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O preço dos jogos e a gorjeta para os desenvolvedores

Para ex-presidente da Blizzard Entertainment, os jogadores poderiam dar aos desenvolvedores uma gorjeta após terminar seus jogos. Concorda?

15/04/2024 às 10:19

Expansões, microtransações, mensalidades, conteúdo adicional por download e até o preço dos próprios jogos, que na atual geração subiu US$ 10... A indústria de games está sempre buscando maneiras de sangrar ainda mais os nossos bolsos e recentemente o ex-presidente da Blizzard Entertainment sugeriu mais uma forma dos jogadores contribuírem com os desenvolvedores, opinião que, como era de se esperar, deu iniciou a um debate.

Crédito: Reprodução/Freepik

Tendo deixado a Blizzard após trabalhar por mais de 20 anos na empresa, Mike Ybarra usou sua conta no X (antigo Twitter) para defender que os consumidores poderiam ajudar as pessoas que se dedicam a produzir jogos de uma forma um tanto inusitada. Ele disse:

“Tenho pensado nesta ideia há algum tempo, como jogador, já que ultimamente tenho mergulhado nos jogos single-player.

Quando termino um jogo, há alguns que simplesmente me deixam maravilhado com o quão incrível foi a experiência. No fim do jogo, muitas vezes pensei: ‘gostaria de poder dar a essas pessoas outros US$ 10 ou US$ 20, porque valeu mais que os meus US$ 70 iniciais e eles não tentaram me tirar um centavo a cada segundo.’

Jogos como Horizon: Zero Dawn, God of War, Red Dead Redemption 2, Baldur’s Gate 3, Elden Ring, etc. Sei que US$ 70 já é muito, mas é uma opção ao fim do jogo que às vezes eu gostaria de ter. Alguns jogos são tão especiais.

Sei que a maioria não vai gostar da ideia. 🙂 A propósito, percebo que estamos cansados de ‘dar gorjetas’ no resto — mas vejo isso diferente de um cenário em que muitos enfrentam uma pressão para dar gorjetas e sobre o qual fornecem um feedback.”

Crédito: Reprodução/Freepik

Por mais que Mike Ybarra tenha uma boa intenção ao sugerir essa ideia, é muito difícil acreditar que ela daria certo, ou melhor, que resultaria em um maior faturamento para aqueles que realmente dão tudo para concluir um jogo.

Num hipotético cenário em que uma sacolinha virtual seria apresentada após terminarmos um jogo, será mesmo que o valor que déssemos aos desenvolvedores acabaria em suas contas? Ou será que o montante arrecadado com essas gorjetas serviria apenas para engordar ainda mais os cofres dos figurões que controlam as editoras e já recebem pomposos bônus — ou pode chamar de gorjetas — no final do ano?

Aqui deixo claro que estou falando de companhias imensas como aquele em que Ybarra trabalhava, não de estúdios independentes que, mesmo com suas muitas dificuldades, seguem se destacando como redutos de criatividade e dedicação. No caso deles, alguns até contam com essa possibilidade de contribuirmos sem comprar seus jogos, seja com gorjetas propriamente ditas, seja com o financiamento coletivo.

Até por citar vários jogos single-player de grande porte, presumo que a proposta seja para ajudarmos principalmente àqueles que produzem jogos de grande porte, talvez não os executivos, mas os profissionais que estão no “chão de fábrica”. E a sugestão não deixa de fazer sentido, pois num mundo em que um executivo pode faturar US$ 155 milhões em bônus, não deve mesmo sobrar muito para que os desenvolvedores sejam agraciados.

Kotick e seu loot (rédito: Reprodução/Dooder/Freepik)

O problema para boa parte das pessoas é pensar em gastar mais quando temos que pagar US$ 70 (ou R$ 350) em um lançamento. Tudo bem, o custo de desenvolvimento tem subido a cada nova geração, mas o preço dos jogos — que se diga, nunca foram baratos — é algo que tem feito com que as pessoas se distanciem dos lançamentos.

Isso pode ser visto em um relatório publicado recentemente pela Newzoo. Nele, a empresa levantou os hábitos de consumo dos jogadores, incluindo os títulos em que as pessoas têm passado mais tempo e ficou claro como o público não parece se importar tanto com o que tem chegado ao mercado recentemente.

Segundo o levantamento, 80% de todo o tempo gasto em 2023 aconteceu em apenas 66 títulos, sendo que 60% se dedicaram a jogos lançados há seis anos ou mais. Outra informação importante é que 27% do tempo se refere a apenas seis títulos: Fortnite, Grand Theft Auto V, League of Legends, Minecraft e Roblox.

Já quando se trata de jogos considerados pela empresa como novos, ou seja, com dois anos ou menos, o tempo dedicado representou apenas 23% do total. Lançamentos ocorridos em 2023? Acredite, eles responderam por apenas 8% do tempo.

Segundo o relatório, “será cada vez mais desafiador aumentar a base de jogadores de um game, particularmente em nosso cenário atual, onde títulos perenes e canais de conteúdo robustos reinam supremos.”

Crédito: Divulgação/Epic Games

Essas justificativas certamente possuem um impacto imenso na venda de lançamentos, mas alguém discorda que o preço pedido pelos novos jogos, somado a maneira como muitos chegam inacabados ao mercado e a incerteza sobre até quando permanecerão funcionando também não influencia na nossa decisão?

Tenho visto cada vez mais pessoas afirmarem que diversos fatores fizeram com que deixassem de comprar lançamentos e para muitos títulos, as primeiras semanas podem ser cruciais para separar um sucesso de um grande fracasso. Por mais que a perseverança da Hello Games esteja sendo copiada, uma situação como a do No Man's Sky não é comum e nem os jogadores, nem os desenvolvedores deveriam esperar por algo assim.

Então, muitas empresas têm apostado nos Jogos como um Serviço, uma ideia cujo único objetivo principal é manter o público interessado numa grande produção por mais tempo e consequentemente, fazer com que continuem gastando com aquele título. Porém, a força dessa estratégia está perdendo força e vejam só, essa nova maneira de faturar não fez com que o preço dos jogos diminuísse.

Confesso que não vejo problema na indústria buscar novas maneiras de aumentar o faturamento com suas criações, mas isso não quer dizer que eu compactue com toda proposta mirabolante surgida no que imagino deva ser um laboratório digno dos vilões de animações. Já cansei de me deparar com títulos com microtransações absurdas e odeio quando vejo que alguma parte do jogo só será desbloqueada caso insira os números do meu cartão de crédito.

"Dá aqui essa gorjeta!" (Crédito: Divulgação/Grinding Gear Games)

Contudo, entendo que os boletos precisam ser pagos e se uma desenvolvedora consegue implementar um sistema que não atrapalhe diretamente a jogatina, posso conviver com isso. O curioso é pensar que muitas vezes isso acontece apenas em jogos gratuitos ou vendidos por um preço bem abaixo dos famigerados US$ 70. Um bom exemplo é o Path of Exile, título distribuído gratuitamente e que já ouvi relatos de pessoas que compraram itens nele apenas como uma forma de agradecer à Grinding Gear Games.

Por falar nisso e voltando à proposta de Mike Ybarra... Talvez uma saída seja fazer como um seguidor sugeriu no X: se a pessoa gostou muito de um jogo, ao invés de dar uma gorjeta para a editora, que tal comprar uma nova cópia e presentear um amigo? Desta forma estaríamos ajudando a empresa e ainda apresentando aquela obra a alguém que achamos que também poderá se divertir.

É claro que nem todos podem fazer isso, justamente pelo preço exorbitante dos jogos, mas acredito que esse pode ser a solução ideal, até porque, seria uma forma de não incentivar as microtransações. Nada disso resolveria o problema de o gasto adicional ir diretamente para os bolsos dos desenvolvedores, mas esse me parece um problema muito maior e cuja única solução talvez seja eles se tornarem independentes.

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