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XaaS: o êxodo das empresas para o Tudo como um Serviço

XaaS é o futuro: mais de metade das empresas de software deve migrar para modelo de serviços com monetização recorrente até 2023

2 anos e meio atrás

O XaaS, de Everything of a Service (em português, Tudo como um Serviço) evoluiu a passos largos na última década, com conexões à internet de alta velocidade se tornando mais acessíveis ao grande público. O modelo de negócios diz que qualquer produto em TI, seja um software, um game, bancos de dados, IA, armazenamento, processamento computacional, hardware, infraestrutura, conteúdo de mídia e etc., pode ser oferecido como um serviço online mediante pagamentos regulares (assinaturas), ou com cobranças baseadas no uso, ao invés de um pacote de compra única.

E segundo um relatório da empresa de consultoria Revenera, a tendência é que cada vez mais companhias adotem o modelo de receita contínua pelo uso de seus produtos e softwares, ao invés de contar com vendas individuais.

Cada vez mais empresas de TI, em diversos setores, estão adotando o modelo XaaS (Crédito: Negative Space/Pexels)

Cada vez mais empresas de TI, em diversos setores, estão adotando o modelo XaaS (Crédito: Negative Space/Pexels)

A pesquisa de mercado conduzida pela Revenera foca principalmente em empresas de software, mas ele fornece informações interessantes sobre o panorama geral em TI, em diversas ramificações. De acordo com os dados coletados, o formato de monetização dominante hoje no setor é o de assinaturas, com 36% do total, seguido pelo de concessão de licenças perpétuas (vendas únicas), com 24%.

No entanto, 53% das empresas entrevistadas afirmam que irão migrar para o modelo de monetização continuada, que incluem assinaturas, que passará a responder por 53% do total, e de cobrança com base no uso, este saltando para 37%. O principal motivo para essa mudança de abordagem, segundo o relatório, está no desejo de implementar modelos de receita recorrentes, defendido por 62% das companhias entrevistadas.

Não é preciso ir muito longe para entender por que isso acontece: a Microsoft, que durante a gestão do CEO Satya Nadella se tornou uma empresa fundamentalmente prestadora de serviços, chegou a no passado encorajar usuários a usarem o Microsoft 365, a suíte de escritório com acesso à nuvem e oferecida como um serviço, ao invés do legado Office 365, que opera no modelo tradicional de licença única. A desculpa usada, o primeiro é mais constantemente atualizado e funciona melhor online.

Na realidade, é mais conveniente para a Microsoft contar com mais usuários que pagam por mês, ou anualmente, para continuarem usando a suíte Office, do que vender um pacote fechado de softwares apenas uma vez, mesmo ele sendo bem caro e não contemplando versões futuras.

Isso vale também para serviços corporativos e sua plataforma Xbox, cujo lançamento do Game Pass para consoles da Sony e Nintendo chegou a ser cogitado; hoje, a companhia defende inserir o acesso a seus jogos exclusivos por streaming em TVs, dongles e set-top boxes, para atender quem não pode pagar por um Xbox Series X|S ou um PC de ponta, mas quer jogar mesmo assim. Além de seus consoles, os jogos na nuvem do Xbox estarão disponíveis em PCs e dispositivos móveis.

Microsoft posiciona plataforma Xbox como um Serviço, usando o Game Pass (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Microsoft posiciona plataforma Xbox como um Serviço, usando o Game Pass (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Seja Microsoft 365, Azure, Xbox ou mesmo o Windows, que embora seja ainda vendido como uma licença única por versão, também é tratado pela gigante de Redmond como um serviço, essa mudança de filosofia permitiu à Microsoft aumentar bastante seu valor de mercado desde 2014, e hoje é uma das poucas companhias que ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão, ficando atrás apenas da Apple, que já passou dos US$ 2 trilhões.

Curiosamente, mesmo com a maçã sendo hoje a empresa mais valiosa do mundo, ela investe menos no formato XaaS do que seus concorrentes, até por ser uma vendedora de produtos que se beneficia mais do conceito do Jardim Murado. Por outro lado alguns de seus serviços, como iCloud e Apple TV+, são acessíveis a qualquer um que não possua um iPhone, iPad, Mac ou outro iGadget.

Há também os modelos de GaaS (Games as a Service), em que o próprio jogo é um serviço permanente. Ele geralmente oferece um "backbone" gratuito e modelos de monetização interna variados, como venda de itens e loot boxes e até DLCs, em maior ou menor grau.

Como exemplos recentes de modelos de GaaS bem sucedidos, podemos citar Fortnite, PUBG: Battlegrounds, Free Fire, Fall Guys: Ultimate Knockout e outros Battle Royales, a totalidade dos gacha games, como Genshin Impact, FPS como a série Call of Duty (Warzone entra no gênero Battle Royale) e Overwatch, e mesmo títulos de esporte, como o modo Ultimate Team da série FIFA.

Voltando ao relatório da Revenera, empresas que adotam o modelo de monetização contínua, seja com assinaturas ou cobrança com base no uso de seus serviços, precisam considerar tanto o formato de seus produtos, quanto o impacto que a migração causará em seus clientes. Para isso é preciso estabelecer o equilíbrio entre o preço praticado e o valor percebido pelos usuários, o que é essencial para garantir a adesão.

A transição do modelo tradicional para o de XaaS deve ser acompanha de estudos e pesquisas de interesse junto aos usuários, para determinar o que ele considera válido em um serviço de assinatura ou por demanda, e o que melhor se enquadra com a concessão perpétua de uso, o que pode ser entendido como o motivo principal da Microsoft nunca ter encerrado o Office tradicional. Ao invés disso ele receberá uma nova versão, que será lançada junto com o Windows 11.

Claro que do ponto de vista de qualquer empresa, em que o objetivo principal é o lucro, o modelo do XaaS é muito atraente, mas precisa ser implementado da maneira correta. De acordo com a Revenera, apenas 30% das companhias avaliadas afirmam ter alinhado totalmente a relação entre preço e valor percebido de seus softwares.

Pode ser que num futuro próximo, boa parte ou todos os produtos de TI, sejam hardware, software ou consumo, passem a ser oferecidos a clientes finais e empresariais no regime de XaaS, mas o maior desafio será convencer o cliente de que ele está fazendo um bom negócio, abrindo mão de um produto permanente.

Fonte: Revenera, VentureBeat

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