nvidia se comprometeu a seguir as determinações do governo e não mais pretende contornar as leis com designs alternativos, para não perder o mercado consumidor chinês.

A RTX 4090 D é, por enquanto, a única devidamente sancionada, por teoricamente não poder ser usada em aplicações de larga escala (IA, Defesa, etc.), por ficar abaixo do limite de 4.800 TOPS (trilhões de operações por segundo), imposto por Washington.

Infelizmente para a Nvidia...

RTX 4090 D não emplaca

Um relatório recente da agência Reuters aponta que diversas empresas e instituições da China fizeram compras recentes das mais poderosas GPUs da Nvidia para soluções de grande porte, a H100 e a A100, banidas em 2022, e a H800 e a A800, as primeiras versões "nerfadas" e igualmente barradas, que não poderiam entrar do país de nenhuma maneira... ao menos, não legalmente.

Nvidia H100 Tensor Core, a GPU mais potente e cara do mundo (Crédito: Divulgação/Nvidia)

Nvidia H100 Tensor Core, a GPU mais potente e cara do mundo (Crédito: Divulgação/Nvidia)

Os clientes? Universidades, institutos de pesquisa focados em IA financiados pelo Estado, e claro, militares. As transações teriam sido pequenas, em torno de uma centena, e a dificuldade de rastrear os fornecedores mostra a existência de uma rede de fornecimento ilegal muito bem estabelecida, e protegida.

O mais interessante é notar que a RTX 4090 D, mesmo sendo oferecida legalmente e contar com versões de vários fabricantes, da MSI e Lenovo à ZOTAC, desperta zero interesse pelos consumidores da China, por ser mais fraca e custar o mesmo que a 4090; o preço base são os mesmos ¥ 13 mil (~R$ 8.983,35, cotação de 18/01/2024) do modelo hoje banido.

Dito isso, cambistas notaram o interesse pela versão original da RTX 4090 pelos chineses, e trataram de abarrotar seus estoques, comprando tudo o que aparece pela frente; embora haja a preocupação de uma nova onda de escassez, como durante o boom das criptomoedas, é preciso lembrar que esta é a GPU final mais cara da Nvidia, e por causa disso, uma das menos populares.

Ao mesmo tempo, companhias chinesas estariam desmontando milhares de unidades usadas da 4090 padrão, e as reconfigurando em modelos blower, as mais indicadas para data centers, direcionando-as para soluções de IA dedicadas em larga escala. Como tantas GPUs entram sem serem pegas no caminho é a grande pergunta, e é muito improvável que o governo do premiê Xi Jinping não tenha uma mão nisso, visto que o acesso contínuo a componentes de ponta (como, não importa) visa fortalecer o país frente aos rivais, especialmente os Estados Unidos.

Além das sanções não estarem surtindo o efeito desejado, já que empresas e o governo da China continuam adquirindo todos os componentes que desejam, especialistas apontam que não só elas não serão capazes de frear o avanço tecnológico do país, como estariam tendo o efeito contrário, ao estimular os profissionais locais a contornarem limitações; em um desses casos, maquinários especializados da ASML foram modificados para trabalharem com litografias mais baixas do que o originalmente projetado.

Se o Kirin 9000s é um indicativo, a China já se encaminha para produzir seus próprios semicondutores, tão poderosos quanto os dos concorrentes, que serão inevitavelmente fornecidos para clientes que os EUA não curte, como Rússia, Irã, Coreia do Norte, e outros países do chamado "Eixo do Mal", lembrando que já o fazem com peças que usam designs norte-americanos.

Fonte: Reuters

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