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Star Ocean: desafiando gigantes no espaço

Conseguindo levar o Super Nintendo ao limite, Star Ocean foi um RPG que ousou encarar as franquias da Square e Enix, e obteve sucesso nisso

1 ano e meio atrás

Em meados dos anos 90, o mercado de RPGs para consoles era dominado por duas empresas, Square e Enix. Conseguir encontrar um espaço entre elas era um desafio quase impossível, mas um estúdio recém-formado ousou fazer isso e assim nasceu o Star Ocean, um título que levaria o Super Nintendo ao limite.

Star Ocean

Crédito: Reprodução/Enix

O ano era 1994 e um jovem programador chamado Yoshiharu Gotanda propôs aos seus superiores a criação de um ambicioso RPG. Intitulado Tale Phantasia, o projeto do Wolf Team precisaria de uma editora e para isso os donos do estúdio começaram a procurar um parceiro. Após a Enix recusar um acordo, foi a Namco quem aceitou investir na ideia, começando ali os problemas.

Com muitas discordâncias criativas entre as partes, o que resultou inclusive na demissão de boa parte da equipe e na mudança do nome do jogo para Tales of Phantasia, o lançamento teve que ser adiado para 1995. Então, quando o título finalmente chegou às lojas, vários dos principais nomes da desenvolvedora pediram demissão e fundaram o estúdio tri-Ace.

Sedentos por aperfeiçoar algumas ideias que foram implementadas no trabalho anterior, a equipe iniciou outro projeto. “Achamos que os sistemas de itens e habilidades ficaram meio genéricos e não distintos o suficiente de outros RPGs,” declarou o game designer, Masaki Norimoto.

Assim, os responsáveis pelo desenvolvimento dedicariam os próximos meses a tornar a jogabilidade mais complexa, criando o que ficou conhecido como Private Action. Com esse sistema a intenção era tornar os personagens mais interessantes, com suas histórias se desenrolando de acordo com as ações do jogador.

Levando em consideração o nível de afinidade entre os personagens do nosso grupo, até o final da aventura poderia ser alterado conforme as decisões que tomássemos ao longo da história. Segundo Norimoto, eles queriam “fazer um jogo em que o jogador pudesse ser tão criativo quanto desejasse e jogasse em qualquer estilo que gostasse.”

Sem querer passar a impressão de que haveria um caminho certo e outro errado a ser seguido, a equipe da tri-Ace desenvolveu um sistema que funcionava sem o nosso conhecimento e distribuía pontos para nossas ações. Eles então decidiram ambientar a história no espaço, para assim torná-la muito maior que a vista no Tales of Phantasia.

♫ And the stars look very different today ♪

Crédito: reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Após a humanidade ganhar o espaço ao desenvolver uma tecnologia de motores de dobra, ela se instalou num planeta conhecido como Roak. Habitado basicamente por uma raça chamada Fellpool e que se parece com gatos humanoides, até então não sabíamos da existência de outras formas de vida inteligentes.

A história de Star Ocean começa em Kratus, uma pequena vila localizada naquele planeta e onde vivem os amigos Ratix, Dorn e a jovem Milly. Certo dia, o pai da garota parte em direção à cidade de Coule, onde uma misteriosa praga tem transformado os moradores em pedra. Ao descobrirem que o sujeito também foi infectado, o trio decide ir até o Monte Metorx para procurar uma erva milagrosa que seria capaz de curar qualquer doença.

Porém, o que eles encontrariam por lá seria muito maior do que poderiam imaginar. De acordo com dois membros da Earth Federation, o capitão Ronyxis J. Kenny e a cientista Ilia Silvestri, a doença teria sido espalhada por lima civilização alienígena conhecida como Lezonians e que está em guerra com os humanos.

Sem querer entregar maiores detalhes sobre o interessante enredo do Star Ocean, saiba que o jogo nos levará por uma viagem pelo tempo e espaço. Com diversos personagens cruzando o nosso caminho e podendo entrar para o nosso grupo, algumas reviravoltas no roteiro nos farão perceber quem nem tudo é o que poderia parecer.

48 Mb de aventuras espaciais

Star Ocean

Crédito: reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Considerado um dos jogos visualmente mais detalhados a aparecerem no Super Nintendo e devido a todo o conteúdo criado pelo tri-Ace, seria preciso muito espaço para armazenar tantos dados. Por isso o estúdio teve que utilizar um cartucho de 48 megabits, assim como já tinha acontecido com o Tales of Phantasia.

Contudo, o Star Ocean precisaria de ainda mais espaço e para contornar a limitação, a desenvolvedora contaria com a ajuda da própria Nintendo. Foi a fabricante do console que ficou responsável por criar o S-DD1, um chip de compressão que atuaria em quase toda a parte gráfica e mapeamento de dados. Tal recurso foi tão raro, que apenas o jogo da tri-Ace e o Street Fighter Alpha 2 o utilizaram.

Outra façanha alcançada pelo RPG foi na parte sonora. Valendo-se de uma tecnologia chamada Flexible Voice Driver, o estúdio conseguiu adicionar dublagem ao jogo, com ele contando com mais vozes do que tínhamos no Tales of Phantasia e até som surround. As falas ouvidas durante as batalhas chegavam a mudar, com os personagens parecendo mais confiantes contra inimigos fracos e preocupados contra os fortes. Porém, tudo isso teve um custo, pois devido à limitação de espaço, a qualidade sonora teve que ser reduzida.

Por fim, a equipe de arte da tri-Ace conseguiu implementar o famoso Mode-7 via software, mas novamente, a falta de espaço fez com que o efeito só pudesse ser utilizado em poucas cenas.

Um clássico restrito ao Japão

Star Ocean

Crédito: reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Com o lançamento do Star Ocean tendo acontecido no Japão em 19 de julho de 1996, os ocidentais fãs de RPGs ficaram ansiosos por uma localização. No entanto, mesmo com o título tendo estampado as páginas da revista Nintendo Power daquele ano, a chegada por aqui nunca aconteceu.

Na época a editora do jogo, a Enix, estava deixando os Estados Unidos devido diversos fracassos comerciais e a única que poderia assumir algo daquele porte seria a fabricante do console. Porém, a Nintendo já havia recusado uma proposta para publicar o Tales of Phantasia e com o seu novo videogame no forno, ela não via sentido em investir numa localização.

Embora o jogo tenha sido traduzido por um grupo conhecido como DeJap Translations e o disponibilizado via emulação, a possibilidade de jogarmos uma localização oficial só apareceria em 2008, quando o PSP recebeu o Star Ocean: First Departure. Contando com diversas melhorias, aquela versão ainda receberia uma remasterização para o PlayStation 4 e Nintendo Switch em 2019, com ela também trazendo vários ajustes.

Crédito: reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Mesmo sem nunca ter alcançado o sucesso de outros JRPGs famosos, como as séries Final Fantasy, Dragon Quest ou mesmo a Tales of, a franquia criada pela tri-Ace segue viva e sendo produzida pelo mesmo estúdio. O último lançamento aconteceu em 2016, com o Anamnesis , já o próximo será o Star Ocean: The Divine Force, que tem previsão para sair em outubro de 2022.

Ao todo, ela já recebeu dez capítulos e tem conseguido manter um grupo de admiradores, mesmo com os últimos jogos não conseguindo se destacar entre as grandes produções do gênero. De qualquer forma, boa parte daqueles que tiveram a oportunidade de conhecer os dois primeiros jogos possuem um carinho especial pela série e sua abordagem mais voltada para a ficção científica. Pensando bem, deve ser por isso que considero seus discos para o PSP como entre os principais da minha coleção.

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