IA: Nvidia muda foco e GPUs gamer somem das lojas

A Nvidia fez muita grana ao longo dos anos graças às criptomoedas, no que suas placas de vídeo (GPUs) foram compradas em lotes enormes por mineradores e scalpers, o que ajudou a manter os preços inflados por muito tempo. Azar do usuário, já que a alta procura e pouca oferta resultou em preços finais absurdos.

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Nos últimos tempos, a redução do interesse por criptos permitiu que os preços voltassem a patamares mais decentes, mas a explosão da Inteligência Artificial (IA) e modelos generativos desencadeou uma nova busca frenética por componentes, no que empresas as estão comprando em lotes e esvaziando as prateleiras, e os preços, de novo, começaram a subir.

Não obstante, a Nvidia estaria prestes a mudar de foco: hoje ela é a maior fornecedora de chips para soluções de IA, e por causa disso, considera priorizar este mercado, colocando o de GPUs em segundo plano; tal movimento teria vitimado a produção de toda a Série 40 de GPUs, que segundo relatos, foi interrompida.

Empresas de IA comprando GPUs em lote

Tanto a Nvidia quanto a AMD, bem como suas parceiras fabricantes de GPUs, fizeram muita grana com a febre das criptomoedas, no que usuários individuais e alguns grupos compraram lotes e mais lotes de GPUs, para multiplicar seus ganhos com a mineração. Isso teve consequências para o mercado, a oferta para o usuário médio diminuiu, e maior procura leva obviamente à alta nos preços.

Por muito tempo, comprar uma GPU de ponta se tornou uma tarefa impossível para boa parte dos consumidores comuns, com preços ultrapassando a marca de cinco dígitos em reais, e mesmo lá fora o tíquete médio se tornou insano. A alta nos preços afetou inclusive modelos mais antigos, e mesmo o valor pedido na hoje mais do que superada GeForce GTX 1050, se tornou impraticável, ao considerar o custo X benefício.

Só que a partir de 2022, criptomoedas como Bitcoin, ainda a mais procurada, e a Ethereum, a mais financeiramente viável de ser minerada, entre outras, sofreram um forte declínio no valor, e muita gente pulou fora do barco. As placas usadas inundaram o mercado de componentes usados, e com uma diminuição na procura por componentes novos, sejam pelos mineradores ou o público final, no que muitas arriscavam a sorte mesmo com as torradas e cheias de "artefatos", os preços das GPUs finalmente começaram a recuar.

Claro, isso não era interessante para Nvidia e AMD, que se habituaram aos valores nas alturas. Ambas fabricantes declararam que o preço sugerido não seria revisto, e que "a era de GPUs baratas chegou ao fim". Quem quiser uma nova vai ter que pagar caro, ou optar por um modelo de gerações passadas, ou mesmo uma usada; os fabricantes e revendedores também estavam contentes com o tíquete médio elevado, embora em alguns casos, o valor pedido no balcão tenha de fato caído.

Só que tudo isso mudou com a explosão das soluções baseadas em IA, generativas ou não. Elas são a febre do momento, mas em um cenário ideal, companhias usam GPUs e chips dedicados, não os modelos profissionais como a Nvidia A100, considerada a mais poderosa do mundo.

Estes componentes são caros para startups e empresas de médio e pequeno porte, logo, a solução menos cara e mais lógica seria comprar GPUs gamer. Em lote, claro.

AMD (unlike Qualcomm) is a joy to buy chips from. 7.38 PFLOPS of compute was delivered today, with exaflops more to come.

Nice to see them more active on the ROCm GitHub, we are working on the layer above @__tinygrad__ pic.twitter.com/5yE11TVA5F

— George Hotz 🌑 (@realGeorgeHotz) August 1, 2023

Na última terça-feira (1.º), o engenheiro de software e notório hacker George "geohot" Hotz, famoso por desenvolver métodos de jailbreak do iPhone e quebrar a criptografia do PS3, que já teve passagens pelo Meta e Google, hoje responsável pela tiny corp., uma empresa voltada a soluções de deep learning, publicou no X (ex-Twitter) uma imagem da última compra de sua empresa:

Um lote de, segundo o site Tom's Hardware, 60 GPUs AMD Radeon RX 7900 XTX, totalizando 7,38 PFlop/s, ou 7.380.000.000.000.000 de operações de ponto flutuante por segundo em meia-precisão (FP16); uma unidade, que conta com 24 GB GDDR6, entrega 11,28 TFlop/s.

Segundo o site, considerando o preço médio da placa de vídeo, Hotz teria desembolsado aproximadamente US$ 60 mil para adquirir o lote, um gasto exorbitante para usuários comuns, mas perfeitamente gerenciável por empresas, principalmente considerando que IA virou buzz e muita gente está jogando dinheiro nela, mesmo sem entendê-la direito. Há quem diga que algoritmos generativos e soluções de aprendizado de máquina são a bolha da vez, com o potencial de ser a maior (e mais catastrófica) da História.

A postagem mostra que as empresas desenvolvedoras de GPUs, e seus parceiros, estão negociando diretamente com companhias de IA para a venda de GPUs potentes, com estas não indo para o mercado varejista, assim, é provável que Hotz tenha gasto apenas uma fração do valor mencionado acima; ao mesmo tempo, embora os produtos da AMD não sejam indicados em algumas situações, devido à tecnologia CUDA, um baita diferencial, ser exclusividade da Nvidia, clientes esperam alcançar resultados similares na base da força bruta, optando por componentes rivais menos caros.

A óbvia consequência é aquilo que você já imaginou: com menos GPUs no mercado consumidor, as chances são de que os preços voltem a subir, e no que depender da Nvidia, as coisas vão ficar ainda mais complicadas para gamers e profissionais individuais.

Nvidia visa foco em IA

Como mencionado anteriormente, a Nvidia é a maior fornecedora de componentes para soluções de IA do mundo, tanto que entrou na mira da União Europeia para se adequar às Leis de IA que estão em vias de ser aprovadas no continente. No entanto, ela é conhecida como uma empresa "gamer first", que prioriza a produção de componentes para o usuário final.

Porém, dado o aumento da bolha da IA, tal estratégia não é mais interessante para o CEO Jensen Huang. Segundo um vazamento de informações, apurado pelo canal do YouTube Moore's Law is Dead (MLID), a Nvidia estaria pronta para focar em soluções de Inteligência Artificial, deixando os produtos gamer em segundo plano, com baixa prioridade.

As fontes indicam que a gigante de Santa Clara interrompeu completamente a produção de GPUs da linha Ada Lovelace, que compreende todos os modelos da Série 40, tanto para limitar o fornecimento a parceiros e manter os preços altos, quanto para direcionar seus esforços a produtos como a A100 e outras de alto nível, mirando em empresas e startups.

O canal MLID menciona inclusive que a Nvidia teria descolado "olheiros" para sondar o varejo e verificar a disponibilidade da RTX 4090, o modelo de ponta, na provável intenção de manter as unidades novas à venda em números limitadíssimos, e com o tíquete médio nas alturas; as unidades disponíveis para reposição seriam ridiculamente baixas de propósito.

É preciso lembrar que a sanha da AMD e Nvidia de manter os preços altos resultou em uma menor procura por modelos novos de GPUs, mas ao invés de ganhar na quantidade, a companhia teria decidido "dispensar" o usuário final, e fazer igual à Microsoft, priorizar o cliente corporativo.

Basicamente, a Nvidia decidiu que se o consumidor não vai comprar suas GPUs no preço pedido, ela não vai insistir, mas também não irá rever os valores; ao invés disso, mudará o foco para clientes mais lucrativos, a fim de fazer mais dinheiro, enquanto mantém a disponibilidade das placas gamer em números reduzidos no varejo, enquanto prioriza empresas.

Quem não gostou que compre placas da AMD ou Intel, mas ambas não só não venderão componentes por preços camaradas, como também estão mudando o foco para IA. Ao usuário, resta aceitar que de agora em diante, terá que desembolsar muita grana ao trocar de GPU.

Fonte: ExtremeTech (1, 2)