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X: Êxodo de anunciantes, processos e caos

X acusa agência de checagem de difamar plataforma para afastar anunciantes; ao mesmo tempo, Elon Musk endossa postagem antissemita

16 semanas atrás

A má fase do X (antigo Twitter) continua: não bastasse a investigação aberta pela Comissão Europeia, acusando-o de não fazer por onde para combater postagens com informações falsas e discurso de ódio, a rede social enfrenta também a debandada geral de anunciantes, com Apple, IBM, Disney, Warner Bros., Sony, Ubisoft, Lionsgate e Paramount, entre outras, integrando a última leva de empresas abandonando o site.

O motivo para a desistência dos anunciantes (a Apple inclusive já havia pulado fora antes, voltou, e agora saiu de novo), segundo Elon Musk e a CEO Linda Yaccarino, seriam artigos "difamatórios" publicados pela agência de checagem Media Matters, que identificou anúncios ligados a extremistas, incluindo grupos neonazistas, ligados a posts de empresas.

Após endosso de Elon Musk a post de cunho antissemita, ainda mais anunciantes fugiram do X (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Após endosso de Elon Musk a post de cunho antissemita, ainda mais anunciantes fugiram do X (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Nesta segunda-feira (20), Musk abriu um processo "termonuclear" contra a Media Matters, acusando-a de manipular informações para difamar o X, enquanto o bilionário, dono do hoje não tão popular site de microblogs™️, endossava uma publicação antissemita baseada em teorias da conspiração anti-Israel, o que alguns anunciantes apontaram como o real motivo para desistir do site.

X continua perdendo anunciantes

Quando Elon Musk comprou o X, então Twitter, por US$ 44 bilhões em 2022, o executivo prometeu fazer da rede social uma plataforma que protegeria a "liberdade de expressão absoluta" de seus usuários, declaração que lhe rendeu puxões de orelha de reguladores, especialmente da União Europeia (UE).

De lá para cá, o bilionário foi alertado diversas vezes de que o X será obrigado a se submeter às Leis e regras que regulamentam o que pode e o que não pode ser publicado na internet, o que inclui o combate às Fake News e discursos de ódio, e o estabelecimento de proteções para evitar que conteúdos inadequados sejam acessados por menores de idade.

Musk esticou a corda o quanto pôde, acreditando que por ser o homem mais rico do mundo, suas companhias deveriam ser livres para fazerem o que ele quiser (qualquer semelhança com a OCP não é uma mera coincidência), basta observar o caso da Neuralink.

Voltando ao X, departamentos de moderação e controle de conteúdo foram encerrados em todo o mundo, e contas banidas por postagens de ódio ou difamatórias anteriormente, durante a gestão anterior, foram restauradas, o que inclui o influencer Andrew Tate, acusado de tráfico humano (ele aguarda julgamento na Romênia, e não pode sair do país), a congressista republicana Marjorie Taylor-Green, e o ex-presidente dos EUA Donald Trump.

O único limite para Musk continua sendo o nefasto Alex Jones, embora a motivação para que ele continue longe do X seja puramente pessoal.

É importante lembrar que, durante a gestão de Jack Dorsey e seus sucessores diretos, o Twitter era assumidamente uma rede social de esquerda, embora jurasse que isso não influenciava como a plataforma era administrada (mentira, claro). Musk chegou prometendo que todos teriam espaço no site, independente de seu alinhamento político, mas o que se seguiu foi uma profusão de postagens com ataques a minorias e grupos étnicos, que eram barradas pelos moderadores.

Não demorou muito para que postagens patrocinadas desses perfis começassem a aparecer com mais frequência, no que os primeiros relatórios da Media Matters apontaram para postagens de um notório perfil pró-nazismo, hoje suspenso, anexados a posts patrocinados de anunciantes.

A reação foi imediata: vários parceiros comerciais do X, que injetavam grana em publicações patrocinadas, pausaram suas campanhas e algumas não voltaram desde então. A reação de Musk foi contratar Linda Yaccarino, ex-chefe de Publicidade da NBCUniversal, para assumir a posição de CEO da empresa, graças aos seus contatos com empresas, e falar a língua dos anunciantes.

Ela teria a missão de recuperar a confiança dos parceiros comerciais, o que deu certo em alguns casos, como a Apple, que voltou a anunciar.

Linda Yaccarino, CEO da X Inc., vem sendo aconselhada por agências de publicidade a renunciar e salvar sua imagem (Crédito: Jerod Harris/Vox Media/Getty Images)

Linda Yaccarino, CEO da X Inc., vem sendo aconselhada por agências de publicidade a renunciar e salvar sua imagem (Crédito: Jerod Harris/Vox Media/Getty Images)

O grande problema, claro, é Elon Musk. Além de desbocado, ele continua sendo o presidente e CEO de facto do X, a companhia segue para a direção que o bilionário indicar, algo que a própria Yaccarino admitiu.

Por ter pouca autonomia, e as ações de Musk terem impacto sobre a plataforma, Yaccarino estaria sendo aconselhada por parceiros e agências a renunciar ao posto de CEO, a fim de preservar sua imagem e se desvincular do X. Ela, no entanto, não demonstra ter a intenção de sair, por acreditar na missão da rede social e em seus colaboradores, de acordo com fontes.

Elon Musk endossou post antissemita

Embora o X tenha tomado algumas atitudes para conter a vinculação de postagens controversas a anúncios, um novo relatório da Media Matters novamente mostrou que a prática ainda ocorre. Desta vez, a publicação levou ao congelamento de campanhas das empresas citadas no início do artigo, no que a Apple o fez pela segunda vez.

Tanto Musk quanto Yaccarino acusam a agência de checagem de ter uma agenda anti-X, no que teriam forjado ligações dos posts antissemitas com anúncios de forma artificial, embora admitiam que as publicações originais pró-Hitler são reais, e não estão sendo barradas.

No processo aberto contra a Media Matters, o X diz que a pesquisa conduzida pela agência foi manipulada, de forma que os anúncios relacionados aos posts problemáticos não apareceriam de forma orgânica, mas não se atreve a dizer que as publicações são falsas, pois de fato, não são.

Paralelo a isso, Elon Musk se complicou ainda mais ao concordar com uma postagem antissemita no X, tratando a Teoria da Grande Substituição como "verdade". Essa linha de pensamento, de cunho extremamente racista, discorre sobre um plano sistemático de "genocídio branco" global em favor de minorias (negros, semitas, latinos, etc.).

A teoria foi motivação para massacres recentes, como o de Buffalo, nos EUA (maio de 2022), o da mesquita de Christchurch, na Nova Zelândia (março de 2019), e o da sinagoga Tree of Life em Pittsburgh, também nos EUA (outubro de 2018), especificamente este caso o abordado no tweet original, com o qual Musk concordou.

Musk defendeu a Teoria da Grande Substituição como "verdade" (Crédito: Reprodução/X)

Musk defendeu a Teoria da Grande Substituição como "verdade" (Crédito: Reprodução/X)

Embora o X credite os artigos da Media Matters como os responsáveis pelo Êxodo de anunciantes, o estúdio Lionsgate foi categórico ao afirmar que o real motivo para a empresa pausar suas campanhas, foi exclusivamente o tweet antissemita de Musk.

As demais não esclareceram qual foi a causa, visto que o artigo da agência foi publicado em 16 de novembro de 2023, e o post de Musk, um dia depois. Por outro lado, o endosso do dono da rede social a uma teoria da conspiração antissemita rendeu uma puxada de orelha enorme de Andrew Bates, porta-voz da Casa Branca, chamando-o de "inaceitável", e "uma promoção abominável de antissemitismo, racismo e ódio".

Musk não apagou o tweet, e defende que ele não foi antissemita, mas não é o que todo mundo entendeu.

OUCH! (Crédito: Reprodução/X)

OUCH! (Crédito: Reprodução/X)

Quando Yaccarino assumiu como CEO do X, uma das primeiras ações tomadas em sua gestão foi introduzir ferramentas mais robustas para anunciantes controlarem a veiculação de suas campanhas, de modo a definir quais perfis podem ser ligados aos anúncios, e quais não podem.

Esses utilitários, baseados em IA, não estariam funcionando de modo adequado, fazendo pouco ou nada para ligar propagandas a perfis problemáticos; um dos problemas detectados foi a incapacidade dos algoritmos identificarem conteúdos antissemitas em imagens.

Pode ser que o X consiga reverter a debandada de anunciantes, mas é certo que o escrutínio de reguladores e legisladores sobre a plataforma deve aumentar: Linda Yaccarino, assim como outros CEOs, foi recentemente intimada a depor diante do Senado dos EUA, devido à rede social não fazer por onde proteger menores de idade de conteúdos nocivos, e a situação com os posts antissemitas em nada ajuda a aliviar a barra dela, ou de Elon Musk.

Fonte: Ars Technica

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