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miHoYo, a startup de games mais valiosa do mundo

Avaliada em US$ 23 bilhões, chinesa miHoYo supera demais estúdios de games, Blue Origin e X no ranking de "unicórnios"

12/04/2024 às 10:51

Cai Haoyu, Liu Wei, e Luo Yuhao, co-fundadores e respectivamente CEO, presidente e VP da miHoYo, têm motivos de sobra para comemorar: a desenvolvedora chinesa, responsável pelos gacha games Genshin Impact e Honkai: Star Rail, ambos fenômenos em receita mensal, foi avaliada em US$ 23 bilhões, no mais recente relatório que lista os "unicórnios" mais valiosos do mundo.

Tal cifra coloca a miHoYo no topo da lista das startups privadas focadas em desenvolvimento de games, e à frente de diversas outras grandes companhias, como a aeroespacial Blue Origin, e a rede social X, dos bilionários Jeff Bezos e Elon Musk, respectivamente.

Genshin Impact (Crédito: Divulgação/Hoyoverse) / mihoyo

Genshin Impact (Crédito: Divulgação/Hoyoverse)

Gachas da miHoYo imprimem dinheiro

O relatório global, publicado todos os anos pelo Instituto de Pesquisa Hurun desde 2017, lista em ordem os "unicórnios", as companhias privadas (que não possuem ações negociadas em bolsas de valores) fundadas a partir do ano 2000, que ultrapassam o valor de mercado de US$ 1 bilhão. Seu foco é voltado principalmente às empresas e executivos originários da China e Índia.

A lista do Top 100 traz os suspeitos habituais, com a ByteDance (TikTok) no topo, avaliada em US$ 220 bilhões, seguida pela SpaceX, valendo US$ 180 bilhões. Nenhuma startup brasileira entrou na classificação geral, porém, a curitibana Olist (e-commerce, US$ 1,5 bilhão) aparece na 66.ª posição, entre as empresas co-fundadas por um executivo indiano, mas fora da Índia.

Sobre a posição do Brasil no relatório da Hurun, nosso país aparece em 9.º lugar na lista dos que abarcam mais unicórnios, com 18, sendo 15 deles sediados em São Paulo, o que faz da metrópole a 18.ª colocada no ranking de cidades. Ainda sobre falar o óbvio, a OpenAI foi a companhia que mais se valorizou entre 2022 e 2023, com um incremento de US$ 80 bilhões; atrás dela vêm SpaceX, ByteDance, Canva, e miHoYo, na ordem.

A desenvolvera de games, com sede em Xangai, atraiu a atenção dos pesquisadores do Instituto Hurun, visto que ela saltou incríveis 92 posições no ranking geral, quando seu desempenho atual é comparado ao do ano anterior; em valor bruto, a empresa subiu de US$ 7,2 bilhões para US$ 23 bilhões, um incremento de nada desprezíveis US$ 15,8 bilhões.

Na lista geral, o estúdio de Genshin Impact agarrou a 12.ª posição, superando a Blue Origin (US$ 20 bilhões), e o X (US$ 12,5 bilhões). Porém, no que tange exclusivamente a games, a miHoYo é hoje a desenvolvedora privada fundada após 2000 mais valiosa do mundo.

Em comparação, o segundo unicórnio dedicado a games que conseguiu entrar no Top 100, a Niantic (Pokémon GO), ficou em 67.º lugar, avaliada em US$ 9 bilhões; a sul-coreana Dream11 (fantasy sports), e a indiana Haegin (Play Together), aparecem respectivamente na 84.ª e 85.ª posição, ambas avaliadas em US$ 8 bilhões.

A rápida ascensão da miHoYo (não confundir com a Hoyoverse, subsidiária responsável pela distribuição de seus games no ocidente, antes conhecida como Cognosphere) não é totalmente uma surpresa. Seus games figuram entre os mais rentáveis todos os meses, no relatório de receita da Sensor Tower voltado a gacha games. Em março último, por exemplo, Honkai: Star Rail arrecadou impressionantes US$ 145 milhões em microtransações, e Genshin Impact US$ 68 milhões, assegurando respectivamente a 1.ª e 2.ª posições de gachas mais rentáveis.

Jogos mais antigos e outrora campeões em gastos dos jogadores, como Fate/Grand Order, não conseguem mais chegar perto do montante movimentado pelos games da miHoYo, que inclui o mais modesto em finanças Honkai Impact 3rd (US$ 4,23 milhões em março/2024), e há de se levar em conta que o estúdio prepara mais um game no mesmo estilo, Zenless Zone Zero, que deverá chegar em breve para iOS, Android, Windows e PS5.

Não é difícil entender por que isso aconteceu. A miHoYo, que se orgulha de ser um bando de "otakus tech" que "salvam o mundo" (o slogan da companhia), apostou alto em capturar o interesse do público geral com Genshin Impact, que apresenta uma mecânica de RPG de mundo aberto similar à de The Legend of Zelda: Breath of the Wild (o que lhe rendeu inclusive acusações de plágio, no início), ao design de personagens seguindo a estética anime, com belos modelos criados na engine Unity (antes desta criar problemas).

Honkai: Star Rail hoje é o carro-chefe da miHoYo, sendo o campeão de receita, o que é curioso, se lembrarmos que se trata de um gênero de game que muitos hoje consideram ultrapassado, o de RPG de turnos. O sucesso do estúdio é tamanho, que até mesmo Phil Spencer, chefe da Microsoft Gaming, lamentou não ter conseguido fechar um acordo para trazer Genshin Impact para o Xbox, no que a miHoYo se comprometeu com a Sony em consoles.

Curiosamente, o esforço da Microsoft em atrair mais jogos asiáticos não parece estar funcionando: Azur Promilia, um futuro gacha de mundo aberto do também estúdio chinês Manjuu, o mesmo de Azur Lane (e que andou pegando alguns elementos de Pokémon e Palworld), aparentemente será outro exclusivo do PS5 em consoles, além de chegar também ao iOS, Android e Windows, mas voltando...

O sistema de monetização baseado em gacha, com roletas e RNG, embora ainda considerado predatório (alguns estúdios abusam, outros pegam mais leve; os games da Hoyoverse ficam no meio-termo), geralmente ligada às loot boxes, em que ambas viraram alvo de investigações e legislações, se provou extremamente lucrativo para as desenvolvedoras, no que Genshin Impact vem sendo usado como um "modelo" a ser seguido, muitas vezes, mal implementado.

Mesmo alguns jogos AAA, com preço premium (cofcofDestiny2cofcof), andam implementando mecânicas de gacha, para incentivar o jogador a investir seu rico dinheirinho, em busca de itens, cosméticos ou personagens. Os games da miHoYo, embora apelem com personagens atraentes e interessantes, são F2P por definição, e o jogador não é obrigado a abrir a carteira para avançar, se não quiser.

Ao mesmo tempo, a previsão de que os Jogos Como um Serviço (GaaS) são o futuro da indústria, não foi talhada na pedra. A tendência geral, de migrar todos os tipos de produtos digitais para um formato de assinatura, ou de venda de conteúdos acessórios de forma permanente, vai irritar ferozmente o consumidor, quando feito da maneira errada, geralmente ao focar na receita acima da qualidade.

Um dos lançamentos mais esperados para o mês de abril de 2024, o Hack 'n Slash Stellar Blade, é um exemplo de devs seguindo na direção contrária: com design inspirado em NieR:Automata, mas pendendo para os Souls-like da FromSoftware na jogabilidade, ele é desenvolvido pelo estúdio sul-coreano Shift Up, do gacha game Goddess of Victory: Nikke (iOS, Android e Windows), que ficou famoso na internet graças às suas "curiosas" decisões de design. Claro que o game teve um evento em colaboração com o título de Yoko Taro, como adivinhou?

Jiggling à parte, a Shift Up foi recentemente avaliada em US$ 2,3 bilhões, mas não deverá entrar na lista de unicórnios de 2025, já que ela se prepara para ir a IPO em breve. A miHoYo nunca mencionou intenções de se tornar uma empresa pública, até porque seus fundadores estão muito bem, obrigado.

O CEO Cai Haoyu, por exemplo, tem uma fortuna pessoal estimada, segundo dados de outubro de 2023, em ¥ 67 bilhões (~R$ 47,44 bilhões, cotação de 12/04/2024), o que faz dele o 55.º chinês mais rico do país, e um dos seletos bilionários que andam incomodando o premiê Xi Jinping, na conta dele, por estes priorizarem o ganho pessoal sobre o bem do Estado, o que inclusive rendeu pressão contra o estúdio, levando a alterações no design de algumas personagens, considerados reveladores demais.

As mais recentes e duríssimas regras propostas para jogos online na China, embora o governo tenha dado para trás, mostram que Pequim não anda tão contente com desenvolvedores e estúdios "saidinhos" demais, ainda que seus games rendam muito dinheiro ao país.

No mais, dizer que Zenless Zone Zero, um Hack 'n Slash com elementos de RPG e forte inspiração na série Persona, vai render mais uns bons milhões à miHoYo é chover no molhado, o que pode levar ao estúdio subir algumas posições no ranking do Instituto Hurun em 2025.

Fonte: Hurun Research Institute

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