Em alguma realidade paralela, o PlayStation foi derrotado

Algo divertido de se fazer é tentar imaginar como a indústria de games seria, se algumas decisões tomadas por executivos no passado tivessem sido diferentes. Falando especificamente da quinta geração de consoles, será que o PlayStation teria feito tanto sucesso caso a Enix apostasse pesado no Sega Saturn e a Square levasse seus RPGs para o Nintendo 64?

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Pois estes cenários hipotéticos estiverem, em maior ou menor grau, perto de acontecer e quase 30 anos depois nos resta especular como o primeiro videogame da Sony teria encarado essas ameaças.

No caso do Sega Saturn, quem falou sobre a possibilidade de a Enix levar a série Dragon Quest para aquele console foi Yumiko Miyabe. Diretora de arte do Space Channel 5, ela usou o antigo Twitter para falar sobre algo que foi mantido a sete chaves pela fabricante japonesa.

“Na época, diziam que era algo ultrassecreto na companhia, mas quando pesquisei no Google, já era algo antigo, então pensei em escrever sobre isso apenas hoje,” disse a profissional que também trabalhou em sucessos como NiGHTS, Clockwork Knight e Panzer Dragoon. “Uma equipe de várias pessoas criou uma demo do Dragon Quest para o Sega Saturn e eu também trabalhei naquilo. Eu fiz aquilo.”

Infelizmente, Miyabe não deu maiores detalhes sobre o projeto, que ao que tudo indica, foi uma tentativa da Sega de convencer a Enix a fechar os olhos para o PlayStation e levar sua franquia mais famosa para o Saturn. Embora isso nunca tenha acontecido, a empresa chegou a lançar quatro títulos para o Saturn: Nanatsu Kaze no Shima Monogatari, Ninpen Manmaru, Riven: The Sequel to Myst e Nihon Daihyou Team no Kantoku ni Narou! Sekaihatsu, Soccer RPG.

Essa não é a primeira vez que o assunto veio à tona. Há alguns anos o game designer Yuji Naka já havia citado a chance de algum Dragon Quest aparecer naquele videogame, o que é um tanto curioso. Muito tempo depois, um dos criadores do Sonic foi preso sob a acusação de ter feito negociação com informações privilegiadas e adivinha qual jogo desencadeou a investigação? O Dragon Quest Tact, já que o japonês soube da sua produção antes dela se tornar pública e assim pôde garantir por preços mais baixos dez mil ações da Aiming, desenvolvedora do título para smartphones.

Um quadrado no Nintendo 64

Mas se a investida feita pela Sega na Enix foi um tanto comedida, aquela planejada pela Square para o Nintendo 64 poderia ter sido muito maior. Antiga parceira da Nintendo, o que fez com que tanto o Nintendinho quanto o seu sucessor recebessem diversos RPGs de peso da editora, a princípio o plano era manter a proximidade, com o carro chefe para o console da quinta geração da Casa do Mario atendendo pelo nome Final Fantasy VII.

Porém, uma decisão tomada pela Nintendo 64 começou a fazer com que a Square questionasse se aquele lançamento seria possível. Conseguir que um jogo tão grande coubesse em um cartucho seria uma tarefa quase impossível, o que fatalmente os obrigaria a realizar muitos cortes de conteúdo. Assim, a opção seria pular o muro, com o PlayStation aparecendo como melhor candidato.

Aquela ruptura foi tão grande, que há quem jure que a relação entre Nintendo e Square nunca mais foi a mesma. Segundo o programador de personagens, Hiroshi Kawai, o que ele ouviu na época daquela separação foi que os executivos da Nintendo ameaçavam que, “se vocês nos deixarem, nunca mais voltem.”

Isso até durou por alguns anos, mas eventualmente a Square voltou a lançar alguns dos seus jogos nas plataformas da Nintendo. O que nem todos sabem é que antes de a Sony garantir aquele gigante para o seu PlayStation, havia uma proposta de uma espécie de fusão, como relatado pela revista Game Machine, em novembro de 1995.

Naquela edição, o periódico dizia que a Square estava planejando lançar um consórcio em parceria com a Nintendo e a Justsystems, num negócio avaliado em 500 milhões de ienes, o que hoje seria equivalente a cerca de US$ 3,8 milhões. A ideia seria investir na criação de jogos para o Nintendo 64, aparelho que ainda estava em estágio de desenvolvimento.

Desse montante, 70% viriam do capital da própria Square, algo em torno de 350 milhões de ienes, enquanto a Nintendo contribuiria com 20% e a Justsystems com os 10% restantes. Caso o negócio tivesse sido fechado, o presidente da nova companhia seria Hisashi Suzuki, que na época respondia como vice-presidente da Squaresoft.

A revista afirmava também que a Nintendo havia feito uma mudança na mídia em que os jogos seriam distribuídos. Ao invés de usar cartuchos, como vinha sendo divulgado até então, o novo console adotaria “um sistema de disco magnético capaz de reescrever a alta velocidade e com grande capacidade [...] Dizem que ele tem méritos que o CD-Rom não possui.” A matéria ainda falava que a nova companhia seria criada para explorar o potencial desta mídia.

Eles provavelmente estivam falando dos discos para o Nintendo 64DD, um periférico cujo desenvolvimento se arrastou por muito tempo e acabou lançado, modestamente, apenas no Japão, onde recebeu apenas nove jogos.

Assim, o tempo acabou nos mostrando que o primeiro PlayStation nadaria de braçada naquela segunda etapa da guerra dos consoles. Além disso, seu sucesso formou a base para que a Sony se tornasse um dos principais nomes da indústria.

Quanto ao que poderia ter acontecido se essas possibilidades se concretizassem... Bom, talvez eu esteja subestimando o poder da Enix na época, mas acredito que mesmo com um Dragon Quest no seu catálogo, o Sega Saturn até poderia ter se destacado mais no Japão, mas nem tanto fora do país. Já em relação a um PlayStation sem Final Fantasy VII e um Nintendo 64 usando outra mídia que não fossem os famigerados cartuchos, isso poderia ter causado um belo impacto na liderança da Sony.

A força da Nintendo naquela época era imensa e se o RPG da Square se tornou um dos principais jogos de um videogame repleto de títulos memoráveis, imagine o que poderia ter feito ao lado de um Ocarina of Time, GoldenEye 007, Super Mario 64 e Super Smash Bros.?

Porém, a única coisa que nos resta mesmo é isso, relembrar o passado e imaginar...

Fonte: Time Extension (1 e 2)