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Robô da Tesla atacou um engenheiro indefeso?

Um robô da Tesla teria atacado com violência um engenheiro. Verdade ou mídia sensacionalista que desconhece robôs industriais?

15 semanas atrás

Bem, é um fato que robôs da Tesla não respeitam as 3 Leis da Robótica, de Isaac Asimov, então tecnicamente eles são livres para matar, esmagar, destruir, mas será verdade a história que um robô ATACOU um engenheiro, e teve que ser contido? Uma coisa é verdade: robôs matam...

Sim, champs, foi assim mesmo (Crédito: Reprodução YouTube)

Esse caso da Tesla chamou a atenção da mídia, que alegremente repetiu as alegações sensacionalistas, em alguns casos, como da inacreditável matéria da TV Cultura (sic) reproduzida abaixo, chegaram a ignorar a existência de robôs industriais e assumiram que o robô assassino em questão é o robô humanoide que a Tesla está desenvolvendo. Isso mesmo, de acidente industrial pularam direto para Exterminador do Futuro.

Na verdade, essa saga de robôs matando humanos começou bem no passado, o primeiro caso registrado foi em 1979, em uma fábrica da Ford em Michigan. O então jovem de 25 anos recebeu ordens de subir numa estante para pegar algumas peças, pois o robô estava demorando muito.

O robô em questão era um monstro de cinco andares, uma nova unidade de almoxarifado, com carros de transportes de uma tonelada, que percorria as estantes do armazém pegando peças sob demanda e enviando para outras partes da fábrica.

Robert subiu nas estantes, quando um dos carros de transporte veio em sua direção e o esmagou feito uma barata. Ao menos a indenização foi polpuda, a família levou o equivalente em 2024 a US$ 44 milhões.

Na época robôs não tinham quase nenhum sistema de segurança, e até hoje eles têm menos do que a gente imagina, por um único motivo: robôs industriais não são o C3PO, não são nem o Johnny 5. Robôs industriais são máquinas industriais e essas máquinas são perigosas por natureza.

Um robô industrial é uma máquina de várias toneladas se movendo muito rápido, às vezes carregando uma peça muito pesada. Ele não tem olhos, ele não tem o conceito de gente à sua volta. Tudo que ele sabe é que tem que mover o braço #1 x graus na posição y, x graus na posição x, x graus na posição z, depois mover o braço 2 tantos outros graus, abrir o manipulador, abaixar o braço 3, fechar o manipulador...

Nenhum robô industrial, nem aqueles que você vê nas demonstrações da Boston Dynamics, entende o conceito “pegue aquela caixa ali pra mim”.

Ninguém noticia quando alguém perde o dedo em um torno, ou morre em uma prensa hidráulica, após macetear os controles de segurança para poder trabalhar de forma mais confortável.

Um estudo de 2017 do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH) dos EUA revelou que 41 mortes relacionadas a robôs ocorreram nos Estados Unidos entre 1992 e 2017. Quase todas por erro humano, o sujeito invadiu a área de operação do robô, e foi atingido.

Há casos em que barreiras de segurança, que deveriam ter desativado automaticamente o robô, falham, mas o mais comum é o sujeito achar que se correr rapidinho consegue desviar do robô.

Alguns casos São especialmente sinistros, como o que aconteceu em 2018 com um sujeito chamado Zhou. Ele trabalhava em uma fábrica de porcelanas em Zhuzhou, China. Diz ele que estava andando, durante o turno da noite, quando um braço robótico caiu de uma máquina e o empalou com nada menos que dez pinos, que à primeira vista parecem flechetes atirados por alguma arma futurista de videogame, cada um com 30cm de comprimento e 1,5cm de diâmetro.

Isso deve ter doído (Crédito: Daily Mail)

As imagens do sujeito (que sobreviveu) todo espetado são fortes demais pra este blog família, mas você pode conferir neste link aqui.

Quanto ao caso da Tesla, vejam a inacreditável descrição do acidente, segundo o Daily Mail:

"Um engenheiro da Tesla foi atacado por um robô durante um mau funcionamento brutal e sangrento na fábrica da empresa Giga Texas, perto de Austin.

Duas testemunhas assistiram horrorizadas quando seu colega de trabalho foi atacado pela máquina projetada para agarrar e mover peças de alumínio recém-fundidas de automóveis.

O robô prendeu o homem, que estava programando software para dois robôs Tesla desativados nas proximidades, antes de cravar suas garras de metal nas costas e no braço do trabalhador, deixando um “rastro de sangue” ao longo da superfície da fábrica."

O nível de sensacionalismo está tão grande que há sites dizendo que o engenheiro foi EMBOSCADO pelo robô.

Eu sei, eu sei, Skynet, blablabla mas o verbo ATACAR implica em intenção, e estamos falando de marionetes automáticas. Equivale a você enfiar a mão no liquidificador ligado e dizer que foi atacado por ele.

E no caso da Tesla?

No caso da Tesla, o sujeito estava fazendo upgrade de software em dois robôs que cortavam peças de alumínio para os carros. Os dois estavam desabilitados. Um terceiro não foi desligado, e prosseguiu com o trabalho de pegar a peça do ponto A e levar para o ponto B. Só que no lugar da peça estava a mão do engenheiro. Ele começou a ser levantado pelo robô, gritou “Help me Sarah Connor” ou algo assim, outros funcionários acionaram o grande botão vermelho perto de toda e qualquer máquina industrial, o robô foi desligado.

O cara foi pra enfermaria com um corte na mão, fizeram um curativo e ele voltou a trabalhar no mesmo dia.

Mas isso não gera manchetes sensacionalistas, né?

Em 2022, os EUA tiveram 5.486 mortes, de um total de 2,8 milhões de ferimentos e sequelas de acidentes de trabalho, uma alta de 5.7% em relação ao ano anterior (fonte). Há discussões sobre os números da Tesla serem mais altos que a média nacional, mas a imprensa tem um claro viés contra a empresa (será porque a Tesla tem US$ 0 de verba de publicidade, e não anuncia na mídia?), um ódio cego a ponto de ignorar fatos para promover narrativas histéricas de robôs assassinos.

A solução ideal seria criar humanos mais inteligentes, mas isso meio que não é muito bem-visto depois de 1945, então o jeito será melhorar os robôs.

Crédito: Fox, ou Cartoon Network

A maioria dos robôs industriais são bem limitados, mas a tecnologia hoje já é eficiente o bastante para com muito pouco processamento identificar pessoas, animais, objetos estranhos. Legislações de proteção exigindo que futuros robôs industriais tenham capacidade cognitiva para determinar perigo e agir de acordo.

Como ChatGPT provou que um computador não precisa ser realmente inteligente para manter uma conversa, já é hora dos robôs industriais terem a capacidade, mesmo não sendo realmente sencientes, de entender e respeitar a Primeira Lei da Robótica:

“Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.”

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