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China: governo favorece empresas locais contra Apple e Tesla

Com apoio do governo, empresas da China estão absorvendo partes do mercado da Apple e Tesla, com base no "consumo patriótico"

12/03/2024 às 11:58

Fato: o tempo em que grandes companhias tinham na China uma terra de grandes oportunidades, acabou. As mudanças realizadas nos últimos anos, em que o premiê Xi Jinping priorizou o ultranacionalismo e a defesa dos valores comunistas a todos, está enfim surtindo efeitos negativos nas gigantes tech externas ao País do Meio.

A Apple e a Tesla Motors, outrora favorecidas por acordos visando maior participação no mercado consumidor, em troca de investimentos bem gordos, estão sentindo na pele os efeitos do "consumo patriótico" defendido e estimulado pelo governo, priorizando fabricantes locais frente aos estrangeiros, e em alguns casos, Pequim joga bem pesado.

China e Apple (e Tesla): acabou o amor (Crédito: Reprodução/Reddit)

China e Apple (e Tesla): acabou o amor (Crédito: Reprodução/Reddit)

Tesla e Apple estão tendo dificuldades para vender seus produtos no mercado chinês, por uma série de motivos. A montadora de Elon Musk entregou 60.365 carros elétricos aos revendedores no mês de fevereiro de 2024, 16% menos em relação ao mês anterior, e 19% menos que o montante despachado em fev/2023.

China baniu iPhones de repartições

As coisas mudam de figura quando analisamos o porquê da queda nas vendas de ambas companhias. Em setembro de 2023, o governo da China proibiu seus funcionários públicos de usarem iPhones, o que por si só pulverizou mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado da maçã.

O banimento "coincidiu" com o lançamento do Huawei Mate 60 Pro, um smartphone Android de ponta local, que irritou reguladores norte-americanos por conter componentes que a fabricante chinesa não poderia ter acesso, desde que foi incluída na lista de "entidades não-confiáveis" em 2019.

Segundo pesquisa da empresa de análise Counterpoint, a venda de dispositivos da Huawei na China disparou 64% nas 6 primeiras semanas de 2024, em comparação ao período de 2023, enquanto a saída do iPhone caiu 24% no mesmo período, mas as vendas não cresceram apenas entre os consumidores finais, movidos pelo sentimento patriótico incitado pelo ursi- digo, premiê Xi.

Em entrevista ao site Ars Technica, "Guo", que trabalha em um think tank financiado pelo governo (ele pediu para seu nome completo não ser revelado), disse que Pequim lhes deu uma ordem, no fim de 2023, de "pararem de usar iPhones em um mês", e sem direito a subsídios para a substituição, na base do "se vira aí".

Num belo dia, conta Guo, funcionários da Huawei apareceram no escritório, com caixas abarrotadas de smartphones, vendendo todos "com 20% de desconto", e que "todos no prédio começaram a brigar pelos aparelhos".

Dados levantados pelo site Bloomberg mostram queda nas vendas da Apple e Tesla nos três primeiros meses de 2024 (Crédito: Reprodução/Financial Times)

Dados levantados pelo site Bloomberg mostram queda nas vendas da Apple e Tesla nos três primeiros meses de 2024 (Crédito: Reprodução/Financial Times)

Segundo Nong Jiagui, professor na área rural de Yunnan, a história é bem similar: representantes ligados ao governo exigem que os docentes se livrem de seus smartphones estrangeiros, e passem a usar dispositivos chineses, "para apoiar a indústria nacional".

Concorrência patrocinada

Entre os consumidores finais, a estratégia do governo de promover a indústria nacional, em detrimento das multinacionais, tem dado resultado, mas Pequim tem forçado a mão na adoção das pratas da casa. No caso da Tesla, a companha perdeu um valioso subsídio fiscal de 15%, enquanto concorrentes locais, como BYD (privada) e SAIC Motor (uma das quatro grandes montadoras do país, todas estatais) ainda gozam dele.

Além disso, Tesla e BYD entraram em uma guerra de preços informal, com a primeira oferecendo descontos de até US$ 4,8 mil nos Model 3 e Y, enquanto a BYD realizou cortes nos valores finais de até 17% em seus veículos elétricos.

Vale lembrar que os carros do Musk vem sendo proibidos de circular em certas áreas, por questões de "segurança"; a desculpa, os veículos poderiam coletar dados de instalações governamentais e militares, o que sendo justo, foi a mesma acusação que o governo Biden dirigiu aos carros chineses, quando impôs a mesma restrição nos EUA a eles.

Como consequência, a companhia de Elon Musk hoje responde por 6,6% do market share do setor de EVs e híbridos da China, nos meses de janeiro e fevereiro de 2024, contra 7,9% no mesmo período de 2023.

É fato que tanto a Apple quanto a Tesla continuam com vendas significativas na China, mas as coisas estão mudando e vão afetar mais companhias: segundo o Wall Street Journal, o "Documento 79", uma diretiva em curso desde 2022, visa impor a completa eliminação de qualquer tecnologia não-chinesa, em todos os órgãos estatais do país, até 2027.

Como consequência, a presença de empresas como Microsoft, Cisco e HP em diversas situações, de infra a operações, só vem caindo, enquanto as próximas a sentirem o baque serão IBM, Oracle e similares, no que suas soluções de servidores já estão sendo substituídas por produtos locais.

Claro, casos e casos, pois duvido muito que o governo chinês vai querer se abster dos produtos da Nvidia, mas esses (os banidos pelos EUA, no caso) já entram no país por outros meios que não o legal.

Fonte: Business Insider, Ars Technica

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