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The King of Fighters XV: finalmente, SNK fez a lição de casa

The King of Fighters XV é a tentativa da SNK para recuperar o tempo perdido, com um game de gráficos melhorados e um modo online decente

2 anos atrás

The King of Fighters XV é o mais novo capítulo da longa, querida, e conturbada franquia de jogos de luta da SNK, ainda uma das mais populares entre o público gamer brasileiro. A desenvolvedora teve 6 anos para corrigir o que estava errado na entrada anterior, KoF XIV, principalmente nas partidas online e gráficos.

Como resultado, o game pode não ser perfeito, mas cumpre a promessa de seu slogan, "shatter all expectations" (destrua todas as expectativas): ao mesmo tempo que inova em alguns aspectos, The King of Fighters XV massageia o ego nostálgico dos jogadores, ao trazer de volta uma série de velhos conhecidos.

The King of Fighters XV (Crédito: Divulgação/SNK/Koch Media)

The King of Fighters XV (Crédito: Divulgação/SNK/Koch Media)

Alguém pediu outra saga maluca?

A narrativa dos jogos principais da série The King of Fighters se divide em sagas, cada uma centrada em um grupo de personagens específico. A atual gira em torno do novo Hero Team, composto por Shun'ei e Meitenkun, e um novo Rivals Team, que traz dois dos três personagens inéditos de KoF XV, Isla e Dolores.

Sem dar muitos spoilers, a história é um pano de fundo para a boa e velha pancadaria entre os times, que sofreram diversas modificações de elenco, entre entradas e saídas de lutadores, mas todos com o mesmo objetivo de vencer o atual torneio.

Aprendendo com os erros

A série The King of Fighters foi por muito tempo uma das mais populares séries de jogos de luta, graças à SNK tendo aproveitado tropeços da Capcom e Midway, e por cimentar a atualização do título anualmente, o que fez dele sempre o mais esperado, a cada nova interação.

Contudo, a franquia perdeu força quando a SNK faliu, no começo dos anos 2000,  e passou por uma série de intervenções das outras companhias que assumiram a marca. KoF XIII, lançado em 2010, já com a primeira atualização gráfica introduzida no título anterior, foi o primeiro da série a permitir batalhas online, ou ao menos, essa era a ideia.

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

O netcode do game era terrível, ao ponto de inviabilizar qualquer tentativa decente de jogar com outras pessoas pela internet, experiência repetida com The King of Fighters XIV (2016), o primeiro que usou gráficos em 3D, esta outra fonte de críticas por si só. Os modelos eram pouco definidos, ao ponto do público comparar as texturas do PS4 com as típicas do PS2.

Boa parte das críticas eram exageradas, mas tinham mérito, ao ponto da SNK atualizar o game para corrigir o visual. Por outro lado, a desenvolvedora nunca deu muita bola para o netcode, ainda baseado em delay, e por causa disso, KoF XIV não fez tanto sucesso, ainda que tenha sido razoavelmente bem recebido.

Com The King of Fighters XV, a SNK apostou tudo para conquistar o público de novo, desde usando modelos melhores para os personagens, a finalmente ajustar os problemas de rede. Desta vez, o jogo conta com o netcode de código aberto GGPO, baseado em rollback, o mesmo em que a Capcom se baseou para criar o proprietário Kagemusha/CFN de Street Fighter V, embora não tenha o aplicado direito.

Com o GGPO e a SNK evitando reinventar a roda, o netcode de The King of Fighters XV apenas funciona, e muito bem.

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

A jogabilidade é a básica da série, com times de 3 contra 3, mas com algumas mudanças. Os Rush Combos, feitos ao apertar o botão de soco fraco rapidamente 3 vezes seguidas (recurso que foi a base do spin-off SNK Heroines: Tag Team Frenzy), implementados em KoF XIV, foram melhorados para permitir ao jogador escolher como finalizar o combo; dependendo do 4º botão apertado, o fechamento será um golpe especial, um Super, ou um Climax Super Move, o especial mais poderoso.

Já o Shatter Strike é um golpe executado com quarto-de-lua para a frente + soco forte + chute forte, usado como uma técnica defensiva, para impedir ataques. Parecido com o blowback normal, ele também abre a defesa do oponente se ele estiver no chão, mas se ele estiver no meio de um ataque aéreo, será mando para a parede e quicar (wall bounce). Em ambos os casos, o recurso permite aplixar combos para virar a situação.

Saudosismo sim, por que não?

The King of Fighters XV conta com um elenco mais enxuto em relação ao KoF XIV, em que personagens menos carismáticos (Sylvie Paula Paula, o trio da América do Sul) e outros que não tinham a ver com a franquia (como Nakoruru, de Samurai Shodown) foram removidos, em prol de focar em um elenco mais apelativo aos jogadores antigos.

Voltaram assim alguns que não são vistos, ou selecionáveis, há muito tempo, como o Team New Faces/Orochi de KoF '97, composto por Chris, Shermie e Yashiro, e Heidern, o clássico comandante do Team Ikari, aqui completando o Team Rivals com Isla e Dolores, duas dos três novatos. Chizuru Kagura também está de volta após muito tempo, o que permitiu reformar o Team Sacred Treasures com os eternos rivais Kyo Kusanagi e Iori Yagami.

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

The King of Fighters XV (Crédito: Reprodução/SNK/Koch Media)

Outra que está de volta após muito tempo é Ángel, que forma time com Kula e Khronen McDougall, o terceiro "novato" do game, mas que todo mundo sabe se tratar de K9999/Nameless, o clone de Kyo que era uma cópia descarada de Testuo Shima, do mangá/longa animado Akira. Aqui, os elementos "problemáticos" de seu visual deram adeus de vez.

Por outro lado, uma série de lutadores clássicos ficou de fora, como Mature, Vice, Shingo Yabuki e o até então sempre presente Kim Kaphwan, entre outros, embora alguns deles possam voltar como DLCs (ainda restam 2 times a serem revelados).

No mais, vale mencionar que há o clássico desequilíbrio entre personagens, alguns poderosos demais, o input de dano que dependendo do golpe, pode ser bem alto, e a questão da série ainda ser bastante técnica, ainda que possua recursos para se tornar mais atraente para novos jogadores, como os Rush Combos.

Conclusão

Por muitos anos, a franquia The King of Fighters dividiu os holofotes com Street Fighter e Mortal Kombat, com suas versões anuais chegando a ser mais esperadas pelo público do que os lançamentos de seus rivais, por uma série de fatores. Isso mudou quando a SNK quebrou e mudou de mãos várias vezes, levandou tempo até se restabelecer.

De lá para cá, os games da série KoF se tornaram menos frequentes, passaram por duas atualizações de design severas, e desde o XIII, sofriam para entregar um netcode que funcionasse minimamente. Com The King of Fighters XV, as coisas finalmente entraram nos eixos.

The King of Fighters XV (Crédito: Divulgação/SNK/Koch Media)

The King of Fighters XV (Crédito: Divulgação/SNK/Koch Media)

Os gráficos não se parecem mais com bonecos do PS2, as mecânicas foram refinadas em relação ao título anterior, com uma melhor usabilidade dos Rush Combos, e o Shatter Strike é um recurso muito útil para abrir a defesa e aplicar sequências devastadoras.

O elenco de personagens também foi escolhido a dedo, com a volta de vários lutadores amados pelo público, e a implementação do GGPO rollback netcode solucionou o principal problema da série desde o XIII, com o jogo sendo finalmente agradável de se jogar online. Os pontos fracos ficam por conta do desequilíbrio entre lutadores, uma "falha" que é quase um feature da franquia, e a ausência de alguns lutadores carismáticos.

The King of Fighters XV pode não ser perfeito, mas é uma boa opção de jogo de luta que vai agradar principalmente os fãs veteranos da franquia, mas que também é bem interessante para os novatos. Se a SNK jogar direito as suas fichas, o game poderá preencher o lugar de atenção do público no momento, o vácuo entre os próximos lançamentos de Street Fighter e Mortal Kombat, que ninguém sabe quando será.

E quem sabe, reconduzir a franquia The King of Fighters ao posto de uma das favoritas do gênero entre os jogadores.

The King of Fighters XV — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, Xbox Series X|S, PS4 e Windows (versão para PS4 analisada no PS5, com cópia cedida pela Koch Media);
  • Desenvolvedora — SNK;
  • Distribuidoras — SNK (apenas Japão), Koch Media;
  • Classificação Indicativa — 12 anos.

Pontos fortes:

  • Gráficos melhores em relação a KoF XIV;
  • Finalmente, rollback netcode;
  • Diversos lutadores populares estão de volta.

Pontos fracos:

  • Equilíbrio entre personagens ainda não é o forte da franquia;
  • Elenco tem desfalques difíceis de ignorar.

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