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ASML: EUA pressiona pelo fim de manutenção à China

EUA consideram pressionar ASML a interromper manutenção de máquinas vendidas para a China, o que pode afetar terrivelmente sua receita

11/04/2024 às 11:08

A ASML, a companhia neerlandesa que fabrica maquinários voltados à impressão de semicondutores e chips, que usamos em quase tudo hoje em dia, encontra-se em uma situação complicada. As disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China estão prejudicando seus negócios, e as coisas tendem a piorar.

Recentemente, os EUA conseguiram forçar a ASML, via pressão junto ao governo dos Países Baixos, a cancelar pedidos de máquinas de ponta aos chineses, fechados antes do mais recente embargo, mas o governo Biden pretende impedir que a empresa prestes serviços de manutenção às já vendidas, de modo que elas deixem de funcionar com o tempo, por falta de assistência.

ASML já não pode vender maquinário moderno para a China, e pode ser forçada a interromper manutenção, o que pode impactar em sua receita (Crédito: ASML/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

ASML já não pode vender maquinário moderno para a China, e pode ser forçada a interromper manutenção, o que pode impactar em sua receita (Crédito: ASML/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O problema, além de já ter ficado claro que as sanções contra a China estão tendo o efeito contrário ao esperado, a ASML pode ter uma enorme fonte de receita cortada, o que levaria a possíveis desenvolvimentos negativos.

ASML e o rombo na receita

Em 2019, ainda durante a administração Trump, os EUA começaram a engrossar para o lado da China, na série de restrições e banimentos de companhias que vendiam produtos e/ou prestavam serviço a consumidores e empresas do país. A Huawei e a ZTE foram feitas de exemplo, tendo sido impedidas de acessar produtos e componentes, do Android a semicondutores fabricados por parceiros, como a Coreia do Sul e Taiwan.

A ASML também estava incluída na lista de empresas proibidas de fazer negócios com certas empresas chinesas, especialmente a SMIC, a maior manufatura de semicondutores local, a Biren Technology e a Moore Threads. Todas elas foram acusadas de serem ligadas ao governo de Pequim (dã!), no desenvolvimento de componentes que seriam fornecidos aos aliados e membros do chamado "Eixo do Mal", que incluem nações como Irã, Cuba, Coreia do Norte e Síria, e mais recentemente, a Rússia.

A invasão russa à Ucrânia, em fevereiro em 2022 e ainda um conflito em curso, mostrou que as tropas de Putin têm acesso, mesmo com as sanções, a componentes modernos que usam designs desenvolvidos nos EUA, no que, em teoria, a China seria a principal fornecedora. O Kirin 9000s da Huawei, que segundo os EUA, não deveria existir, foi outra evidência.

Em 2023, o Departamento de Segurança norte-americano engrossou para o lado do governo neerlandês, que passou a apertar a ASML cada vez mais. As sanções mais recentes impediam a companhia de vender aos chineses os maquinários mais modernos, baseados em ultravioleta profundo (DUV), que viabilizam processos de litografia mais recentes.

Em dezembro, os EUA passaram por cima das próprias regras que estabeleceu, e entraram no modo "manda quem pode, obedece quem tem juízo", levando a ASML a cancelar vendas de máquinas fechadas antes do embargo, o que era até então permitido. A ordem de Washington era impedir que a China colocasse a mão no maquinário mais recente, não importa como.

Não obstante, os Países Baixos revogaram posteriormente acordos que permitiam à ASML negociar certos processos de litografia com empresas chinesas, sem dizer quais. Na prática, a companhia hoje não pode vender NADA para a China

Claro, nada está tão ruim que não pode piorar, e o caldo pode entornar ainda mais.

De acordo com Alan Estevez, subsecretário de Comércio para Indústria e Segurança, do Departamento de Comércio dos EUA (o órgão presidido pela secretária Gina Raimondo, a que puxou a orelha de Jensen Huang, CEO da Nvidia), Washington pretende pressionar os países aliados, de modo que estes imponham limites às empresas que prestam serviços de assistência a equipamentos vendidos à China, a fim de cortar tais canais completamente.

A ASML, que fabrica máquinas impressoras de semicondutores, é a empresa mais valiosa da Europa (Crédito: Divulgação/ASML)

A ASML, que fabrica máquinas impressoras de semicondutores, é a empresa mais valiosa da Europa (Crédito: Divulgação/ASML)

O objetivo é simples, maquinários que usam designs norte-americanos, mesmo os defasados, precisam de manutenção especializada, e uma vez que a ASML (não sejamos ingênuos, óbvio que ela é o principal alvo) não poderá mais o fornecer à SMIC e outras clientes, essas ficariam com o tempo inutilizadas, pela ausência de suporte.

Os Países Baixos, como membros da OTAN, têm por obrigação fazer todo o possível para frear avanços tecnológicos em áreas sensíveis (militarmente falando) de opositores do bloco, no que hoje a principal ameaça é a Rússia. A proximidade entre Vladimir Putin e o premiê Xi Jinping, e o histórico de componentes chegando aos russos pelo que acreditam ser descaminho provido por Pequim, justificariam a pressão contra a ASML.

Por outro lado, a ASML, hoje a companhia mais valiosa da Europa, acabaria sofrendo um baque financeiro gigantesco. Segundo estimativas, a manutenção de equipamentos vendidos em todo o mundo responde por 20% da receita, no que a China foi sua segunda maior cliente em 2023, perdendo apenas para Taiwan (29% das vendas), graças principalmente à TSMC. A Coreia do Sul ficou em terceiro lugar em número de pedidos, pouco atrás dos chineses.

Caso a ASML seja forçada politicamente a encerrar a manutenção de seus equipamentos na China, o prejuízo será enorme; embora no passado, representantes da companhia tenham dito que as sanções até então não impactariam seus negócios, este não parece ser mais o caso. Não obstante, as empresas chinesas podem (e deverão) exigir reembolsos dos valores já pagos pelos serviços que podem não ser prestados, o que aumentaria o rombo ainda mais.

Uma reunião entre Estevez, representantes da ASML e do governo neerlandês, realizada nesta segunda-feira (8), teria como objetivo estabelecer as condições para que a empresa possa encerrar o suporte de seus produtos na China, e é fato que a empresa não gosta de como seu governo está lidando com a situação, visto que sua direção estaria inclusive cogitando deixá-lo, o que a Holanda estaria tentando evitar.

De qualquer forma, a ASML está mudando. A recente saída dos co-presidentes, Martin Van den Brink e Peter Wennink, que atuaram no comando da empresa por 11 anos, vem sendo entendido como uma consequência das pressões externas. Em entrevista, Van den Brink disse que um congelamento das vendas "não nos ajudará em nada", e que a China "não vai esperar" para sempre.

De fato, vários críticos apontam para que as sanções, projetadas para manter os chineses atrasados, está tento o efeito inverso, com seus engenheiros correndo para aprimorar seus designs e modificar o maquinário a que têm acesso hoje, o que foi feito inclusive com os antigos da ASML, aprimorados para trabalharem com litografias menores que as que foram originalmente projetadas. Manutenção periódica é fichinha perto disso.

Assim, a única prejudicada nessa queda de braço entre os EUA e a China, seria a ASML, e por tabela, o mercado europeu de semicondutores; não que os americanos, ou os chineses, estejam preocupados com isso.

Fonte: The Next Web

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