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Sekiro: Shadows Die Twice — Review

Com excelentes enredo e ambientação, e uma dificuldade elevada, mas justa, Sekiro: Shadows Die Twice dá início à disputa dos melhores games de 2019

5 anos atrás

Brutal. Ultrajante. Recompensador. Sekiro: Shadows Die Twice, o mais novo título da FromSoftware é tudo isso. Não é novidade vindo do estúdio, que graças à franquia Souls e a Bloodborne, ganhou a fama da Casa dos Horrores, ao lançar jogos absurdamente difíceis, com mecânicas voltadas a punir o jogador o tempo inteiro.

Sekiro: Shadows Die Twice

Só que o diretor Hidetaka Miyazaki fez diferente desta vez: ele trouxe uma cativante história sobre honra e redenção, situada no Japão feudal, com novas e interessantes mecânicas a tiracolo. O resultado é um game sólido, que consegue até a proeza de ser "amigável" com quem está chegando agora no gênero.

"Nunca se esqueça do Código de Ferro"

A trama de Sekiro: Shadows Die Twice se passa durante os últimos estágios da Era Sengoku. O protagonista, conhecido apenas como "Lobo", é um shinobi (ninja) a serviço de seu jovem mestre Kuro, herdeiro da "linhagem do dragão", o que faz dele um alvo para o senhor feudal da região em que vivem. Resumindo o início da história, o Lobo não consegue evitar que seu mestre seja levado, e de quebra perde o seu braço esquerdo.

O Lobo é então salvo por um escultor, que dá a ele um braço substituto, a prótese shinobi. Este aparato é a chave de boa parte das mecânicas de Sekiro, ao permitir a instalação de apetrechos como lançadores de shurikens, machados, bombinhas e um gancho, usado para para se locomover.

A missão do Lobo é simples: como ele é regido por um rígido "Código de Ferro", ele tem a obrigação de resgatar seu mestre, e contará não só com seu novo braço, mas com uma habilidade conferida a ele por seu senhor, a de reviver infinitamente.

Uma nova realidade

Sekiro: Shadows Die Twice

Ao desenvolver Sekiro: Shadows Die Twice (que quase foi um título da série Tenchu), a intenção de Hidetaki Miyazaki era prover uma jogabilidade mais ágil e brutal do que as presentes em seus títulos anteriores. Embora a dificuldade da franquia Souls seja inegavelmente alta, e mesmo Bloodborne não fuja muito disso (embora alguns digam que ele é bem mais fácil), o jogador pode se permitir esperar, traçar estratégias para sobrepujar seus oponentes e dessa forma, assegurar sua sobrevivência.

Aqui, isso não ocorre. A velocidade dos combates é alta, e quem ficar na defensiva vai apanhar de forma inevitável. Sekiro faz uso do ditado "a melhor defesa é o ataque" ao pé da letra, é preciso ser extremamente ofensivo para superar os desafios, mas lançar-se inconsequentemente num combate também não é uma decisão inteligente. Como agir, então?

Primeiro, é preciso entender as capacidades tanto suas, quanto as de seu adversário. Na maioria das vezes, mesmo os mais fracos são tão ou mais rápidos que você, que também é mais habilidoso, graças ao fato do Lobo ser um shinobi. Você e o oponente possuem uma barra de postura, que enche conforme você ou ele defende golpes.

Sekiro: Shadows Die Twice

Quando essa barra enche, a postura é quebrada, deixando você ou o inimigo vulnerável para um ataque fulminante. Em geral, inimigos comuns podem ser derrotados com uma ofensiva do tipo, enquanto os mais poderosos e chefes precisam de dois ou mais. Há também os ataques de investida, que não podem ser bloqueados.

Para evitar que sua postura seja quebrada, ou ser surpreendido por um ataque de investida, é essencial dominar as técnicas de esquiva e de repelir golpes, que nada mais é do que o bom e velho "parry" dos jogos de luta: apertar o botão de defesa no último instante anula completamente o golpe, abrindo caminho para um contra-ataque. Mas não se engane, seu adversário irá usar a artimanha contra você, muitas vezes imediatamente após um parry seu.

No fim das contas, o desafio se torna muito maior quando comparado aos três títulos da série Dark Souls, e chegando no nível do insano Demon's Souls. A diferença é que o Lobo dispõe de inúmeros recursos e habilidades que tornam a experiência mais agradável, e não um mero exercício de masoquismo por parte do jogador.

Sekiro: Shadows Die Twice

Em resumo, Sekiro: Shadows Die Twice é a tábua que aprendeu a revidar.

Lutar, cair e levantar. Repita

Isso não quer dizer que Sekiro não é punitivo a beça. As principais características do gênero criado pela FromSoftware estão lá, a derrota ainda resultará em perda de dinheiro e pontos de habilidade, mas diferente de seus antecessores, há aqui a mecânica de ressurreição, uma "dádiva" concedida ao protagonista pelo lorde Kuro: ao ser abatido em combate, o Lobo pode reviver quase que imediatamente, permitindo que o jogador tente mais uma vez superar os desafios.

É possível, por exemplo, esperar que o oponente dê as costas a seu cadáver, reviver e pega-lo desprevenido, o que nem sempre funciona (chefes e inimigos poderosos em geral são imunes a tal marmotagem), mas ajuda um pouco.

Sekiro: Shadows Die Twice

Só que Miyazaki não é bobo, e colocou limitações no recurso. Se você perecer e reviver demais, as pessoas ao seu redor ficarão doentes, afligidas pela "praga do dragão", que resultará em menos bônus e maiores punições. É possível cura-la, com o auxílio da médica Emma (que também é capaz de aumentar a capacidade de sua cabaça curativa, ao entregar sementes para ela), mas a chave é: não apanhe demais. O que chega a ser sarcástico.

Além de Emma, o escultor proverá a instalação de novos equipamentos em sua prótese shinobi, cada vez que você encontrar uma arma ou ferramenta compatível item, e Hanbei, o Imortal é um samurai similar ao Lobo, que se oferece para treinar o jogador. Assim, é essencial voltar ao Templo Dilapidado de tempos em tempos.

O essencial para prosseguir em Sekiro é dominar as habilidades do Lobo, principalmente as de ocultação e deslocamento. Abuse do gancho (que também pode ser usado como uma arma) para navegar pelo cenário, e sempre dê preferência para pegar os inimigos distraídos, quando possível. Isso permitirá que você seja derrotado bem menos.

Sekiro: Shadows Die Twice

Tecnicamente, Sekiro: Shadows Die Twice é de encher os olhos. O game usa o mesmo motor gráfico de Dark Souls III para dar vida a um Japão feudal muito bonito, com ambientes multi-níveis quase que totalmente interligados. O som é muito bem executado, com destaque para a trilha sonora, novamente a cargo da competente Yuka Kitamura.

No entanto, nem tudo é festa. No PS4 original e Slim, ou no Xbox One original e Xbox One S, o game roda em 1080p a 30 frames por segundo cravados, o que é uma boa decisão. Porém, quando passamos para o PS4 Pro (sistema em que se baseou este review) ou o Xbox One X, o framerate tenta chegar a 60 fps, mas pode cair em momentos com muitos inimigos ou elementos na tela, principalmente relva ou fogo.

O patch liberado no primeiro dia resolveu boa parte desses problemas, mas esta é uma constante nos games da FromSoftware: a melhor taxa de quadros por segundo continua sendo provida pela versão de PC.

Por fim, Sekiro conta com áudios em inglês e japonês, e legendas em português brasileiro muito bem adaptadas.

Conclusão

Sekiro: Shadows Die Twice é um game que consegue agradar a gregos e troianos: ele não decepciona os fãs da FromSoftware ao trazer uma dificuldade brutal, mas ao mesmo tempo, não é tão amedrontador para quem está começando agora a apreciar os títulos do estúdio, graças a uma série de elementos que não deixam a aventura mais fácil, e sim, mais justa.

Sekiro: Shadows Die Twice

Some-se a isso as excelentes locações do Japão antigo, um enredo cativante, com personagens carismáticos e cheio de reviravoltas, inimigos formidáveis (alguns monstruosos, como é de costume) e um inteligente sistema de ação e punição, mesmo à mais básica das mecânicas, e temos um jogo muito inteligente, que vai ser presença constante nas listas de melhores games de 2019, no fim do ano.

A meu ver, Sekiro: Shadows Die Twice não é um título Souls-like, nem mesmo um Tenchu-like, e sim um Sekiro-like: ele tem identidade própria e caminha com as próprias pernas, chegando a subverter alguns dos dogmas que Hidetaka Miyazaki estabeleceu lá atrás, mas sem fugir do "Código de Ferro" da desenvolvedora:

"Sim, o jogo é muito difícil mesmo".

Sekiro: Shadows Die Twice — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS4, Xbox One e Windows via Steam (análise baseada na versão para PS4 Pro);
  • Desenvolvedora — FromSoftware;
  • Distribuidora — Activision;
  • Classificação Indicativa — 18 anos.

Pontos Fortes

  • Desafio altíssimo, porém recompensador;
  • Foge da "receita de bolo" da série Souls e Bloodborne;
  • Relativamente acessível a novos jogadores.

Ponto Fraco

  • O framerate não é constante no PS4 Pro e Xbox One X.

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