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"EUA não podem frear evolução de chips da China", diz ex-TSMC

Segundo ex-executivo da TSMC, sanções dos EUA não impedirão a China de produzir chips ainda mais avançados que o Kirin 9000s, da Huawei

23 semanas atrás

A China enfrenta uma série de sanções econômicas dos Estados Unidos, sendo impedida de comprar componentes de alta tecnologia para o desenvolvimento de semicondutores, motivada oficialmente pelo que chamou de "espionagem industrial" executada por companhias como Huawei e ZTE, ambas tendo fortes laços com o governo de Pequim.

O movimento é entendido por especialistas de mercado como uma tentativa de frear o avanço tecnológico chinês, que ameaça o domínio americano no setor de chips, mas segundo um ex-executivo da TSMC, companhia taiwanesa que imprime chips para a Apple e várias outras empresas, tal estratégia está "condenada ao fracasso": o País do Meio continuará evoluindo a passos largos, quer Washington queira ou não.

Segundo especialista, a China teria os meios para desenvolver chips potentes, e os EUA não podem fazer nada para impedir (Crédito: reprodução/acervo internet)

Segundo especialista, a China teria os meios para desenvolver chips potentes, e os EUA não podem fazer nada para impedir (Crédito: reprodução/acervo internet)

A declaração veio de Burn-Jeng Lin, engenheiro e hoje membro do corpo docente da Universidade Nacional Tsing Hua em Taiwan, durante entrevista concedida ao Bloomberg. Ele é considerado um guru no meio da litografia, tendo sido o primeiro a sugerir a técnica de imersão nos anos 1980, usando uma finíssima camada de água como lente, permitindo às impressoras de chips aprimorarem o processo.

Lin trabalhou por vários anos na TSMC, onde chegou à posição de vice-presidente, e suas opiniões, embora muito raras, são sempre encaradas como insigths muito bem fundamentados do setor de semicondutores. Desta vez, ele apresentou um panorama bem rico sobre o atual estágio de desenvolvimento da China em componentes como SoCs, que os EUA tentam frear, seja por impedir a concorrência ou por motivos de segurança nacional, a desculpa oficial.

O ex-executivo da TSMC explica que os atos e sanções contra companhias chinesas, especialmente ZTE, Huawei e a companhia de semicondutores SMIC, esta responsável pela impressão do poderoso chip Kirin 9000s, que para a administração Biden "não deveria existir", estão causando o efeito contrário ao esperado. Ao invés de impedir a evolução, os engenheiros chineses estão fazendo por onde para contornar as limitações comerciais, e saindo com soluções que primeiro eram depreciadas por design, mas não mais.

Um dos principais fatores é o endurecimento gradual das sanções contra a China. A Huawei, por exemplo, a princípio podia comprar certos componentes de parceiros dos EUA como a SK Hynix, que usam tecnologias americanas, até a Casa Branca decidir posteriormente que os negócios entre elas não era mais permitido.

O caso mais recente envolve os designs de certos produtos criados especificamente para o mercado chinês, por companhias como Nvidia, AMD e Intel, em observância a sanções anteriores; a nova rodada impede que mesmo estes sejam vendidos à China, o que impactou negativamente no valor de mercado de todas elas.

Outra empresa que não pode fazer negócios com a China, e considerada crítica, é a holandesa ASML, fabricante das máquinas e equipamentos de litografia avançada responsáveis pelos processadores mais poderosos do mercado, sejam x86-64 ou ARM. Lin aponta que as sanções mais recentes impedem a China de adquirir os modelos mais recentes de scanners de ultravioleta profundo, que viabilizam impressão em processos de até 5 nanômetros, mas há dois fatores que complicam a vida dos americanos.

Engenheiros chineses teriam modificado o Twinscan NXT:2000i, scanner de ultravioleta profundo da ASML, para viabilizar processos de litografia mais avançados (Crédito: ASML/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Engenheiros chineses teriam modificado o Twinscan NXT:2000i, scanner de ultravioleta profundo da ASML, para viabilizar processos de litografia mais avançados (Crédito: ASML/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O primeiro deles é a janela de tempo até as sanções entrarem em vigor, em 1.º de janeiro de 2024. Pedidos realizados antes da publicação das sanções poderão ser honrados normalmente até o fim de 2023, sem que a ASML seja repreendida por isso. A SMIC, claro, é uma das principais clientes dos holandeses.

O segundo fator envolve a expertise dos engenheiros chineses, que conseguiram modificar maquinários como o Twinscan NXT:2000i, aprimorando suas capacidades e o habilitando a operar em processos de litografia abaixo do que seria permitido pelas sanções americanas. O Kirin 9000s, por exemplo, é um chip de 14 nm que usa técnicas de produção avançadas, que segundo especialistas, o permite alcançar o desempenho de um chip nativo de 7 nm.

Com as modificações realizadas no maquinário da ASML que ela já possui, e ainda podendo adquirir novas máquinas antes que as sanções entrem em vigor, Lin afirma categoricamente que a manufatura de chips chinesa conseguirá imprimir novos chips de 5 nm em escala, e não há nada que os EUA possam fazer para impedir isso.

Segundo Lin, as sanções obrigaram a China a adotar uma estratégia nacional unificada para fomentar a evolução de seus próprios processos, por quaisquer meios necessários, uma aplicação prática do velho ditado "a necessidade é a mãe da invenção". Ambas manufaturas de chips estatais, SMIC e YMTC, caminham para se tornarem gigantes no setor de semicondutores, fazendo frente a outras empresas que imprimem chips, como TSMC e Samsung.

A médio prazo, a China teria os meios de realizar engenharia reversa no maquinário da ASML, levando à criação de equipamentos próprios que operem em litografias ainda mais baixas, chegando a 3 nm ou mesmo 2 nm em um futuro não tão distante, o que pode significar novos chips para serem consumidos internamente, mas também poderiam ser fornecidos aos países do BRICS, como Brasil, Índia e África do Sul, e também a Rússia (que tem na China hoje sua principal fornecedora de tecnologia) e futuras adições ao bloco, que incluem Irã, Emirados Árabes, Etiópia, Egito, Argentina e Arábia Saudita.

Para Lin, o que os Estados Unidos deveriam fazer, ao invés de tentar frear o avanço tecnológico chinês, e falhar miseravelmente no processo, seria investir em seus próprios designs e depender menos de fatores externos, mas companhias como Intel, Apple e cia. não querem nem ouvir falar de imprimir chips em casa, por ser um processo muito mais caro, e opções como migrar a produção para outros países, como a Índia, não são tão vantajosas assim.

Hoje, reguladores americanos questionam se as sanções impostas à China falharam em seu propósito original, quando, na verdade, elas tiveram o efeito oposto, ao alavancarem a evolução dos processos internos, o que com o tempo acirrará ainda mais a competição entre ambos países no setor de chips.

Fonte: Bloomberg

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