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Fallout e a nossa relação com franquias que amamos

Série Fallout estreia no Prime Video e um dos responsáveis pela franquia faz uma bela declaração sobre como tem sido trabalhar com ela

11/04/2024 às 9:00

Eu gostaria de dizer que adoro a franquia Fallout desde o primeiro jogo, mas se o fizesse, estaria mentindo. A verdade é que só fui me apaixonar por ela após o terceiro jogo e por adorar o fantástico universo pós-apocalíptica que nos entrega, estava bastante ansioso pela série que estreou ontem no Prime Video.

Fallout

Crédito: Divulgação/Prime Video

No geral, o que tenho visto as pessoas que já assistiram dizerem é que a série acerta ao ir além de apenas adaptar uma franquia do mundo dos videogames para outra mídia, funcionando muito mais como se fosse uma extensão dos jogos. Mas enquanto alguns fãs e parte da mídia especializada gostaram do trabalho de Jonathan Nolan, como será que ela teria sido recebido por aqueles que trabalharam na criação dos jogos?

Bom, no caso de Emil Pagliarulo, a estreia da séria serviu para que ele fizesse uma bela declaração dos anos que passou diretamente ligado à franquia. Tendo participado da produção de todos os títulos desenvolvidos pela Bethesda, ele atuou como designer chefe e roteirista no Fallout 3 e 4, além de dirigir a parte de design do Fallout 76. Quanto a série, Pagliarulo participou como consultor e usando sua conta no X, o antigo Twitter, publicou uma mensagem muito bacana sobre o seu envolvimento (não só profissional) com a marca.

Crédito: Divulgação/Prime Video

“Então, Fallout. Por favor, desculpe meu momento de introspecção, mas ver a histeria de Fallout tomando o grande mercado antes da estreia da série da Amazon tem sido tão surreal. Eu nunca poderia ter imaginado, em 2007, quando comecei a trilhar esse caminho, que ele terminaria aqui.

Nós sabíamos, no momento em que adquirimos a propriedade intelectual, não só o quanto especial ela era, mas também o quão adequado o Fallout era para o estilo RPG 1ª/3ª pessoa da Bethesda. Alguns fanáticos por visão isométrica poderiam discordar, é claro, mas milhões de felizes fãs têm se divertido demais para se importar com isso.

Num nível pessoal, o Fallout é parte de mim de uma maneira difícil de explicar. Por mais de 15 anos tive uma parte do meu cérebro, uns bons 30%, no mínimo, dividida para a desolação do pós-apocalipse.  Há um custo psicológico nisso que tive que aprender a administrar.

Mas isso não é nada perto do privilégio de ser a pessoa cujo trabalho e paixão é manter intacta a tradição do Fallout. Seja aconselhando os produtores da [série para] TV, os formidáveis desenvolvedores do Fallout 76 ou os parceiros externos, ou mesmo o pessoal pelos corredores, é a honra de uma vida.

Ocasionalmente leio algo como, ‘Ele não dá a mínima para a tradição.’ Essa é uma afirmação tão insana. Basta perguntar às pessoas que perturbei ao longo dos anos com a minha forte adesão ao cânone. Erros e discrepâncias me matam, como deveria ser.

A série, para mim, é uma espécie de impossibilidade. Não que ela tenha sido feita, mas que Jonathan Nolan e companhia tenham capturado tão bem a essência do Fallout: além do emocionante e muitas vezes bem-humorado conto de advertência, ele nos desafia a questionar o que significa estar ‘vivo’.”

Fallout

Crédito: Divulgação/Prime Video

Por se tratar de alguém tão ligado à franquia e que ajudou a produzir a série da Amazon, era de se esperar que Pagliarulo não atacasse a produção. Porém, mesmo correndo o risco de ser ingênuo aqui, confesso ter sentido que o sujeito foi sincero.

De tudo o que foi dito por ele, o que mais chamou minha atenção foi quando fala sobre como precisou separar uma parte da sua mente para aquele decadente universo, o que inclusive teria lhe afetado psicologicamente. Por mais que não tenhamos mais detalhes sobre isso, consigo imaginar como a dedicação por tantos anos a algo tão fora da nossa realidade pode acabar impactando uma pessoa.

Agora some a isso toda a dificuldade relacionada a projetos de grande porte, a pressão por entregar jogos tão complexos dentro do prazo e ter que lidar com uma enorme equipe formada por pessoas de várias culturas. Dessa forma fica mais fácil entender como os profissionais envolvidos na criação de jogos podem sofrer durante e até após seus lançamentos.

Contudo, algumas pessoas parecem não se importar com isso e na publicação de Pagliarulo é possível ver críticas ao seu trabalho, inclusive com acusações de que teria sido ele o responsável por fazer com que o Fallout 4 se tornasse um péssimo jogo.

Crédito: Divulgação/Prime Video

Como só fui conhecer a era pré-Bethesda da franquia muito depois dela ter acontecido, não me sinto em condições de discutir com aqueles que odiaram os títulos feitos pelos novos donos da marca. Eu gosto muito deles, com seus erros e acertos, mas entendo que os fãs mais antigos tenham uma resistência ao que tem sido produzido desde então e por isso nem quero entrar no mérito de as críticas serem válidas, tanto em relação aos “novos” Fallouts, quanto à série da Amazon.

Além disso, também entendo que quando alguém emite sua opinião, principalmente na internet, automaticamente abre espaço para que as pessoas discordem e desde que isso seja feito dentro da mínima civilidade, não vejo problema. O que me incomoda é a falta de sensibilidade de alguns, pois será que esse não deveria ser o momento de deixar que aqueles que ajudaram a criar tais jogos, sejam eles bons ou ruins, aproveitem o sentimento de ver a franquia alcançar um novo público?

Numa indústria que caminha quase sempre tão perto da austeridade, onde os profissionais raramente conseguem expressar seus sentimentos ou opiniões, foi bacana ver essa declaração de amor feita por Emil Pagliarulo. Daqui a alguns dias terei minha opinião sobre a adaptação feita por Nolan, mas independentemente de qual for ela, continuarei gostando dos jogos e me emocionando ao ver aqueles envolvidos na criação de games se mostrando assim, como meros seres humanos.

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