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SNK, Arika e um príncipe saudita

SNK anuncia parceria com a Arika para reviver franquias do passado, enquanto tenta se desvencilhar das polêmicas do presente

13/03/2024 às 11:17

Através de uma parceria com a Arika, a SNK planeja resgatar algumas das suas tradicionais franquias não-relacionadas a jogos de luta, o que abre um enorme leque de possibilidades. Mas você sabe quem é a empresa que ajudará a editora nesta tarefa? E mais, sabe quem controla atualmente a marca tão ligada ao lendário Neo Geo?

Crédito: Reprodução/Rachid Lotf/ArtStation

Fundada em 1973 por Eikichi Kawasaki, a SNK nasceu como Shin Nihon Kikaku, o que numa tradução livre seria algo como “Novo Planejamento do Japão”. Já em 1978 ela se tornou uma empresa pública, adicionando a palavra Corporation ao seu nome, mas foi apenas em 1981 que a companhia passou a ser tratada informalmente como as três letras que se tornaram tão famosas.

Dedicada à produção de jogos para fliperamas desde 1979, quando lançou o shoot 'em up Ozma War, a investida da empresa surgiu da percepção do seu fundador, ao notar como aquele mercado estava crescendo. Porém, a fama só viria mesmo em 1981, quando eles lançaram outro “jogo de navinha”, o Vanguard.

Distribuído nos Estados Unidos pela Centuri, aquele título superou todas as expectativas, o que levou os japoneses a criar uma divisão no ocidente para produzir tais máquinas, a SNK Electronics Corporation.

Pelos próximos anos eles colocariam diversos jogos nos fliperamas, até que em 1988 surgisse a ideia para máquinas modulares. Se antes os gabinetes podiam rodar apenas um jogo, graças àquele conceito os donos dos fliperamas poderiam recorrer a um sistema de cartuchos para trocar o título oferecido. Nascia ali o Neo Geo MVS (abreviação para Multi Video System), cuja estreia aconteceria em 1990.

Com cada cartucho custando cerca de US$ 500, o que representava menos da metade de um conjunto completo e economizava bastante espaço nas lojas, o conceito rapidamente caiu no gosto dos comerciantes, deixando a SNK numa ótima posição em um mercado em franca ascensão. Mas eles queriam mais.

O sonho de consumo de muita gente (Crédito: Reprodução/Frédéric Bisson/Wikimedia Commons)

De olho nos consoles, a empresa queria levar para a casa das pessoas jogos com a mesma qualidade vista nos fliperamas, algo que nenhum videogame era capaz de fazer e assim surgiu o Neo Geo AES (Advanced Entertainment System), videogame que contava com a mesma capacidade das máquinas que víamos nas lojas.

Inicialmente a ideia era apenas alugar aqueles aparelhos ou oferecê-los em lugares como hotéis, mas percebendo a demanda dos consumidores, sua fabricante decidiu iniciar sua venda. O problema?  Cada unidade saía por salgados US$ 599,99, valor que, corrigido pela inflação, seria o equivalente hoje a cerca de US$ 1.425, fazendo dele o console mais caro da história.

Mas apenas levar ao mercado o que se tornaria um sonho de consumo não seria suficiente para sustentar a empresa, que depois ainda lançaria outros console e portáteis, além de levar vários de seus jogos para outras plataformas. Aproveitando sua fama, em 1999 eles até lançaram um parque de diversões em Tóquio, contudo, o mercado estava passando por uma grande transformação, com os jogos de luta 2D perdendo força e os fliperamas dando seus últimos suspiros, até que no ano 2000, a SNK seria vendida para Aruze.

SNK

A despedida aos fãs (Crédito: Reprodução/Krohnen/SNK Wiki)

Especializada em máquinas de pachinko, os novos donos preferiram aproveitar as franquias da empresa para criar esses caça-níqueis, fazendo com que aquelas marcas fossem se distanciando cada vez mais dos jogos eletrônicos e vários profissionais preferissem migrar para outras empresas.

Aqueles foram meses sombrios, em que várias das propriedades intelectuais acabaram nas mãos de diversas companhias, até que em agosto de 2001 fosse criada a Playmore Corporation. Aquela era uma companhia especializada em gerenciamento de marcas registradas, o que lhe permitiu reaver as propriedades intelectuais “perdidas” no período de falência.

A ideia era voltar ao mercado de games e para isso, a nova companhia adquiriu algumas desenvolvedoras como a BrezzaSoft, estúdio formado por ex-funcionários da SNK e que continuaram trabalhando na série The King of Fighters.

Dois anos depois e com a benção de Eikichi Kawasaki, a companhia mudaria seu nome para SNK Playmore Corporation. Também foi em 2003 que eles adquiriram uma parceira de longa data, a ADK e com a recontratação de muitos que ajudaram a criar a empresa original, eles voltaram a funcionar de maneira muito parecida com a época em que o dinheiro jorrava como água.  

SNk Playmore

Crédito: Reprodução/kanegen/Wikimedia Commons

Contudo, isso não significa que os próximos anos seriam de total tranquilidade. Do abandono da palavra Playmore em seu nome a vendas e fusões, a companhia ainda passaria por muitas mudanças. No entanto, a mais significativa e controversa delas começaria a acontecer em 2020, quando a MiSK Foundation adquiriu 33,3% das ações da SNK.

Comandada pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, a organização sem fim lucrativos fez a aquisição através da Electronic Gaming Development Company (EGDC) e deu indícios de que não pararia por aí. No ano seguinte, ela aumentou sua participação nas ações para 51% e em fevereiro de 2022, fez outra compra, saltando para 96,18%. Hoje a SNK não está mais presente nas bolsas de valores, tendo se tornado uma companhia privada.

Além das críticas recebidas pelo governo saudita por violações de direitos humanos, bin Salman ganhou notoriedade em 2018, após o jornalista Jamal Khashoggi, do The Washington Post, ter entrado no consulado da Arábia Saudita na Turquia e nunca mais ser visto. Após uma investigação, foi constatado que o homem de 59 anos foi assassinado e esquartejado, o que segundo relatório dos Estados Unidos, aconteceu a mando do príncipe, que embora negue envolvimento, admitiu sua responsabilidade.

Está na hora de o Shock Troopers voltar! (Crédito: Reprodução/Katakis | カタキス/MobyGames)

Mas se o presente da SNK está envolto em polêmicas, o futuro da editora pretende mirar no passado para resgatar seu tempo de glórias. Pois é aí que entra a empresa que ficará responsável por reviver ao menos uma das franquias da empresa que marcaram uma geração.

Fundada em 1995 por ex-funcionários da Capcom, a Arika teve seu nome em homenagem ao seu presidente, Akira Nishitani. Figura importante na antiga companhia, ele trabalhou em títulos como Street Fighter e Final Fight, e sua influência permitiu que a desenvolvedora produzisse versões 3D da famosa franquia de luta, com a série Street Fighter EX.

Com o passar dos anos a Arika ainda ficaria responsável ou colaboraria com a criação de vários outros jogos, como o Tetris 99, PAC-MAN 99, Super Mario Bros. 35, a série Everblue e Endless Ocean, Chocobo GP e os Tekken 7 e 8.

“A SNK possui mais de 200 conteúdos da marca SNK, incluindo Neo Geo, e atualmente está promovendo a renovação para recuperar e reviver as propriedades intelectuais do passado,” disse a desenvolvedora em uma breve nota. “Como parte desse esforço, decidimos colaborar com a SNK. A colaboração está planejada para propriedades outras além dos jogos de luta. Para mais informações, fique ligado.”

Confesso estar curioso para saber o que nascerá desta parceria, pois ao pensar em algo da SNK que não seja seus ótimos jogos de luta, a primeira coisa que vem à minha cabeça é a franquia Metal Slug. Porém, eles também podem estar planejando dar continuidade a títulos que fizeram sucesso no Neo Geo, como Sengoku, Pulstar, Super Sidekicks, Aero Fighters ou Shock Troopers.

De qualquer forma, só espero que esse projeto não acabe se arrastando tanto quanto aquele tão promissor Metal Slug Tactics.

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