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Final Fantasy XVI — As Crônicas de Gelo, Fogo e Eikons

Servindo como um possível início de uma nova era para a série, Final Fantasy XVI traz uma jogabilidade divertida, monstros enormes e um enredo interessante

37 semanas atrás

Manter uma franquia relevante (e oxigenada) durante mais de três décadas é uma tarefa difícil, principalmente quando ela já deu origem a dezenas de capítulos. Conhecido como Creative Business Unit III, um grupo da Square Enix tinha essa missão ao desenvolver o Final Fantasy XVI e o que eles entregaram foi um jogo capaz de surpreender até os mais esperançosos.

Final Fantasy XVI

Crédito: Divulgação/Square Enix

A história do Final Fantasy XVI se passa em Valisthea, um mundo dividido pelos Continentes Gêmeos, Cinza e Tormenta. Antes habitado pela tecnologicamente avançada civilização conhecida como Os Decaídos, esta desapareceu após uma enorme guerra, o que deixou suas ruínas espalhadas por todo o planeta.

Contudo, não são apenas os resquícios daqueles antepassados o que torna Valisthea um lugar especial. Por lá impera a magia, que é alimentada pela força vital do planeta, o Éter. Servindo desde fornecer água ou energia para as cidades, até como forma de ataque e defesa para as pessoas, toda a sociedade gira em torno da magia, mas infelizmente ela não é inesgotável.

Podendo ser conjurada através de cristais, esse material se tornou um dos recursos mais valiosos de Valisthea, sendo controlado pelo governo, o que obviamente fez surgir um sistema de comércio ilegal. Além disso, as lascas de cristais são retiradas dos Cristais-Máters, algumas estruturas gigantescas parecidas com montanhas.

Vistas como uma enorme fonte de algo tão importante para a população, não espanta grandes cidades terem se formado ao redor daqueles cristais e com o controle da região, aqueles que comandavam tais reinos receberam o poder, a fartura e a ganância. Exércitos se formaram, castas foram criadas e enquanto uns poucos usufruíam das maravilhas de estar no topo, a maioria das pessoas apenas sobrevivia nas partes mais rasas da sociedade.

Final Fantasy XVI

Crédito: Divulgação/Square Enix

E neste grupo estão os Portadores, alguém com o poder de invocar magias sem precisar de um cristal. Identificados assim que nascem e entregues ao estado, eles serão marcados na bochecha e passarão a servir ao resto do povo como escravos. Acima de tudo, eles sofrerão durante toda a vida, sendo tratados como “não pessoas” e sendo duramente perseguidos, menosprezados e em muitos casos, vistos apenas como objetos ou brinquedos.

Contudo, alguns nascem com a dádiva (ou seria maldição?) de ser um Dominante, uma pessoa que, assim como um Portador, também é capaz de utilizar magias sem precisar de cristais, mas com duas grandes diferenças: seu poder de canalização do Éter é muito maior, o que os tornam mais fortes; e a habilidade de controlar os Eikons.

Podendo ser descritos como seres mágicos extremamente poderosos, a história conhece a existência de oito Eikons, um para cada elemento: fogo, água, gelo, terra, vento, trovão, luz e escuridão. Podendo ser conjurado sempre que o seu Dominante desejar, eles só despertam numa nova pessoa quando o portador anterior morrer e devido o seu enorme poder de destruição, esses monstros são tratados como verdadeiras armas de destruição em massa, fazendo com que cada grande reino os utilize como uma garantia.

A casa da Fênix

Crédito: Divulgação/Square Enix

Pois será neste cenário que nascerá Clive, primogênito do Duque de Rosaria, Elwin Rosfield, e cuja expectativa era de que herdaria o poder de invocar a Fênix, um Eikon que sempre defendeu uma das nações mais importantes de Valisthea. Porém, para o desgosto de sua mãe, Anabella, ele veio ao mundo apenas como um Portador.

Após passar parte da sua infância e adolescência treinando arduamente, Clive Rosfield jura total lealdade a seu irmão mais novo, o pequeno Joshua e este, sim, nascido com o privilégio de ser o Dominante do Eikon destinado à sua família. Ainda sem conseguir invocar a Fênix, o garoto tem sua saúde debilitada e nunca deu sinal de que conseguirá carregar um fardo tão pesado quanto este.

O que os irmãos não poderiam imaginar era que, durante o rito de passagem de Joshua, Rosaria seria fortemente atacada pelo reino de Sanbreque, o que levaria ao assassinato do duque e o despertar da Fênix. Porém, aquele não seria todo o problema que os moradores do lugar enfrentariam e como não quero revelar uma parte importante da história, me limitarei a dizer o que acontece com Clive.

Capturado pelos invasores, o protagonista receberá a tradicional marca dos Portadores e virará um soldado escravo do exército de Sanbreque. Humilhado, mas sem opções, ele se torna um assassino de elite e sua vida só voltará a mudar 13 anos depois, quando o guerreiro cujo codinome passou a ser Wyvern será enviado além das linhas inimigas para matar um Portador de outro reino.

Final Fantasy XVI

Crédito: Divulgação/Square Enix

Repleto de reviravoltas, traições e violência, o enredo do Final Fantasy XVI possui um tom mais maduro do que costumamos ver na mídia, em muitos pontos lembrando as histórias escritas por R.R. Martin. Até mesmo a grande quantidade de eventos acontecendo simultaneamente e os muitos personagens lembram o Game of Thrones, sem falar nas relações — amorosas, conflituosas e interesseiras — entre aqueles que detêm o poder.

E com tantas informações sendo despejadas sobre o jogador a todo momento, sentir-se perdido seria algo fácil e inevitável. Porém, os profissionais do Creative Business Unit III implementaram aquela que considero uma das melhores ideias vistas ultimamente em um RPG: o Sumário Dinâmico.

Podendo ser ativado a quase todo momento, inclusive durante as cenas não-interativas, o que esse sistema faz é nos dar acesso a tópicos importantes que estão sendo citados. Assim, bastando manter pressionado o trackpad do DualSense, será mostrada uma tela onde poderemos escolher um personagem que está sendo mostrado, a região em que estamos ou informações importantes diversas. Escolhido o que queremos saber, o jogo nos levará para um card com um resumo do assunto.

Esse recurso se mostrou importante enquanto jogava, pois muitas vezes um personagem secundário reapareceu após várias horas de jogo e se não fosse pelo Sumário Dinâmico, eu nem lembraria de quem se tratava. Além disso, toda a informação aprendida será disponibilizada por Hárpocrates II Hiperbóreo, um historiador que estará disponível num determinado lugar.

Outro personagem que nos ajudará muito a entender a complexa história de Valisthea é Vivan Novecontos uma estudiosa que vem se dedicando a reunir os principais eventos registrados nos reinos. Será com ela que teremos acesso a um gráfico muito legal que mostra a associação entre os personagens, assim como uma detalhada linha do tempo do que já aconteceu em nossa aventura.

Eikon May Cry — ou seria Eikon of War?

Final Fantasy XVI

Crédito: Divulgação/Square Enix

Feito este resumo (e acredite, o que contei aqui foi apenas uma introdução para a história) do enredo do Final Fantasy XVI, precisamos chegar ao principal ponto de debate em relação a este novo capítulo, sua jogabilidade.

Deixando de lado as tradicionais batalhas por turnos, o que teremos aqui é um típico jogo de ação, com a habilidade do jogador sendo levada em consideração e sem termos muito tempo para calcularmos nossa estratégia. Até mesmo as magias poderão ser disparadas sem o consumo de mana, com os poderes especiais apenas precisando de um tempo para estarem disponíveis novamente.

Assim, teremos um botão para golpes a curta distâncias que poderão ser encadeados em um combo de quatro acertos; outro para fazer os disparos a longa distância; um terceiro para nos aproximarmos rapidamente dos inimigos e por fim, mais um para esquiva. O jogo ainda nos permitirá usar o R2 para acionarmos os especiais, mas a verdade é que tudo acontecerá de maneira simples, exigindo apenas alguma agilidade do jogador.

Já para aqueles que não gostam de títulos de ação, o Final Fantasy XVI até conta com uma opção mais voltada para a história, assim como acessórios que, quando equipados, simplificarão os ataques e defesa. Mesmo assim, não espere algo cadenciado como tínhamos num passado mais distante da série.

Essa mudança tão profunda poderá incomodar quem está afastado da franquia há muito tempo, mas ela estava sendo ensaiada nos capítulos anteriores e quem jogou o Final Fantasy XV já havia sentido um gostinho do que estava por vir. Eu não posso dizer que essa abordagem menos estratégica me incomodou, mesmo porque gostei muito do sistema de batalhas e algo como o que tínhamos no Final Fantasy VI ou VII não me diverte tanto hoje em dia.

Alguém poderá argumentar que o ideal seria um meio-termo, um sistema no estilo do que foi implementado no Final Fantasy XII e acho isso válido. De qualquer forma, o fato é que dessa vez tudo acontecerá de maneira mais frenética e dinâmica, mas sem deixar de lado a típica pirotecnia da série.

Crédito: Divulgação/Square Enix

Eu também gostei da quantidade de chefes que cruzam o nosso caminho. Embora existam momentos em que passaremos vários minutos enfrentando apenas inimigos mais fracos, não demorará muito até nos depararmos com uma ameaça maior, um monstro capaz de nos aniquilar rapidamente, um adversário com padrões de ataques desafiadores ou até mesmo um Eikon.

Já o que me desagradou foi a estrutura da aventura, a maneira bastante linear como tudo acontece. Ao contrário do que temos visto nos últimos RPGs, o Final Fantasy XVI não se passa em um vasto mundo aberto. Embora algumas regiões do mapa estejam interligadas e com o passar do tempo ele se mostre consideravelmente grande, durante a maior a parte da história tudo acontecerá sem muito espaço para exploração.

Basicamente, o que teremos aqui será uma progressão por “corredores”, com o jogo nos colocando para avançar de um ponto A até um ponto B, enquanto enfrentamos algumas batalhas pelo caminho. Mesmo as missões paralelas (que não são tão abundantes) costumam acontecer nos arredores e tirando um baú escondido aqui ou um item jogado ali, não há muito incentivo a desviarmos do nosso caminho.

Eu entendo que criar o jogo assim tenha sido uma escolha de design para não dispersar o foco dos jogadores, com eles sempre buscando dar continuidade à missão principal. No entanto, eu não escondo minha paixão pelos mundos abertos e após experimentar jogos como The Witcher 3: Wild Hunt, The Elder Scrolls V: Skyrim e The Legend of Zelda: Breath of the Wild, tornou-se difícil não sentir uma certa claustrofobia ao encarar o Final Fantasy XVI.

Isso não quer dizer que não visitaremos lugares belíssimos e enormes, muito menos que a história não passa um ar de grandiosidade. Valisthea é um mundo fantástico, cheio de cenários detalhados e repleto de mistérios, com os destroços das aeronaves dos Decaídos passando uma ideia de que muito já aconteceu por aquelas terras. Mesmo assim, é estranho utilizar um mapa mundi onde nos locomoveremos como se fosse num jogo de tabuleiro.

O que é um RPG?

Final Fantasy XVI

Crédito: Divulgação/Square Enix

Eu sou um apaixonado por RPGs, gênero que considero meu favorito e cujo primeiro contato se deu no Master System, com o Phantasy Star. De lá para cá, muita coisa mudou em jogos assim, principalmente quando falamos do sistema de batalha. Para os mais puristas, um jogo como Fallout 3, Dark Souls ou o próprio Final Fantasy XVI nunca poderiam ser tratados como um RPG.

Porém, segundo o Cambridge Dictionary, RPG “é uma abreviação para role-playing game: um jogo de computador em que os jogadores controlam as ações de personagens em um mundo imaginário.” O Oxford Learner’s Dictionaries segue pela mesma linha, afirmando que a sigla se refere a “um jogo [...] em que os jogadores fingem ser personagens imaginários que participam de aventuras, especialmente em situações de literatura de fantasia.”

Sendo assim, podemos afirmar categoricamente que o Final Fantasy XVI é um RPG. Para alguns, ele poderá pecar pela pouca atenção dada ao lado da personalização ou por não nos dar muita liberdade para a interpretação. Talvez o título de fato possa ser encarado mais como um jogo de ação com elemento de RPGs e se for o caso, isso ele faz muito bem.

Quanto a ser ou não um digno Final Fantasy, é preciso admitir que a série evoluiu, mesmo que esta evolução não se encaixe naquilo que eu ou você possamos entender como sendo boa. O jogo é como seus criadores o idealizaram e não o aceitar como fazendo parte da tão adorada franquia — mesmo com vários elementos do seu universo estando presentes — não mudará a situação.

Final Fantasy XVI é um jogo visual e sonoramente lindo, com uma boa jogabilidade e principalmente, uma história que sempre me fez querer conhecer mais. Ele trouxe consigo uma enorme expectativa e a promessa de uma nova era para a série principal, entregando tudo o que uma grande produção pode oferecer. Alguns poderão questionar se ele ainda é um RPG, mas o inegável que a Square Enix lançou um dos melhores jogos de 2023 e um dos meus capítulos favoritos da franquia.

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