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Huawei Mate 60 Pro, o celular que não deveria existir

Mate 60 Pro traz componentes da SK Hynix, que se diz inocente; Huawei está sob sanções desde 2019 e não pode usar tecnologias dos EUA

26 semanas atrás

Quatro anos se passaram desde que o governo dos Estados Unidos colocou a Huawei, fabricante chinesa de dispositivos móveis, eletrônicos e produtos de infraestrutura, na lista das "entidades não-confiáveis". De modo resumido, nenhuma companhia norte-americana, ou externas que usam propriedades intelectuais dos EUA em seus produtos e serviços, podem fazer negócios com a empresa.

Os resultados foram catastróficos: as restrições fizeram a empresa perder acesso ao Android e serviços do Google, bem como componentes de fabricantes como Qualcomm, Broadcom, Xilinx e SK Hynix; todas pularam fora, por comercializarem produtos que usam tecnologias dos EUA. Como consequência, a outrora terceira maior empresa de celulares do mundo... ruiu.

Mate 60 Pro usa memórias da SK Hynix e SoC Kirin 9000s seria "impossível" de ser feito sem tecnologias dos EUA, que a Huawei não têm acesso (Crédito: Divulgação/Huawei)

Mate 60 Pro usa memórias da SK Hynix e SoC Kirin 9000s seria "impossível" de ser feito sem tecnologias dos EUA, que a Huawei não têm acesso (Crédito: Divulgação/Huawei)

A Huawei acabou vendendo a divisão Honor, e ficou de fora da expansão do 5G em todo o mundo, inclusive no Brasil, graças a uma marmotagem para não desagradar nem a China, nem os EUA. Já sua divisão mobile acabou restrita ao consumo interno, com produtos de hardware mais fraco, devido à limitação de acesso a tecnologias mais recentes, que afetou sensivelmente o desenvolvimento local de chips, quando Washington impôs restrições de acesso a semicondutores por quaisquer companhias chinesas.

Exatamente por isso, as autoridades norte-americanas estão cabreiras com o mais recente celular de ponta da Huawei, o Mate 60 Pro, lançado em agosto de 2023 no mercado chinês, que vem equipado com um SoC da Kirin de 7 nanômetros, algo considerado "impossível" sem o uso de tecnologias dos EUA.

As especificações do dispositivo o colocam na categoria topo de linha, e testes preliminares e comparações o posicionam como um forte rival dos iPhones mais recentes na China, ainda mais com seu lançamento "coincidindo" com uma norma de Pequim destinada a oficiais do governo, que está sendo estendida para empresas estatais, proibindo seus membros de usarem iGadgets, o que fez a Apple perder muito dinheiro.

O processador Kirin 9000s foi desenvolvido pela foundry Semiconductor Manufacturing International Corp. (SMIC), a maior da China, e seu lançamento levantou todos os alarmes quanto ao processo de impressão, visto que a companhia, graças às restrições, não pode comprar máquinas de litografia de ultravioleta extremo, produzidas por empresas como a gigante ASML.

Sob circunstâncias normais, a SMIC não poderia, de forma alguma, imprimir o Kirin 9000s em casa, mesmo que tenha desenvolvido um método próprio, por não ter acesso ao maquinário essencial, devido à restrição de semicondutores e tecnologias ancilares. Ela também não pode fazer negócios com empresas de fora, como a TSMC, para terceirizar a produção, ao menos, não em 7 nm.

Analistas acreditam que a China está fazendo por onde para criar um cenário próprio de semicondutores, mas o foco não é a tecnologia do chip, e sim quem o imprimiu. Desenhar um processador é complexo, mas a máquina de litografia é muito, muito mais, e especialistas acreditam que o País do Meio ainda não chegou (e talvez nunca chegue) no nível de uma ASML.

No entanto, os olhares em cima do Mate 60 Pro não se restringem ao SoC; as memórias RAM e de armazenamento do aparelho são mais componentes que não deveriam estar ali de forma alguma, por serem da companhia sul-coreana SK Hynix, que não pode fazer negócios com a Huawei.

Desmontes revelaram que o Huawei Mate 60 Pro conta com chips de RAM LPDDR5 e NAND Flash autênticos, com numeração verificada e não são cópias chinesas dos componentes coreanos, o que deixou os reguladores americanos fulos da vida com a SK Hynix, pois isso configura uma flagrante violação das restrições de mercado impostas à empresa chinesa, que não pode ter acesso a tais memórias.

A SK Hynix se defendeu, e disse em nota que "não faz ideia" de como a Huawei conseguiu ter acesso a seus componentes. A empresa afirma que vem cumprindo as restrições desde que elas foram impostas em 2019, e não faz negócios com os chineses desde então.

Há quem diga que a Huawei tinha um estoque de memórias e o vêm usando desde que foi impedida de fazer negócios com empresas de fora, o que vale para as memórias NAND; o modelo usado, o UD310 4D de 176 camadas com código de identificação HN8T25DEHKX077, foi lançado em 2020, quando a Huawei ainda tinha acesso limitado a tecnologias norte-americanas; pouco tempo depois, o corte foi total.

No que tange à memória LPDDR5, as coisas complicam. A JEDEC publicou suas especificações em fevereiro de 2019, o banhammer desceu na cabeça Huawei em maio do mesmo ano, e a Samsung iniciou a impressão em série das memórias dois meses depois, em julho. A RAM, identificada pelo código H58GG6MK6G, também poderia ter sido estocada antes da fabricante chinesa ter o acesso cortado a componentes de fora da China, quando ainda podia fazer negócios limitados com empresas externas.

O problema com a hipótese do estoque antigo, está no fato de que a quantidade de aparelhos que a Huawei pode lançar seria limitada, e tende a encolher com o passar dos anos. Assim, é possível que a Huawei tenha apelado para uma solução mais simples, como usar uma empresa laranja como intermediária na compra das memórias RAM e NAND, com esta repassando os componentes, ou apelar para o mercado negro.

Caso tenha sido a primeira opção, ela não isenta a SK Hynix de culpa. A empresa sul-coreana pode ser acusada de negligência ao realizar a venda, por não ter checado quem estava comprando, por exemplo, ele deveria verificar se o cliente em potencial tinha, ou tem, ligações comerciais com a China e suas companhias.

Claro, há a possibilidade (remota) de que a SK Hynix esteja mentindo, e vendeu conscientemente suas memórias para a Huawei, mas se isso aconteceu, a ira do sreguladores cairá sobre a companhia da mesma forma, ou pior, do que aconteceu com a empresa chinesa. De qualquer forma, as investigações continuam.

Enquanto isso, você pode adquirir um Mate 60 Pro com 512 GB de espaço interno por ¥6.999, aproximadamente R$ 4.736 (cotação de 11/09/2023), claro, apenas se você estiver passeando pela China; se resolver importar, vai pagar "um pouquinho" a mais.

Fonte: ExtremeTech

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