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China: fabricantes depreciam chips para driblar sanções

Sanções dos EUA proíbem compra de semicondutores por empresas da China, que estão "emburrecendo" seus chips para seguirem no mercado

28 semanas atrás

No dia 7 de outubro de 2022, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos publicou um conjunto de regras para "controle de exportação", que incluía o corte total do acesso da China a semicondutores produzidos com tecnologia norte-americana, não importando em que lugar do mundo eles são fabricados.

A justificativa seria "manter tecnologias avançadas longe de mãos erradas", no que o governo dos EUA afirma que tais componentes seriam usados na fabricação de armas, ou de dispositivos espiões, quando na realidade, visa frear o avanço tecnológico do País do Meio em diversos setores, incluindo o mercado consumidor.

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

A medida afetou diretamente o mercado consumidor em diversas frentes, de chips para dispositivos móveis a GPUs. A taiwanesa TSMC, que desenvolve e imprime processadores e componentes para inúmeros clientes do ocidente, como Apple, AMD, Nvidia e outras, também possui clientes na China, no que ela foi forçada a parar de atendê-los, devido às sanções.

Os motivos são simples. A TSMC não está sujeita às ordens do governo dos EUA, mas faz negócios com diversas empresas do país, e também usa designs americanos em seus produtos. Ainda que não haja nenhum tipo de acordo para reforçar a adoção das sanções em mais países, a empresa decidiu não arriscar, e atender as sanções, mesmo em tese podendo usar um salvo-conduto de um ano.

É verdade que o estranhamento entre Taiwan e China esteja aumentando, e a TSMC teme ficar no meio do conflito com os EUA se a situação escalar, mas por enquanto, a empresa está jogando com as cartas que têm na mão. Um dos casos de atrito recente entre a empresa e fabricantes chineses, se deu com a Biren Technology, que estaria desenvolvendo GPUs para o mercado corporativo, especificamente datacenters.

Ao anunciar recentemente a BR100, produzida pela TSMC em um processo de 5 nanômetros, um projeto que consumiu anos de P&D, a Biren afirmou que ela era suficientemente potente para concorrer de frente com a Nvidia A100, reconhecida como a GPU mais poderosa do mundo. De fato, os chineses afirmaram que ela entregaria uma performance melhor em aplicações como IA e aprendizado de máquina, custando menos.

A TSMC entrou em pânico, tal declaração aberta, e publicada no site oficial, caracterizaria uma violação flagrante das sanções impostas pelos EUA. Como consequência, a empresa interrompeu completamente a fabricação da BR100 e de sua "irmã", a BR104.

Vale lembrar que devido ao bloqueio, tanto a Nvidia quanto a AMD estão proibidas de vender suas GPUs, e outras de suas tecnologias, na China.

 

A GPU BR100 prometia concorrer com a poderosa A100 da Nvidia. Prometia (Crédito: Divulgação/Biren Technology) / china

A GPU BR100 prometia concorrer com a poderosa A100 da Nvidia. Prometia (Crédito: Divulgação/Biren Technology)

Outra empresa chinesa afetada pelas sanções foi a gigante Alibaba Group, que desde o episódio em 2020 que seu ex-CEO, Jack Ma, falou mais do que devia e enfureceu o premiê chinês Xi Jinping, perdeu mais de 80% de seu valor de mercado.

Segundo fontes, o setor de tecnologia estava desenvolvendo um novo e poderoso chip gráfico de 5 nm, e que estava prestes a revelá-lo, quando a bordoada veio; a TSMC também ficaria a cargo de sua impressão.

As regras impostas pelos EUA para o bloqueio do acesso a semicondutores é específica para "componentes avançados", ou seja, mais modernos e poderosos. Os ânimos na China, como era de se esperar, são os piores possíveis. Quando as sanções foram anunciadas, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país disse que "os EUA abusaram das medidas de controle de exportação", como uma forma de assegurar artificialmente a hegemonia americana no setor tecnológico mundial.

O fato é que as companhias chinesas serão afetadas, de um jeito ou de outro, mas como sair do mercado não é opção, Biren, Alibaba e outras começaram a se adaptar à nova realidade... depreciando seus próprios designs.

Engenheiros destas e de outras companhias chinesas estão alterando as especificações de seus chips gráficos, para torná-los mais "burros" e lentos, e consequentemente, se enquadrem dentro das especificações permitidas à TSMC pelas sanções para imprimi-los.

Por exemplo, os chips que equipam a GPU BR100 possuíam originalmente, segundo a fabricante, uma taxa de transferência de 640 GB/s, mas recentemente, a Biren atualizou seu site e agora, s especificações do produto dizem que ele não ultrapassa 576 GB/s. Em tese, essa redução na performance tornaria a placa de vídeo passível de ser fabricada pela TSMC, sem que ela viole as sanções norte-americanas.

A Alibaba, através de sua divisão de semicondutores T-Head, também está revendo o design de seu chip gráfico, de modo que ele possa ser produzido, mas segundo fontes, a empreitada não só vai consumir um bom tempo, como custará US$ 10 milhões, apenas na fase de testes junto à TSMC, o que não é legal para uma empresa que anda mal das pernas desde 2020.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirma que, embora as companhias locais sejam afetadas pelas sanções, o mercado ocidental também será, por serem impedidas de vender componentes e fornecer tecnologia a um dos maiores mercados do mundo, e que isso terá consequências generalizadas. Mas por enquanto, é aguardar e ver no que essa jogada dos EUA vai dar.

Fonte: ExtremeTech

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