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Unicorn Overlord — Por só mais uma batalha

Visando entregar um RPG de estratégia como os que tínhamos na década de 90, Unicorn Overlord é um título complexo, de qualidade e altamente viciante

11/03/2024 às 10:21

A primeira vez que ouvi falar na Vanillaware deve ter sido por volta de 2008, pouco depois de a desenvolvedora lançar o lindo Odin Sphere. Desde então, as criações do estúdio sempre chamaram minha atenção pela beleza visual e mundos bem construídos, e quando soube que eles estavam criando um jogo de RPG/estratégia chamado Unicorn Overlord, fiquei muito interessado em ver o que poderiam entregar. Pois a espera acabou e como ela valeu a pena.

Unicorn Overlord

Crédito: Divulgação/Vanillaware

Trazendo um conceito criado por Takafumi Noma em 2014, a ideia para o Unicorn Overlord era criar um RPG de estratégia como aqueles que tínhamos para consoles na década de 90, com a principal fonte de inspiração sendo a série Ogre Battle.

Nele assumiremos o papel do Príncipe Allain, herdeiro do trono de Cornia, um dos cinco reinos de Fevrith. Certo dia, o lugar em que moramos é invadido pelo general Valmore, que visa tomar todas as noções e criar o poderoso império de Zenoiran. Aquele poderia ser o trágico fim do herdeiro ao trono, mas o destino tinha algo muito maior reservado para o menino.

Por ordem da rainha Ilenia, o guarda-costas Josef foge com o garoto, enquanto Cornia fica sob o controle do terrível vilão. E assim como deve ter acontecido com Noma durante o desenvolvimento do jogo, pela década seguinte o protagonista se dedicaria a aperfeiçoar sua técnica, viver praticamente isolado e apostar tudo na realização um sonho.

Mas no caso de Allain, o agora rapaz poderia contar com um artefato misterioso e que se mostra muito importantíssimo para sua saga, o Anel do Unicórnio. Com a joia (e o status de um monarca), ele daria início ao Exército da Libertação, um grupo formado por soldados e mercenários cujo objetivo será derrotar o déspota que aterroriza Fevrith.

Sendo sincero, a premissa de Unicorn Overlord pode não ser das mais originais, mas eu não diria que ela não é interessante e o principal motivo está nos personagens. Ao longo da aventura nos depararemos com uma quantidade imensa de pessoas que poderão ser recrutadas para a nossa causa, algumas inicialmente aparecendo como inimigos, outras sempre alinhadas com a nossa luta.

Crédito: Divulgação/Vanillaware

Contudo, por mais que a trama do jogo seja suficiente para nos manter entretidos, é no seu sistema de batalha em que ele realmente brilha. E digo isso após um estranhamento inicial, já que eu esperava algo bem diferente do que Takafumi Noma e a Vanillaware nos entregou.

O motivo do meu espanto em relação à jogabilidade está no fato que ao iniciarmos uma batalha nos tornaremos meros espectadores, com os personagens realizando todas as ações previamente estabelecidas. Se você jogou o Final Fantasy XII, certamente lembra do sistema conhecido como Gambit e é parecido com ele que o Unicorn Overlord funcionará.

Desta forma, os personagens que estiverem no nosso grupo recuperarão a energia dos companheiros caso ela chegue num certo nível, desferirão golpes especiais com base em critérios que definirmos previamente, defenderão os aliados e assim por diante.

Como o jogo escolhe esses parâmetros automaticamente, num primeiro momento pode parecer que nem precisamos estar ali, mas conforme novas unidades forem desbloqueadas e em níveis de dificuldades maiores, um bom planejamento fará toda a diferença.

Crédito: Divulgação/Vanillaware

Outro fator que mudará o equilíbrio das batalhas está na maneira como dispomos as unidades no “tabuleiro” formado por duas linhas e três colunas. Por exemplo, se você possui um arqueiro na equipe, é melhor deixá-lo protegido na fileira de trás, preferencialmente com um soldado a sua frente para lhe proteger dos ataques dos inimigos.

Já na parte ofensiva, você pode optar por atacar os inimigos que estiverem na fileira de trás, após os da frente terem sido abatidos. Isso pode ser definido na tela de táticas, com inúmeras opções podendo ser escolhidas. Esse lugar pode ser considerada o coração do jogo, mas aqueles sem muita paciência (ou talento estratégico) podem simplesmente jogar nas dificuldades inferiores e não terem que se preocupar muito com tantos detalhes.

As batalhas também contam com uma mecânica no estilo pedra, papel e tesoura, onde algumas unidades terão vantagens sobre outras, mas se mostrarão vulneráveis a uma terceira. Assim, um personagem aéreo poderá derrotar uma cavalaria facilmente, enquanto um brutamontes praticamente só será atingido por alguém capaz de lançar magias. O interessante é que não poderemos usar sempre a mesmo grupo para lutar, pois eles se cansam e isso incentiva uma rotação de personagens a serem levados para os confrontos.

Ao todo temos cinco classes principais, cada uma contando com diversas subclasses e como o jogo está sempre nos apresentando a novos personagens, a curiosidade em saber quem será nosso próximo inimigo ou aliado faz com que avançar pela campanha nunca se torne algo enfadonho.

Por mais que os combates aconteçam de forma automática, a satisfação por conseguir montar um grupo equilibrado e ver seu desempenho após predefinir como atuará é muito recompensadora. A forma como o jogo também está sempre nos ensinando algo novo e como isso é feito merece elogios, com o ponto negativo sendo apenas a falta de localização para a português. Por se tratar de um título com tantas informações, quem não domina o inglês infelizmente poderá ficar perdido na enxurrada de textos, termos e personagens.

Unicorn Overlord

Crédito: Divulgação/Vanillaware

Porém, se tem algo que realmente me desagradou é a tela que antecede as batalhas. Nela temos um resumo do que encontraremos quando os dois lados se enfrentarem e por ali é possível sabermos qual será vencedor. Com isso podemos decidir qual dos nossos grupos entrarão na luta, caso dois ou mais estejam próximos dos inimigos, o que evita mandarmos guerreiros inadequados para a morte certa.

No entanto, é difícil não ver o recurso como uma espécie de spoiler, fazendo com que as animações das batalhas sejam quase dispensáveis. Na verdade, podemos até pulá-la ao apertar um botão, indo direto para a tela de resultado do confronto. De qualquer forma, tal informação acaba facilitando muito nossa vida, para o bem ou para o mal.

Gostando ou não dessa informação prévia sobre o desfecho de cada luta, um ponto positivo do Unicorn Overlord está no seu sistema de missões, com as principais nos colocando em regiões que funcionam como um pequeno estágio. Neles teremos que cumprir alguns objetivos para termos sucesso, como derrotar uma figura importante, não termos nossa base tomada ou não estourar o tempo.

Realizar essas tarefas nos darão experiência, dinheiro, itens e honra, algo necessário para podermos aumentar a quantidade de unidades em cada esquadrão ou mesmo poder colocar mais delas no mapa. Logo poderemos marchar pelos estágios com vários grupos ao mesmo tempo, cada um melhor ou mais mal-adaptado para enfrentar os perigos pelo caminho.

Já fora dessas missões, poderemos andar livremente pelos mapas, procurando por recursos que serão utilizados para reconstruir as cidades, explorando construções abandonadas ou mesmo conversando com alguns personagens para obtermos informações da região ou até novas missões. O que não falta em Unicorn Overlord são coisas para nos manter ocupados.

Unicorn Overlord

Crédito: Divulgação/Vanillaware

Tecnicamente, estamos falando de um trabalho típico do pessoal da Vanillaware. Enquanto a trilha sonora brilha com músicas que se encaixam perfeitamente com o estilo de fantasia do jogo, os gráficos estão entre os mais bonitos já feitos para um jogo 2D. Com um nível de detalhe absurdo e muito colorido, os fundos das batalhas sempre reproduzem o ambiente em que estamos, passando a sensação de que cada encontro foi trabalhado meticulosamente. Os personagens também são muito bonitos, com os principais entregando características que os tornam únicos.

Contudo, talvez a principal qualidade do Unicorn Overlord também poderá ser vista por alguns como um defeito. Aqui não temos um jogo vendido para as massas, que tenta agradar a todos adotando elementos que certamente o tornaria mais popular. Esse é um trabalho específico para um nicho, pessoas que gostam de jogos de estratégia e que procuram imergir num mundo repleto de conteúdo e nuances.

Isso faz com que a criação de Takafumi Noma não possa ser indicada para qualquer pessoa. Porém, se você gosta do estilo e sente falta de títulos assim — muito bem-acabado, complexo, nunca soando injusto e não se importa com uma narrativa mediana —, provavelmente encontrará no Unicorn Overlord uma aventura inesquecível. Só me arrependo por não ter pegado a versão para Nintendo Switch (joguei no PlayStation 5), pois acredito que algo assim combina perfeitamente com um portátil.

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