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Smalland — Gulliver, grande desafio e sobrevivência

Nos colocando na pele de um ser minúsculo, Smalland: Survive the Wilds é um imersivo e desafiador jogo de sobrevivência, onde (quase) tudo quer nos devorar

19/02/2024 às 9:55

Quando lá no século XVIII Jonathan Swift criou As Viagens de Gulliver, o escritor irlandês provavelmente não tinha noção disso, mas influenciaria várias outras obras. Muito por causa daquela história, a ideia de pessoas minúscula tem fascinado gerações e um jogo que se baseia nesse conceito é o Smalland: Survive the Wilds.  

Smalland: Survive the Wilds

Crédito: Divulgação/Merge Games

Criação da Merge Games, Smalland: Survive the Wilds passou por quase um ano em Acesso Antecipado e além da sua versão “final” para PC, agora ele chega ao PlayStation 5 e Xbox Series S|X. Podendo ser descrito como um jogo de sobrevivência em mundo aberto, está na sua ambientação e história o grande diferencial para outros títulos do gênero.

Nele seremos um Pequenino, uma espécie que habita a Terra desde muito antes dos Gigantes e que por séculos viveu livremente na superfície. Isso mudou com o surgimento da humanidade, mas como agora ela se foi, sair das profundezas voltou a ser possível.

Faezndo parte de um grupo conhecido como Vanguarda, teremos que encarar uma urgente missão, mas logo no início ficará muito claro o quanto isso será perigoso. Devido ao nosso tamanho, quase tudo em Smalland: Survive the Wilds se colocará como uma ameaça em potencial, das muitas formas de vida que habitam o local até uma simples poça d’água, que mais parece um enorme lago.

Aliás, a água terá um papel fundamental na jogabilidade, já que o nosso personagem não sabe nadar e durante a exploração teremos que traçar nossos caminhos levando os rios e “lagos” em consideração. Ter que caminhar por minutos e correr o risco de ser devorado vivo só para contornar esses obstáculos é algo que ajuda a aumentar a sensação de estarmos sermos um pequeno explorador.

Smalland: Survive the Wilds

Crédito: Divulgação/Merge Games

No jogo, a nossa aventura começa após nosso grupo ser atacado por uma vespa e apesar de um tutorial nos guiar, passei vários minutos tentando descobrir como poderia aumentar a minha chance de sobrevivência naquele ambiente tão hostil. Nessa etapa inicial, meu foco foi encontrar algo para comer, uma maneira de curar meus ferimentos e materiais para produzir uma arma.

Com o tempo passei a me sentir mais seguro, o que me levou a incursões mais longas na floresta, até que me deparei com a primeira formiga. Num combate que pareceu durar horas, eventualmente derrotei o inseto, mas naquele momento ficou claro para mim o quão assustador pode ser o mundo de Smalland: Survive the Wilds e não só pelos inimigos que encontramos pelo caminho.

O problema é que apesar deles se basearem na mecânica da série Dark Souls, os combates parecem muito travados, longe do brilhantismo entregue pelas criações da FromSoftware. Além disso, mesmo após horas evoluindo meu personagem, a sensação é de que ele continua muito fraco, causando pouco dano mesmo nos seres mais insignificantes e sendo um alvo fácil, principalmente para insetos voadores.

Por um lado, confesso ter gostado dessa vulnerabilidade extrema, pois ela reforça a ideia de como um homem com cerca de 15 cm de altura pode ser uma presa frágil para uma aranha, um besouro ou um lagarto. Mas por outro, não deixa de ser frustrante percorrer uma longa distância e perder tudo o que tinha coletado após ser caçado por algumas vespas.

A solução para contornar esse problema é construir camas de tempos em tempos, já que elas funcionarão como checkpoints. Além disso, o jogo nos dá a possibilidade de não perder o conteúdo da mochila ao morrermos ou jogar no modo pacifista, onde os inimigos só nos atacarão caso façamos isso antes.

Porém, apesar desses recursos tornarem a progressão muitos mais fácil, eles eliminam a principal qualidade do Smalland: Survive the Wilds, que é nos fazer sentir vulnerável num mundo onde quase tudo é muito maior e mais forte que a gente. De qualquer forma, é bom existir essas opções e para quem não quer se estressar muito, jogar sem tantas ameaças ajudará bastante.

Smalland: Survive the Wilds

Crédito: Divulgação/Merge Games

Mas independentemente de preferir viver com um alvo nas costas ou caminhar entre os predadores sem ser incomodado, saiba que em sua essência, o jogo funciona como muitos outros do estilo. Isso significa termos que preparar refeições em uma fogueira, construir uma base de operações ou coletar recursos para atacar e nos defender. Isso ocupará uma grande parte do nosso tempo, principalmente se estivermos jogando sozinhos, mas saiba que até dez pessoas poderão dividir uma mesma partida.

Contudo, fiquei surpreso ao entender que aqui não teremos como objetivo apenas sobreviver. A Merge Games preparou uma campanha realtivamente complexa para nos motivar, com uma historinha servindo como pano de fundo e inclusive contando com um sistema de facções. Isso nos levará a explorar o mapa e visitar outros Pequeninos que nos darão missões e que nos aproximarão cada vez mais do mundo dos Gigantes.

É interessante perceber como o estúdio, localizado na Inglaterra, aproveitou várias lendas europeias para construir o mundo do Smalland: Survive the Wilds. Os próprios Pequeninos podem ser comparados a fadas, o que fica mais claro quando conseguimos construir asas e assim podemos planar pelo mapa.

Também gostei da possibilidade de domar criaturas, sendo que algumas, como os gafanhotos, lagartixas e libélulas (ou libelinhas) podem ser montadas. Assim as viagens poderão acontecer de forma mais rápida e mais segura, mas o ponto negativo aqui está na velocidade em que a estamina desses bichos se degrada. “Conquistar” um desses animais é algo difícil, então penso que eles deveriam nos render mais vantagens.

Smalland: Survive the Wilds

Crédito: Divulgação/Merge Games

Outro aspecto do jogo que merece elogios é o seu sistema de mudanças climáticas. Em condições normais, as chuvas não serão uma grande ameaça, mas como o mundo conta com estações do ano, espere até chegar o período de tempestades. Durante esses eventos será imprescindível conseguirmos abrigo, já que o frio, os relâmpagos e o vento diminuirão nossa energia rapidamente.

Mas se a imersão e a atmosfera de fantasia proporcionada pelo Smalland: Survive the Wilds se destacam positivamente, o mesmo não pode ser dito da parte de construção. O simples ato de posicionar uma parede ou telhado para criarmos um abrigo muitas vezes se mostra um desafio quase tão grande quanto derrotar um enorme besouro-rinoceronte.

Talvez isso não seja um problema no PC, onde pode ser que a dupla teclado e mouse facilite o processo, mas no PlayStation 5, muitas vezes perdi a paciência ao tentar construir algo parecido com uma casa. Para piorar, as bancadas, baús e camas que montarmos se deterioram caso fiquem expostas ao tempo, então será fundamental proteger essas criações.

Jogos de sobrevivência, a velha-nova febre

Nightingale

Tela do Nightingale (Crédito: Divulgação/Inflexion Games)

A indústria de games pode ser descrita como uma praia, com as ondas quebrando na areia e se ressurgindo com o passar do tempo. Pois o estilo que está no pico atualmente é o dos jogos de sobrevivência. Palworld, Enshrouded e Smalland: Survive the Wilds são alguns dos jogos assim lançados recentemente, com outros como Pacific Drive, Nightingale e Road to Vostok estando prestes a sair e despontando como possíveis próximos grandes sucessos.

Embora títulos assim não seja novidade, com o Minecraft sendo um dos primeiros jogos de sobrevivência a atrair a atenção do grande público, não há dúvidas de que eles estão novamente em evidência. Até quando essa nova leva durará, é difícil saber, mas até que outro gênero assuma o protagonismo, deveremos ver vários projetos que nos colocam para sobreviver em ambientes hostis buscando seu lugar ao sol.

Quanto ao Smalland: Survive the Wilds, a criação da Merge Games provavelmente não terá um grande lugar de destaque entre os vários jogos de sobrevivência disponíveis no mercado. Porém, isso não quer dizer que ele não tenha seus méritos e que as boas ideias implementadas pelo estúdio não mereçam elogios.

Da bela ambientação à trilha sonora que faz com que sintamos estar num belo filme de fantasia, esse jogo possui conteúdo para nos manter entretidos por muitas horas, um nível de desafio bem alto e se encarado na companhia de amigos, a experiência proporcionada pode se tornar muito mais divertida. No mais, ver o mundo pela perspectiva de alguém tão pequeno é algo que fascinava no século XVIII e que provavelmente continuará fascinando mesmo daqui a 300 anos.

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