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32X, o acessório que matou o Sega Saturn

Para produtor da Sega, a criação do 32X fui um dos principais motivos que levaram o Saturn a se tornar um grande fracasso comercial

10/04/2024 às 9:48

Do alto da ingenuidade de um moleque que só queria experimentar a maior quantidade possível de jogos e se empolgava com qualquer promessa de títulos tecnicamente mais modernos, eu me empolguei com o 32X. Vendo as revistas da época, me parecia fantástica a ideia de um acessório que aproximaria o Mega Drive da próxima geração, uma saída relativamente barata para manter aquele console vivo por mais tempo. Como eu estava enganado.

32X

Mega Drive, 32X e Sega CD (Crédito: Reprodução/ Frédéric Bisson/Wikimedia Commons)

Revelado ao mundo em junho de 1994, durante a Consumer Electronics Show (CES), o 32X foi descrito pela Sega como uma porta de entrada para a quinta geração. Na época, a fabricante estava preocupada com a chegada do Atari Jaguar e do 3DO, e temendo que o Saturn só estaria disponível no ano seguinte, o “Project Mars” seria a forma de conquistar os consumidores, principalmente os ocidentais.

Inicialmente a ideia era vender o 32X como um consoles próprio, mas após a sugestão do executivo Joe Miller, da Sega of America, a empresa acabou decidindo fazer dele um upgrade para o Mega Drive.

Contando com dois processadores 32-bit, com os jogos em cartuchos, o acessório chegou ao mercado norte-americano custando US$ 159,99. Porém, a pressa da Sega fez com que sua biblioteca fosse considerada muito fraca, com a maioria dos jogos nunca chegando a aproveitar toda a capacidade daquele aparelho.

E assim como já havia acontecido com o Sega CD, outra tentativa de tornar o Mega Drive mais poderoso, o 32X também se mostrou um fracasso comercial. Das 800 mil unidades produzidas, 665 mil até chegaram ser vendidas ainda em 1994, mas encalhado nos estoques, o restante recebeu descontos generosos nos dois anos seguintes, quando a fabricante passou a focar no Saturn. No total, apenas 40 jogos foram criados para ele.

Kolibri, um exclusivo do 32X (Crédito: Reprodução/80/MobyGames)

Colocar sobre os ombros daquele aparelho toda a responsabilidade pelo mau desempenho do seu sucessor pode ser um tanto injustiço, mas quando se trata de como o público norte-americano ignorou o Saturn, Yosuke Okunari acredita que o 32X teve um grande impacto na percepção daqueles consumidores.

Trabalhando na empresa japonesa desde 1994 e atualmente respondendo como produtor criativo, recentemente Okunari publicou o livro Sega Hard Senki, onde faz um apanhado da história da companhia. Num determinado trecho, ele fala sobre a influência do 32X no console da quinta geração.

“Quando se tornou claro que o 32X era um fracasso, a Sega of America rapidamente o encerrou e se preparou para avançar no lançamento do Sega Saturn.

A Sega dedicou muita da sua capacidade de desenvolvimento ao 32X (e muito do seu estoque de hardware, já que o 32X usava o mesmo chip do Saturn) durante a temporada de vendas de fim de ano de 1994. A companhia foi incapaz de focar o suficiente em sua principal esperança, o Saturn, e não conseguiu proteger o Mega Drive na América do Norte.

Embora o sucesso do Virtua Fighter pudesse dar ao Saturn uma grande liderança no Japão, o console muitas vezes ficou sem estoque durante o primeiro ano devido à escassez de peças. Além disso, a falta de outros títulos fortes impediu que o Saturn ganhasse uma grande vantagem sobre o PlayStation. Ademais, o Mega Drive não conseguiu competir em pé de igualdade com o Super Nintendo como fazia no passado. O custo desses fracassos foi muito grande e a Sega nunca mais conseguiu derrotar seus rivais na América e na Europa.”

Hoje, sabendo como a história se desenrolou, é fácil apontar o dedo para Joe Miller, a Sega of America e o 32X, além de perceber a bagunça que a fabricante havia se tornado. Porém, se olharmos para o contexto da época, aquela aposta não chega a ser tão absurda.

Recriação do Sega Neptune, que seria uma fusão de Mega Drive e 32X, mas nunca foi lançado (Crédito: Reprodução/Daniel Rossiter/PCBWay)

Como defendido pelo vice-presidente da divisão americana da Sega, Shinobu Toyoda, e o ex-presidente da Sega Enterprises, Hayao Nakayama, o Saturn seria lançado por um valor muito alto e considerando a base instalada do Mega Drive, que controlava 50% do mercado dos Estados Unidos, permitir que as pessoas que já possuíam o console tivessem um gostinho da próxima geração gastando metade do preço era algo com potencial para chamar a atenção.

“O nosso console de 16 bits vendeu mais de dez milhões de unidades na América, então será possível para esses usuários converterem seus atuais consoles de 16 bits em um poderoso consoles 32 bits para experimentar jogos 32 bits por um preço em torno de US$ 150, ao invés de US$ 500,” explicou Nakayama.

Segundo o ex-presidente, colocar dois consoles no mercado ao mesmo tempo — o 32X nos Estados Unidos e o Saturn no Japão — poderia causar confusão nos consumidores e por isso a empresa precisava deixar claro que estava adotando essa estratégia. Porém, ao falar sobre como o 3DO estava enfrentando dificuldades do lado de cá do planeta, o executivo deu uma declaração que não foi seguida por eles mesmo: “Se você comete um erro com o lançamento no mercado americano, é muito difícil se recuperar,” disse. “O primeiro problema é que os varejistas não vendem seu produto.”

O fato é que tal estratégia não funcionou e vários outros problemas fizeram com que o Sega Saturn fosse incapaz de desafiar o videogame da Sony. No fim daquela geração, o sucessor do Mega Drive vendeu pouco mais de nove milhões de unidades, enquanto o PlayStation ultrapassou a marca dos 102 milhões e se tornou um dos consoles mais bem sucedidos da história.

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