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China ficará "10 anos atrás" graças a sanções, diz CEO da Intel

Para Pat Gelsinger, sanções dos EUA manterão China atrás de Intel, Samsung e TSMC em semicondutores... mas não combinou isso com os chineses

12 semanas atrás

Pat Gelsinger, CEO da Intel, acredita que a China não será capaz de se manter a par dos avanços em semicondutores de sua companhia, e de outras como Samsung e TSMC, graças à série de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos.

Em declaração recente, o executivo afirmou que as medidas manterão o País do Meio atrasada em pelo menos 10 anos, de forma permanente, mas os recentes desenvolvimentos de companhias locais mostram que Gelsinger ou não acompanha o mundo ao seu redor, ou está em fase de negação.

Pat Gelsinger acredita que a China não será capaz de alcançar Intel, Samsung e TSMC, mas não é o que as evidências mostram (Crédito: Divulgação/Intel)

Pat Gelsinger acredita que a China não será capaz de alcançar Intel, Samsung e TSMC, mas não é o que as evidências mostram (Crédito: Divulgação/Intel)

Pat Gelsinger deu suas opiniões sobre a China durante a edição 2024 do Fórum Econômico Mundial, em uma conversa com o engenheiro e economista alemão Klaus Schwab, fundador do evento, na última quarta-feira (17). O bate-papo entre os dois abordou vários temas, incluindo alguns dos planos da Intel para o futuro, no que tange à manufatura de novos chips.

Seu processo de litografia proprietário 20A, de 2 nanômetros em processo de ultravioleta extremo (EUV), deverá ser o adotado pela família de processadores Arrow Lake, para componente destinados ao usuário final (desktops e laptops), ainda para 2024; o 18A, de 1,8 nm EUV, por enquanto será usado por clientes corporativos de grande porte, como a Ericsson, para chips de 5G voltados a SoCs, e a ARM, em desenvolvimento de equipamentos voltados a infraestrutura.

Ao mesmo tempo, a Intel afirma que seu processo de 1 nm, em fase de desenvolvimento, deverá ser melhor do que o prometido pela TSMC, sua parceira comercial e rival, e deverá chegar ao mercado bem antes; os taiwaneses projetaram alcançar tal litografia até 2030.

Sobre a China, Pat Gelsinger acredita que as sanções impostas pelo governo dos EUA, que proíbem a venda de componentes, hardware e maquinário, que usam processos e designs norte-americanos, para empresas do país, está "funcionando conforme o esperado" pelas autoridades. O CEO da Intel disse que, como companhias como a SMIC, que imprime semicondutores, estão com poucas opções.

Isso porque esta e outras, como Huawei e ZTE, não podem sequer colocar as mãos nas máquinas da ASML, já que Casa Branca apelou para a diplomacia de canhoneira, conseguindo cancelar pedidos fechados antes do embargo passar a valer, ou seja, compras legais, na base do "manda quem pode, obedece quem tem juízo", e os holandeses obedeceram. Outras restrições afetam empresas como a Nvidia, que vem se enrolando com o governo, por tentar contornar as sanções e continuar vendendo para a China.

Gelsinger diz que as companhias chinesas permanecerão presas no processo de litografia entre 10 nm e 7 nm, e mesmo que consigam desenvolver tecnologia próprias, permanecerão atrasadas em relação à Intel, Samsung e TSMC em pelo menos 10 anos, por tempo indeterminado; na cabeça do executivo, para sempre.

Sim, eu sei, são as clássicas e famosas "ultimas palavras". O mundo corporativo está cheio de casos assim, com executivos falando mais do que deviam, sem analisar o mercado e o mundo ao redor; um dos mais emblemáticos envolve a BlackBerry, quando ainda se chamava RIM, na época do lançamento do primeiro iPhone, em 2007.

Jim Baisille, co-fundador da empresa, chegou a dizer que "as pessoas entram nas lojas atrás de um iPhone, e saem com um BlackBerry", e em 2008, o então CEO Mike Lazaridis vaticinou que o iPhone jamais emplacaria, por não ter... teclado QWERTY. O tempo mostrou quem tinha razão, e para variar, esse era Steve Jobs.

Pat Gelsinger acredita piamente que as sanções dos EUA estão cumprindo com o idealizado, que é manter o desenvolvimento de semicondutores da China violentamente atrasado, quando, na verdade, ele estaria tendo o efeito inverso: na opinião do conceituado engenheiro Burn-Jeng Lin, ex-TSMC, os atos de Washington serviram como um gatilho, estimulando profissionais do setor a contornar suas limitações de maneiras criativas.

Um dos métodos envolve as máquinas da ASML que a SMIC já possui. Originalmente voltadas a processos de litografia mais antigos, elas teriam sido submetidas a procedimentos de engenharia reversa e refino de suas capacidades, tendo passado a dar conta de técnicas mais recentes; empresas como a Huawei, por outro lado, estariam aproveitando estoques antigos, e outras manobras, para desenvolver novos chips.

O chip Kirin 9000S, de 7 nm, enfureceu a Casa Branca, pois na sua concepção, ele "não deveria existir"; incluso no smartphone Huawei Mate 60 Pro, ele foi construído com componentes de empresas que não podem fazer negócios com a China, como a sul-coreana SK Hynix, sugerindo que se tratava de estoques antigos.

Como se não bastasse, o Kirin 9006C, outro SoC ARM, mas voltado para laptops, deixou os reguladores norte-americanos ainda mais fulos nas calças, por ser impresso em "impossíveis" 5 nm, mas o desmonte do Qingyun L540 revelou que ele usa um processo da TSMC de 2020, mais antigo e ineficiente; ao contrário do que todos pensaram, ele não foi impresso do zero pela SMIC.

No entanto, fontes indicam que este chip está sendo estudado pela Huawei para que ela implemente seu próprio processo de 5 nm quanto antes; claro que ainda há uma grande distância, mas a China definitivamente não está "10 anos atrasada", e ninguém sabe do que a SMIC será capaz com o maquinário modificado da ASML.

O Kirin 9006C, que usa processos antigos da TSMC, seria base para a Huawei desenvolver litografia própria de 5 nm (Crédito: Divulgação/Huawei)

O Kirin 9006C, que usa processos antigos da TSMC, seria base para a Huawei desenvolver litografia própria de 5 nm (Crédito: Divulgação/Huawei)

Gelsinger diz que a China continuará inovando, mas com limitações significativas graças aos embargos, que manteriam o gap de uma década entre SMIC, Huawei, ZTE e outras, frente à Intel, Samsung, TSMC e demais companhias que não podem fazer negócios com o país, mas decretar que tal cenário será permanente (e a distância real nem é de 10 anos, de qualquer forma) é extremamente arriscado, além de uma colossal demonstração de arrogância.

Vale lembrar que a própria Intel se atrapalhou por anos para reduzir seus processos de 14 nm para 10 nm, culminando com a Apple dispensando a arquitetura x86/64 em prol do ARM em Macs, assim, seria prudente para a companhia de Pat Gelsinger observar com mais atenção o que acontece na China, e responder de acordo, ao invés de bancar a IBM.

Fonte: PC Gamer, ExtremeTech

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