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China: fabricantes depreciam chips para driblar sanções

Sanções dos EUA proíbem compra de semicondutores por empresas da China, que estão "emburrecendo" seus chips para seguirem no mercado

1 ano atrás

No dia 7 de outubro de 2022, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos publicou um conjunto de regras para "controle de exportação", que incluía o corte total do acesso da China a semicondutores produzidos com tecnologia norte-americana, não importando em que lugar do mundo eles são fabricados.

A justificativa seria "manter tecnologias avançadas longe de mãos erradas", no que o governo dos EUA afirma que tais componentes seriam usados na fabricação de armas, ou de dispositivos espiões, quando na realidade, visa frear o avanço tecnológico do País do Meio em diversos setores, incluindo o mercado consumidor.

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

A medida afetou diretamente o mercado consumidor em diversas frentes, de chips para dispositivos móveis a GPUs. A taiwanesa TSMC, que desenvolve e imprime processadores e componentes para inúmeros clientes do ocidente, como Apple, AMD, Nvidia e outras, também possui clientes na China, no que ela foi forçada a parar de atendê-los, devido às sanções.

Os motivos são simples. A TSMC não está sujeita às ordens do governo dos EUA, mas faz negócios com diversas empresas do país, e também usa designs americanos em seus produtos. Ainda que não haja nenhum tipo de acordo para reforçar a adoção das sanções em mais países, a empresa decidiu não arriscar, e atender as sanções, mesmo em tese podendo usar um salvo-conduto de um ano.

É verdade que o estranhamento entre Taiwan e China esteja aumentando, e a TSMC teme ficar no meio do conflito com os EUA se a situação escalar, mas por enquanto, a empresa está jogando com as cartas que têm na mão. Um dos casos de atrito recente entre a empresa e fabricantes chineses, se deu com a Biren Technology, que estaria desenvolvendo GPUs para o mercado corporativo, especificamente datacenters.

Ao anunciar recentemente a BR100, produzida pela TSMC em um processo de 5 nanômetros, um projeto que consumiu anos de P&D, a Biren afirmou que ela era suficientemente potente para concorrer de frente com a Nvidia A100, reconhecida como a GPU mais poderosa do mundo. De fato, os chineses afirmaram que ela entregaria uma performance melhor em aplicações como IA e aprendizado de máquina, custando menos.

A TSMC entrou em pânico, tal declaração aberta, e publicada no site oficial, caracterizaria uma violação flagrante das sanções impostas pelos EUA. Como consequência, a empresa interrompeu completamente a fabricação da BR100 e de sua "irmã", a BR104.

Vale lembrar que devido ao bloqueio, tanto a Nvidia quanto a AMD estão proibidas de vender suas GPUs, e outras de suas tecnologias, na China.

 

A GPU BR100 prometia concorrer com a poderosa A100 da Nvidia. Prometia (Crédito: Divulgação/Biren Technology) / china

A GPU BR100 prometia concorrer com a poderosa A100 da Nvidia. Prometia (Crédito: Divulgação/Biren Technology)

Outra empresa chinesa afetada pelas sanções foi a gigante Alibaba Group, que desde o episódio em 2020 que seu ex-CEO, Jack Ma, falou mais do que devia e enfureceu o premiê chinês Xi Jinping, perdeu mais de 80% de seu valor de mercado.

Segundo fontes, o setor de tecnologia estava desenvolvendo um novo e poderoso chip gráfico de 5 nm, e que estava prestes a revelá-lo, quando a bordoada veio; a TSMC também ficaria a cargo de sua impressão.

As regras impostas pelos EUA para o bloqueio do acesso a semicondutores é específica para "componentes avançados", ou seja, mais modernos e poderosos. Os ânimos na China, como era de se esperar, são os piores possíveis. Quando as sanções foram anunciadas, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país disse que "os EUA abusaram das medidas de controle de exportação", como uma forma de assegurar artificialmente a hegemonia americana no setor tecnológico mundial.

O fato é que as companhias chinesas serão afetadas, de um jeito ou de outro, mas como sair do mercado não é opção, Biren, Alibaba e outras começaram a se adaptar à nova realidade... depreciando seus próprios designs.

Engenheiros destas e de outras companhias chinesas estão alterando as especificações de seus chips gráficos, para torná-los mais "burros" e lentos, e consequentemente, se enquadrem dentro das especificações permitidas à TSMC pelas sanções para imprimi-los.

Por exemplo, os chips que equipam a GPU BR100 possuíam originalmente, segundo a fabricante, uma taxa de transferência de 640 GB/s, mas recentemente, a Biren atualizou seu site e agora, s especificações do produto dizem que ele não ultrapassa 576 GB/s. Em tese, essa redução na performance tornaria a placa de vídeo passível de ser fabricada pela TSMC, sem que ela viole as sanções norte-americanas.

A Alibaba, através de sua divisão de semicondutores T-Head, também está revendo o design de seu chip gráfico, de modo que ele possa ser produzido, mas segundo fontes, a empreitada não só vai consumir um bom tempo, como custará US$ 10 milhões, apenas na fase de testes junto à TSMC, o que não é legal para uma empresa que anda mal das pernas desde 2020.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirma que, embora as companhias locais sejam afetadas pelas sanções, o mercado ocidental também será, por serem impedidas de vender componentes e fornecer tecnologia a um dos maiores mercados do mundo, e que isso terá consequências generalizadas. Mas por enquanto, é aguardar e ver no que essa jogada dos EUA vai dar.

Fonte: ExtremeTech

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