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Final Fantasy VII Remake — O retorno de uma lenda

Com um novo sistema de batalhas, uma qualidade visual acima da média e um enredo mais detalhado, Final Fantasy VII Remake é o jogo que sempre esperamos

4 anos atrás

Em 1997 a Square lançou para o PlayStation aquele que viria a se tornar não só um dos principais jogos do consoles, mas um dos mais adorados capítulos da franquia Final Fantasy. Por muito tempo os fãs clamaram por um remake daquele RPG e 23 anos depois, chegou a hora de conhecermos a nova versão do lendário Final Fantasy VII.

Final Fantasy VII Remake

Tal qual no original, em Final Fantasy VII Remake a cidade de Midgar é controlada pela Shinra Electric Power Company, uma megacorporação que vem drenando a energia do planeta e que por isso está ameaçando a vida de todos. Insatisfeitos com a situação, algumas pessoas se unem para atacar a empresa, nascendo ali o grupo eco-terrorista conhecido como Avalanche.

Devido a manipulação da mídia e aos benefícios que o progresso lhes trouxe, muitos moradores da cidade preferem ignorar a maneira como a empresa vem sangrando o planeta e enxergar o Avalanche como vilões. Mesmo assim, o grupo decide fazer uma jogada ousada: invadir as instalações da Shinra e explodir um dos seus reatores que produzem Mako, a forma processada da energia.

Pois é aí que conhecemos Cloud Strife, um ex-integrante de um esquadrão de elite da Shinra e que acabou se tornando um mercenário. Tendo aceitado o trabalho apenas pelo dinheiro, o protagonista é antissocial, de poucas palavras e está sempre fazendo questão de mostrar a sua indiferença em relação aos outros. Porém, conforme a história se desenvolve, a relação de Cloud com outros personagens vai se estreitando e aos poucos começamos a entender tanto a sua personalidade quanto os motivos que os levaram a deixar de ser um SOLDIER.

Durante a aventura também aprendemos um pouco sobre os efeitos colaterais da extração de energia do planeta, com a cidade sendo dividida em setores — que na verdade são grandes favelas — e os altos executivos da empresa não se preocupando com a maneira como o faturamento de uma gigante tem deixado os pobres cada vez mais pobres.

Embora o jogo tente passar alguma descontração de vez em quando, seja com diálogos engraçadinhos, seja em situações um tanto constrangedoras, como por exemplo a apresentação de dança do Cloud, o Final Fantasy VII Remake possui um enredo maduro, sempre girando em torno de críticas sociais e da psicologia do protagonista.

Hoje isso pode não parecer nada fora do comum, mas se voltarmos duas décadas no tempo, era raro vermos esse tipo de abordagem num jogo para consoles. Ainda assim, a história escrita por Kazushige Nojima, Tetsuya Nomura, Hironobu Sakaguchi e Yoshinori Kitase continua atual e principalmente, bastante relevante e interessante.

Saem os turnos, entra a ação (e isso é bom!)

Desde que os primeiros detalhes sobre o Final Fantasy VII Remake começaram a ser revelados, uma das maiores preocupações dos fãs recaia sobre o sistema de batalhas que seria adotado. Na época em que o original foi lançado, jogos de RPG criados no Japão normalmente utilizavam o sistema de turnos para os confrontos e um dos destaques daquele título atendia pelo nome Active Time Battle (ATB).

Com ele os personagens só poderiam realizar ações quando a sua barra de ATB estivesse cheia, o que dava um certo dinamismo às lutas, já que como cada uma enchia numa velocidade diferente, os turnos não eram fixos. O problema é que algo assim dificilmente seria aceito pelo grande público hoje em dia e por isso a Square Enix buscou uma alternativa que particularmente considero muito boa.

Nesta nova versão as batalhas acontecerão em tempo real, com cada personagem desferindo golpes comuns ao apertarmos o botão quadrado e golpes especiais com o triângulo. Isso fará com que suas barras ATB sejam preenchidas mais rapidamente e quando estiverem completas, bastará apertarmos o botão X para a velocidade das ações ser reduzida drasticamente e assim podermos realizar certos comandos.

Será neste momento em que poderemos disparar habilidades únicas de cada personagem, assim como usarmos magias, itens ou executar os Limites, que são ataques superpoderosos e que levam um bom tempo para serem disponibilizados.

Além disso, a mecânica do jogo ainda nos permite tanto assumir o controle dos outros personagens durante as lutas, quanto pausar a ação para lhes dar alguns comandos. Na essência tudo funciona de maneira natural e até mesmo um pouco simples, mas conforme avançamos na história e nos depararemos com inimigos mais fortes, fica claro o quanto a estratégia pode fazer a diferença entre vencermos ou sairmos derrotados rapidamente de um confronto.

Final Fantasy VII Remake

Algo que também ajuda a incrementar esse lado estratégico das lutas é o sistema de atordoamento. Isso porque muitos dos adversários que encontrarmos pelo caminhos terão fraquezas e se soubermos tirar proveito delas, uma barra localizada em baixo de suas energias começará a ser preenchida. Caso ela fique cheia, o inimigo ficará tonto, o que além de o impedir de agir, ainda fará com que receba mais dano.

Até por os golpes normais na maioria das vezes não causarem muito dano, o jogo está sempre tentando evitar que as lutas sejam meros esmagamentos de botões e quanto mais poderosos os inimigos se tornam, mais necessário será utilizar todo o nosso arsenal para vencermos algumas batalhas. Um belo acerto por parte da equipe responsável pelo game, que conseguiu equilibrar ação e estratégia, fazendo com que as lutas nunca sejam cansativas.

Por fim, há ainda os equipamentos, armas e Matérias que podem ser encontrados. No caso das armas, elas contarão com características específicas, como uma maior possibilidade de causar dano físico ou de magia. Com o tempo elas ganharão pontos de habilidades, que servem para torná-las mais fortes ou abrigarem mais Matérias.

Caso não esteja familiarizado com a série, as Matérias são esferas que funcionam como magias, podendo ser tanto de ataque, quanto de defesa ou apoio. No caso daqueles de ataque, você poderá vinculá-las a uma arma, fazendo assim com que uma espada cause dano de fogo ou gelo, por exemplo.

Também vale dizer que as matérias evoluirão com conforme as utilizarmos, fazendo assim com que se tornem mais fortes, mas também consumam mais pontos de magia para serem disparadas. Como não conseguiremos equipar todas ao mesmo tempo, caberá ao jogador escolher qual Matéria carregar consigo e não serão raras as vezes em que nos arrependeremos por não estar com uma magia que seria melhor contra um determinado inimigo.

Um visual duas décadas mais novo

Contudo, por mais que a maior diferença do Final Fantasy VII Remake em relação ao original esteja na sua mecânica de combates, não há como ignorar o trabalho feito pela Square Enix na parte visual. Das vielas dos setores cinco e sete aos letreiros e lojas do Mercado Murado, Midgar é um lugar repleto de detalhes e que consegue passar muito bem a sensação de opressão imposta pelas instalações da Shinra.

Também merece destaque o trabalho feito na criação dos personagens, que são muito bem construídos e realistas. Eu só não gostei muito dos movimentos exagerados que alguns fazem quando estão conversando, além da animação facial, já que os lábios se movem de maneira pouco natural.

Outro ponto positivo são as batalhas, sempre acontecendo num ritmo bastante frenético e ficando ainda mais impressionante quando invocamos um dos enormes seres que podem nos ajudar. Só é uma pena que câmera atrapalhe um pouco nas lutas, mas nada que não possa ser resolvido ao movermos o analógico direito.

Mas de tudo, o que mais me impressionou foi a maneira fluída como o jogo se comporta. Por não ter um PlayStation 4 Pro, eu temia que o desempenho deste remake não fosse muito bom no meu console, mas fiquei positivamente surpreso em relação a isso. Durante toda a jogatina a experiência foi a melhor possível, sendo que não consegui notar quedas na taxa de frames e sem que o título me fizesse desejar encará-lo numa máquina mais potente.

Muito conteúdo, pouca exploração

Outro temor que eu tinha em relação ao Final Fantasy VII Remake era quanto ao seu tempo de duração. Como o jogo traz apenas a primeira parte da aventura original, se passando apenas em Midgar, ele poderia durar apenas algumas horas, mas felizmente não isso o que acontece.

Ao toda a campanha pode se estender por cerca de 40 horas e existem alguns motivos para isso acontecer. O principal deles é que Square Enix adicionou muito conteúdo ao jogo, com os personagens sendo melhor explorados e muitas partes da história original sendo aprofundadas aqui.

Além disso, este remake nos oferece uma série de missões secundárias para serem realizadas, o que além de servirem para dar um plano de fundo para o desenvolvimento do protagonista, obviamente aumenta consideravelmente o tempo em que passaremos no game. O grande problema em relação a esta segunda parte é que no geral essas missões são pouco interessantes, muitas vezes retratando Cloud como um mero faz-tudo e nos deixando com a sensação de querer acabar logo para ver o desenrolar da história.

Numa época em que jogos como The Witcher 3: Wild Hunt nos mostraram o quão fascinante podem ser essas missões menos importantes, é difícil não lamentar a oportunidade perdida pela Square Enix, o que também acontece em relação a exploração. Com a maior parte da aventura acontecendo sem nos dar muita liberdade, com os eventos se dando em uma sequência que não pode ser quebrada, fica aa vontade de saber como é o mundo fora das barreiras da cidade, o que infelizmente só será possível nos próximos capítulos.

Modernização, mas sem renegar as origens

Por mais que não seja o meu RPG favorito, nunca escondi a admiração que tenho pelo Final Fantasy VII. Eu perdi as contas do tempo que passei diante da TV jogando aquele fantástico título no meu saudoso PlayStation e por mais que sempre tenha ouvido pedidos para que ele fosse refeito, nunca imaginei que isso um dia iria acontecer.

Eis que tanto tempo depois, com muito mais experiência nas costas e tendo experimentado inúmeros outros jogos do gênero ao longo destes anos, novamente tive o prazer de visitar aquele mundo que me deu tanta alegria. Sim, desta vez a aventura acaba antes do que eu gostaria, muito da história de Cloud e companhia ainda precisa ser contada, e sei que o gosto amargo de querer mais perdurará por um bom tempo.

Porém, jogar o Final Fantasy VII Remake foi como reencontrar um amigo com quem eu não tinha contatos há anos. Foi poder conversar com ele sobre os momentos bacanas que passamos antigamente e relembrar momentos fantásticos, situações que eu tinha medo de a minha memória ter supervalorizado, mas que agora sei que realmente valeram a pena.

Poder conhecer esta nova versão de um jogo tão divertido foi fazer uma viagem por um universo que marcou minha adolescência e que, junto com outros clássicos, me ajudou a passar a enxergar os videogames de forma diferente, como muito mais do que apenas uma forma de entretenimento. O Final Fantasy VII (e o seu remake) é diversão? Sem dúvida, mas é também uma bela história de anarquismo, superação, amadurecimento e acima de tudo, amizade.

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