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Top Racer Collection — Mad Racer

Trazendo a trilogia Top Gear e o inédito Crossroads, Top Racer Collection é um belo presente aos fãs e uma ótima maneira de reviver o passado

04/03/2024 às 12:00

Se você entrasse numa locadora de games na primeira metade da década de 90, provavelmente ouviria uma música inconfundível tocando em alguma das TVs alugadas por hora. Tratava-se da trilha sonora de um jogo de corrida adorada pelos brasileiros, seu nome? Top Gear. Mais de três décadas depois, aquele clássico está de volta, através da Top Racer Collection.

Top Racer Collection

Crédito: Divulgação/QUByte Interactive

Desenvolvido pela Gremlin Graphics e lançado para o Super Nintendo em 1992, Top Gear seria uma tentativa de o programador Ritchie Brannan criar um jogo de corrida e para isso, ele buscou inspiração em títulos como Out Run, Pitstop, Pole Position e principalmente, Lotus Esprit Turbo Challenge.

Na época em que estava produzindo o jogo, Brannan dividia um escritório com Shaun Southern, cofundador da Magnetic Fields, empresa que estava desenvolvendo o jogo baseado na marca inglesa de carros e lançado para o Amiga. Isso aproximou as equipes e algumas pessoas que ajudaram a criar o Lotus, também participaram do Top Gear.

E a semelhança entre aqueles jogos estão por todas as partes. A jogabilidade, a tela dividida na horizontal, a trilha sonora... Aliás, várias músicas ouvidas no título para Super Nintendo são versões remixadas daquelas presentes no Lotus Esprit Turbo Challenge e existe uma explicação para isso.

Compostas por Barry Leitch, o inglês foi contratado pela Gremlin Graphics para criar as faixas do Top Gear, mas com um importante detalhe: teria apenas uma semana para fazer isso. Com uma grande dificuldade em entender o hardware do Super Nintendo, ele só conseguiu produzir uma faixa, a Mad Racer, tema da pista de Las Vegas e que, curiosamente, se tornou a mais conhecida do jogo.

Porém, Leitch precisava terminar o serviço e para ganhar tempo, decidiu remixar várias músicas criadas para o jogo do Amiga. Ele então aproveitou os oito canais de áudio do SNES para fazer novos arranjos e um exemplo de sua genialidade é a faixa que toca na tela título do Top Gear, uma versão modificada daquela que podemos ouvir no fim do Lotus Turbo Challenge 2.

No jogo tínhamos que escolher entre quatro veículos, cada um com características distintas como velocidade máxima, aderência dos pneus e consumo de combustível. Por sinal, a necessidade de reabastecimento em algumas pistas era algo com o que não estávamos acostumados a ver em um jogo, o que adicionava uma camada de estratégia às corridas e servia como um belo diferencial.

Ao todo, tínhamos 32 pistas à nossa disposição, com elas espalhadas por vários países e o nível de dificuldade aumentando conforma avançávamos pelos campeonatos. Nas provas teríamos que competir com outros 19 corredores e mesmo se estivéssemos jogando sozinhos, a tela seria dividida ao meio, com a parte de baixo ficando para um adversário controlado pelo computador.

Contudo, o grande apelo do Top Gear estava mesmo nas partidas multiplayer. Como citei inicialmente, nas locadoras era comum vermos duas pessoas disputando campeonatos para saber quem sairia como o grande campeão, o que quase sempre fazia surgir um aglomerado de espectadores — e muitas vezes, torcedores.

A soma desses elementos fez surgir uma febre no Brasil, com o jogo criado por Ritchie Brannan se tornando muito mais popular por aqui do que em qualquer outro país. Mesmo no Japão, onde era conhecido como Top Racer, ele nunca foi tão adorado e por isso não surpreende esse retorno da série ter partido de um estúdio brasileiro, o QUByte Interactive.

As melhorias da coleção

Top Racer Collection

Crédito: Divulgação/QUByte Interactive

Chegamos então ao Top Racer Collection, pacote com versões para PC, Xbox One, Xbox Series S|X, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch. Nele teremos acesso a quatro jogos e aqueles que conhecem a série podem estar estranhando duas coisas: por que a mudança no nome e de onde surgiu esse quarto jogo? Afinal, só três capítulos foram lançados.

Quanto a primeira pergunta, a resposta é simples. Por usar o mesmo nome da famosa série de TV estrelada por Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May, e que detêm os direitos autorias sobre a marca, a coletânea precisou recorrer ao título japonês. Na prática, isso não muda muita coisa, exceto por o nome Top Gear ser muito mais conhecido por nós, brasileiros.

Já em relação à segunda questão, a explicação está numa bela iniciativa do pessoal da QUByte Interactive: o inédito Top Racer Crossroads. Embora seja descrito como “um novo jogo após 30 anos”, na verdade, estamos falando de uma modificação do primeiro, apenas com quatro carros inéditos, incluindo aí o famoso “Carro da Firma”, que nada mais é do que o um Fiat Uno com direito a escadas no teto a capacidade de alcançar apenas  310 km/h.

Alguns poderão considerar o conteúdo irrelevante, mas ele não deixa de ser uma boa maneira de atrair o público e aumentar mais um pouco a vida útil do Top Racer Collection. Acho que seria muito legal se o Crossroads trouxesse novas pistas, mesmo que viessem do Top Gear 2 ou Top Gear 3000, assim como poder jogar sem a tela dividida. Porém, entendo que isso não seria algo fácil de implementar, se é que seria possível.

Crédito: Divulgação/QUByte Interactive

Por falar em conteúdo adicional, o estúdio brasileiro não economizou ao entregar formas de nos entreter. Nesta coletânea teremos acesso a um player onde poderemos ouvir as memoráveis músicas compostas por Barry Leitch, além de uma galeria com imagens dos manuais dos três primeiros jogos.

Como de costume em relançamentos de clássicos daquela época, em Top Racer Collection poderemos jogar usando filtros que imitam TVs antigas. Particularmente, nunca gostei desse recurso, mas para quem prefere jogar assim, saiba que ele está presente.

Quanto aos modos de jogos, as campanhas dos jogos originais estão de volta, mas agora temos acesso também ao Time Attack, corridas rápidas ou a um muito bem-vindo Custom Cup. Como o próprio nome dá a entender, nele poderemos montar os campeonatos como quisermos, escolhendo até quatro pistas para enfrentar o computador ou nossos amigos.

O multiplayer também recebeu uma bela adição, já que as partidas podem ser disputadas online e um modo ranqueado nos colocará para competir com pessoas de todo o mundo. Sem exagero, acredito que só isso já seria um ótimo motivo para encarar o Top Racer Collection.

Sem tanto carisma, mas com suas qualidades

Crédito: Divulgação/QUByte Interactive

Embora eu seja um fã do primeiro Top Gear, nunca gostei muito das suas continuações. Eu até cheguei a jogá-los na época, mas estaria mentindo se dissesse que tenho carinho pelo Top Gear 2 ou Top Gear 3000. Na verdade, nem lembrava muito deles e essa coletânea serviu para entender o porquê.

Neles a melhoria na jogabilidade é bastante perceptível, com a física funcionando de maneira bem mais realista que no título que deu início à série. Se no Top Gear podíamos fazer quase todas as curvas sem tirar o “pé do acelerador”, nas duas continuações o uso do freio será muito mais constante e considero isso positivo.

Porém, esses jogos contam com carros um tanto genéricos, sem todo aquele apelo visual do quarteto formado pelos lendários Cannibal, Sidewinder, Razor e Weasel. No caso do Top Gear 3000 esse problema é ainda maior, pois ao se passar no futuro, o jogo nos coloca a bordo de um veículo futurista muito, mas muito feio.

Crédito: Divulgação/QUByte Interactive

A favor desses dois jogos está a possibilidade de fazermos upgrades em algumas peças, algo que será fundamental para termos alguma chance de vitória, especialmente nas corridas mais avançadas. Esses upgrades são uma boa adição, mas que não apaga a sensação de estarmos diante de títulos sem muitas inovações.

Isso não quer dizer que tais títulos sejam dispensáveis, mesmo porque a coletânea ficaria incompleta sem elas. Porém, sei que quando ligar o console e iniciar o Top Racer Collection, quase sempre passarei a maior parte do tempo no primeiro jogo. Pura, nostalgia? É possível, mas o fato é que ainda considero aquele um dos mais divertidos jogos de corrida já criados, com seus gráficos e trilha sonora sendo capazes de abrir um portal e me transportar direto para a locadora que frequentava na minha adolescência.  

A QUByte Interactive ter conseguido os direitos para relançar esses jogos é algo que devemos comemorar, com o cuidado aplicado nesse projeto servindo para mostrar a paixão das pessoas envolvidas por aqueles jogos. Lá fora a série pode não ser tão cultuada quanto aqui, mas como alguém que passou tanto tempo correndo nas pistas do primeiro Top Gear, ter a oportunidade de reviver aquela experiência foi algo sensacional!

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