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Pacific Drive — Se minha station wagon falasse

Mais um a se aventurar pelo mercado de jogos de sobrevivência, Pacific Drive se destaca por dois aspectos: sua atmosfera sombria e o carro que dirigimos

27/02/2024 às 10:05

Com tantos jogos de sobrevivência inundando o mercado, as desenvolvedoras precisam apostar em ideias diferentes para tentar se destacar. Isso pode acontecer através da ambientação, de mecânicas inovadoras ou oferecendo equipamentos inusitados e no caso da Ironwood Studios, a proposta para seu projeto chamado Pacific Drive foi nos colocar a bordo de um antigo e, acredite, simpático carro.

Pacific Drive

Crédito: Divulgação/Ironwood Studios

Título de estreia do estúdio independente, nele somos enviados à Olympic Exclusion Zone (OEZ), uma região localizada no noroeste dos Estados Unidos e que foi criada após uma série de experimentos que deram errado. Para afastar as pessoas do lugar, o governo construiu um enorme muro e aqueles que entram nesta zona de exclusão nunca mais são vistos.

Devido à radiação, a OEZ ficou conhecida pelas bizarras e imprevisíveis anomalias que surgem por todos os lados, forças sobrenaturais da natureza que fazem com que se aventurar por lá seja extremamente perigoso. Mas como acabamos caindo nessa armadilha, a única solução será buscar uma maneira de fugir, o que obviamente não será uma tarefa fácil.

E aquilo que poderá nos servir como uma tábua de salvação é um abandonado, deteriorado e aparentemente indefeso carro, uma station wagon que parece ter saído diretamente de um filme de Harold Ramis em que uma família norte-americana sai em Férias Frustradas.

Já neste primeiro encontro seremos apresentados àquela que pode ser considerada a principal mecânica de Pacific Drive: a manutenção do veículo. Com um dos seus pneus faltando, teremos que encontrá-lo nos arredores, fazer sua instalação e depois providenciar um remendo. Só então poderemos colocar o carro em movimento, o que exige até mesmo engatar a marcha e ligar o motor.

A station wagon ainda nos permitirá interagir com outros itens, como ligar o limpador de para-brisas, os faróis, o rádio e posteriormente, verificar um mapa digital que será fundamental para nos localizarmos. Já no exterior, será preciso realizar a manutenção dos paralamas, capô, portas e para-choques, tudo para termos uma maior chance de sobrevivência quando estivermos numa incursão.

Pacific Drive

Crédito: Divulgação/Ironwood Studios

Isso nos leva a uma segunda característica importante do Pacific Drive, que é a sua estrutura como um roguelike — ou como o pessoal do Ironwood Studios prefere chamar, um “road-lite”. Conforme conversamos pelo rádio com algumas pessoas que também estão na OEZ, seremos motivados a explorar a região. Isso acontecerá visitando certos lugares no mapa e que funcionam como pontos de junções.

Funcionando como fases geradas aleatoriamente, esses lugares normalmente são formados por algumas construções aqui ou ali, estradas e muitas ameaças. Nas casas, trailers, torres e veículos poderemos encontrar itens que serão usados para construir alguns equipamentos, recuperar a nossa energia ou consertar o carro.

Os perigos por sua vez poderão se apresentar como máquinas que tentarão nos aniquilar, algumas anomalias ou até mesmo as condições climáticas. Com o tempo sendo muito instável na OEZ, será comum termos que explorar a região sob uma forte chuva e se isso acontecer a noite, você agradecerá por ter ao menos um dos faróis funcionando.

O detalhe é que quase tudo o que fazemos no carro consome sua bateria, então, será inteligente andar sempre com um item que pode recarregá-la. Outro procedimento altamente recomendável é desligar os faróis ou o rádio quando sair do carro e eu também me certificaria de desligar o motor quando sair a pé para verificar algum lugar.

Pacific Drive é, acima de tudo, um jogo de gerenciamento de recursos e por isso, a maneira como cuidamos do carro será muito importante para termos sucesso. Ah, e não se esqueça de acionar o freio de estacionamento quando sair, afinal, ninguém quer ver seu tão amado veículo descendo uma rua descontroladamente.

Mas além dessa atenção dada à station wagon e a satisfação que sentirmos ao vê-la evoluindo, algo que torna o jogo tão viciante é a imprevisibilidade que ele nos proporciona. Imagine que você precisa ir de um ponto A para o C e que ante de chegar ao objetivo, terá que passar pela junção B. Cada vez que tiver que fazer esse percurso, a primeira parada terá suas construções dispostas de formas diferentes, fruto da instabilidade causada pela radiação.

Isso faz com que cada incursão seja única, sem nunca sabermos ao certo o que encontraremos pelo caminho. Assim, será fundamental buscarmos recursos como combustível ou criar a massa usada para consertar o carro e por mais que visualmente as junções não difiram muito entre si, a sensação é de sempre estarmos visitando um lugar novo.

Crédito: Divulgação/Ironwood Studios

Some a isso a maior ameaça que podemos encontrar nessas viagens, que são as tempestades conhecidas como Zone Storm. Ver aquela enorme massa avançando pelo mapa digital presente no carro é algo assustador, mas é quando ela nos alcança e a vemos pelo retrovisor é que temos uma real noção de como a Olympic Exclusion Zone é um lugar aterrorizante. Nesses momentos, eu só preferia estar a bordo de um esportivo e não de uma banheira motorizada.

A boa notícia é que, assim como a maioria dos jogos do gênero, Pacific Drive também nos dará outras oportunidades caso sejamos derrotados. Por algum motivo misterioso, sempre apareceremos novamente na nossa “base de operações”, podendo organizar tudo para logo depois partirmos para uma nova incursão.

Por padrão, essas derrotas representarão a perda de itens que coletamos naquela tentativa, mas o jogo nos permite alterar o quão punitivos serão esses insucessos. Neste caso, o maior prejuízo mesmo será o tempo gasto. Porém, cada vez que nos arriscamos longe da nossa base costuma representar um aprendizado, ensinamento que poderá nos salvar numa próxima viagem.

Quanto a brincadeira que fiz em relação à lentidão do nosso carro, eu preciso ser justo. Com o tempo aquele veículo presente em Pacific Drive acabou se tornando um dos meus companheiros favoritos dos games. Ele não é bonito, não conta com uma inteligência artificial que vive fazendo piadinhas com a situação, muito menos é tão rápido ou poderoso quanto um dragão. Mesmo assim, aquela station wagon nos ajuda tanto, que foi fácil me apegar a ela, com os incrementos feito à sua parte estrutural me satisfazendo até mais do que em algum loot shooter ou num Diablo-like.

Pacific Drive

Crédito: Divulgação/Ironwood Studios

Contudo, não são apenas elogios que preciso fazer à criação da Ironwood Studios. O primeiro deles diz respeito ao desempenho do jogo, que em um PlayStation 5, por vezes, chega a ser sofrível. Com a taxa de atualização de frames despencando em várias situações, esse foi um aspecto que me incomodou, principalmente por não se tratar de um título que busca um fotorrealismo.

Eu também estranhei como as fases (ou junções) podem parecer vazias e por muitas vezes me peguei pensando como a presença de outras pessoas naqueles lugares poderia tornar tudo mais assustador. Talvez isso não aconteça porque os desenvolvedores não queriam criar um jogo de tiro em primeira pessoa, o que entendo. Porém, a ausência de outros exploradores fez com que sair do carro não parecesse tão assustador quanto eu imaginava.

Isso não quer dizer que o jogo não seja tenso, pois os efeitos sonoros são bem aterrorizantes e estamos sempre temendo perder aquilo que suamos para coletar. E como cada incursão pode passar facilmente de uma hora, sem a possibilidade de salvar o progresso enquanto estamos fora da base, o medo de ter que repetir a exploração será constante.

Contudo, tenho que elogiar a direção artística adotada pelo estúdio, capaz de nos passar a impressão de estarmos numa série de suspense dos anos 80 ou 90, ou de volta à City17 do Half-Life 2. Sem falar na fantástica trilha sonora composta por Wilbert Roget II, que ajuda a tornar a atmosfera da Olympic Exclusion Zone ainda mais memorável.

Pacific Drive

Crédito: Divulgação/Ironwood Studios

Ao tirar o foco no personagem do jogador e implementar um relativamente complexo sistema de melhoria para o carro, fazendo com que ele seja nossa única chance de fuga da zona de exclusão, os desenvolvedores conseguiram criar um título de sobrevivência muito interessante, capaz de conquistar até quem não gosta muito do gênero.

Eu mesmo já falei algumas vezes como ando farto de roguelikes e embora o Pacific Drive seja um típico representante de títulos assim, em momento algum me senti desmotivado a continuar após ter sucumbido aos perigos da OEZ. É um jogo com ótimas ideias muito bem implementadas, desafiador e instigante na medida certa.

Com ele percebi que nunca imaginei que seria tão divertido embarcar numa viagem cheia de contratempos enquanto dirigia um carro caindo aos pedaços.

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