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Twitter, verificados VIPs, algoritmos e bagunça

Twitter não mais diferencia entre verificados legados e do Blue, e remove selinho do The New York Times; algoritmo traz dados interessantes

49 semanas atrás

O Twitter teve um fim de semana agitado: neste sábado (1.º), a plataforma deveria ter iniciado o movimento para remover os selos de verificado das contas legadas, as que os receberam antes da compra da empresa por Elon Musk, que atrelou o recurso ao serviço de assinatura Twitter Blue.

O processo, no entanto, tem sido tudo menos ordeiro. Em um ato que enfureceu ainda mais quem não vai com a cara do CEO, o Twitter removeu as diferenças entre contas legadas e assinantes do Blue, e informes apontam que nem todo mundo vai perder o selinho, mesmo se não pagar. Isso não se aplica ao jornal The New York Times, que perdeu a verificação por, talvez, pirraça de Musk.

Elon Musk enfureceu verificados legados do Twitter, o que parece mesmo ser o plano (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Elon Musk enfureceu verificados legados do Twitter, o que parece mesmo ser o plano (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Não obstante, novas porções do código-fonte reveladas publicamente (exclui-se aqui o vazamento recente) incluem o famigerado algoritmo de recomendações e alcance, e as informações ali contidas são... interessantes.

Twitter, selos, raiva e pirraça

Desde a compra do Twitter, Elon Musk vem tentando de todas as formas recuperar os US$ 44 bilhões gastos, ainda mais considerando que hoje, a rede social vale menos da metade disso. O primeiro ato do executivo foi repaginar o serviço de assinatura Twitter Blue, que recebeu incrementos como postagens de tweets e vídeos longos, além de outros recursos exclusivos.

Um deles é o da verificação em duas etapas com SMS, provavelmente por sugestão dos "contadores de feijões" da empresa, seja por economia com o não envio das mensagens, ou com a verdade que a maioria dos usuários de 2FA usa este método, ao invés de mais seguros, ainda que não sejam invulneráveis.

O alvo preferencial de Musk envolvendo o Twitter Blue foi o sistema de verificação de contas, originalmente criado para atestar que o usuário com a marca era real e não um bot, mas com o tempo, se converteu em um símbolo de status, distribuído pela plataforma a quem seus administradores julgassem merecedores, preferencialmente perfis com viés de esquerda, o que o ex-CEO Jack Dorsey deixou bem claro: o Twitter tinha lado.

Mesmo verificação de companhias e empresas seguia o viés, e não foram poucas as ocasiões em que o selo foi entregue a perfis controversos, ou de usuários inexistentes. Ao assumir o Twitter, Elon Musk classificou o sistema de verificação antigo como "corrupto", que criou um "ambiente de lordes e plebeus", e como solução, o CEO atrelou o selo azul à assinatura do Blue. Por R$ 60 mensais, qualquer perfil pode receber o selinho azul.

Ao mesmo tempo, Musk prometeu que todas as verificações de perfis legados seriam removidas, um processo que deveria ter se iniciado no último sábado. O que aconteceu, no entanto, foi algo que irritou ainda mais os donos do selo azul pré-compra: ao clicar nele, o Twitter passou a informar que o perfil em questão é "assinante do Twitter Blue, ou um verificado legado".

De modo resumido, a plataforma acabou com a diferenciação entre quem paga pelo selo, e os que receberam pelo sistema de verificação antigo; visto que ainda é possível identificar os pagantes, desde que se observe o conteúdo (tweets longos, vídeos grandes, quantidade de seguidores, data de criação do perfil, etc.), a mudança está sendo vista como um golpe no ego dos usuários legados, que não querem se misturar à gentalha.

App do Twitter no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

App do Twitter no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Se essa era a intenção, está dando resultado; basta rodar uma busca na rede social por "twitter blue verified difference". Alguns usuários estão subindo scripts para uso em navegadores, que diferenciam os selos.

Na prática, o Twitter hoje tem mais dois selos de verificado, além do azul. Um deles é o cinza, voltado primariamente para pessoas públicas, como políticos em ofício, tal qual a conta do Lula, e os dois perfis de Joe Biden, o pessoal e o oficial (este muda conforme o mandatário). Este selo possui critérios mais rígidos (não explicados), mas "algumas figuras públicas" não-oficiais, bem como empresas, também podem receber o selo cinza. E até onde se sabe, o selinho cinza não envolve pagamento.

O mesmo não se aplica ao selo dourado, dedicado a empresas, companhias, organizações, sites, blogs e veículos de imprensa. Assim como o selo azul, ele é conferido mediante assinatura de R$ 5,3 mil por mês, mais R$ 260 por conta associada (autores de um site ou blog, por exemplo). Inicialmente, o Twitter distribuiu a badge dourada a alguns perfis, antes de avisar que ela seria cobrada posteriormente.

O que nem todo mundo sabe, é que o Twitter não pretende remover o selo azul de todos os legados que não pagarem, por um simples motivo: negócios. Relatórios recentes apontam que os 500 perfis individuais e os 10 mil empresariais com o maior nível de engajamento não serão "desverificados", se optarem por não abrirem a carteira.

Sobre o selo azul legado, Elon Musk declarou em um tweet, apagado depois, que o processo de remover as verificações pré-Blue levará algumas semanas, mas respondeu um usuário que "se um perfil disser que não vai pagar, o Twitter removerá a verificação".

Isso aconteceu com apenas um perfil até um momento, o do jornal The New York Times, que perdeu o selo dourado. No momento que este texto foi ao ar, a conta não exibia nenhum tipo de verificação.

Todos iguais, mas...

Bancando o Capitão Óbvio, não faz sentido para o Twitter remover o selo azul de certos usuários VIPs, mesmo que estes manifestem a intenção de não pagar pelo Twitter Blue, ou pelo sistema de verificação empresarial, o selo dourado. O caso do The New York Times pode ter sido simplesmente pirraça do Musk, para com um jornal que não vai com a cara dele, mas também serve para usar o veículo como bode expiatório, e um exemplo aos demais.

Na prática, mesmo Musk entende que os selos de verificado continuarão sendo símbolos de status, independente da cor, pagando ou não por eles. A ideia de mantê-los em perfis lucrativos apenas faz parte do jogo.

Em verdade, a atual gestão impulsionou contas legadas premium à frente até mesmo dos assinantes do Twitter Blue, uma lista que inclui Biden, a representante democrata Alexandria Ocasio-Cortez, o comentarista político conservador Ben Shapiro, o astro da NBA LeBron James, e o jornalista Glenn Greenwald, entre outros.

Fica claro que, mesmo com o Twitter Blue permitindo a usuários que pagam serem verificados, o sistema de "lordes e plebeus" não irá embora, por uma simples questão de negócios. Elon Musk quer que a rede social dê lucro a todo custo, e diminuir o alcance de contas de celebridades e políticos, para aumentar o do populacho que paga R$ 60/mês, não faz sentido nenhum. Os legados VIPs, capazes de usar seus nomes como marcas para atrair receita, importam; o @VandercleysonOficial, assinante do Blue com 63 seguidores, não.

Os demais, estes eventualmente perderão o selinho se não pagarem, mas não agora.

O que realmente importa

O Twitter Blue não é inócuo no que tange a alcance, claro. Conforme prometido por Elon Musk, a plataforma está aos poucos compartilhando as partes que considera menos críticas do código-fonte da plataforma (ao menos, o que não foi vazado), e na rodada mais recente, abriu o algoritmo de recomendações e alcance, uma das partes mais valiosas da ferramenta.

Enquanto o serviço de assinatura de fato confere um boost às postagens, o código revela que mais importante que respostas e retweets, são as curtidas a moeda mais valiosa da rede social. Cada Like confere um incremento de 30 vezes no alcance; um RT, 20 vezes (incluso retweet com comentário, que o Twitter agora contabiliza); uma Reply, apenas um ponto de incremento.

Postagens com imagens e vídeos têm mais alcance mais do que as com apenas texto (dobro de alcance), mas link para sites externos são em geral caracterizados como spam, a menos que seu perfil tenha engajamento o suficiente (ou seja, VIP). Da mesma forma, mutes, blocks, unfollows e denúncias de spam, ou por abuso, derrubam o alcance.

O Twitter também monitora o conteúdo das postagens, e assuntos que ele considera como desinformação também minam o alcance. Menções sobre a Ucrânia também entram na conta.

O Twitter também categoriza os usuários em grupos, separados por temas e assuntos similares, compartilhar conteúdo fora de sua "bolha" também prejudica o alcance. Isso explica, por exemplo, porque é mais difícil ser notado quando o usuário não foca em apenas um mesmo tema, mas aborda de tudo. Escrever errado também tem efeito negativo.

No fim, o Twitter considera importantes os seguintes dados, para avaliar o alcance de um perfil:

  • Dados de engajamento: Curtidas, RTs e respostas, nessa ordem;
  • Dados de usuários: Mutes, unfollows, blocks e denúncias, que se revertem em penalidades;
  • Dados de seguidores: a qualidade dos perfis que o seguem; quanto mais VIPs como followers, maior seu alcance.

Nisso, o Twitter Blue confere um significativo incremento no alcance das postagens, mas se um perfil é pequeno, ele não crescerá muito e nem vai furar o grupo ao qual foi designado. Nesse aspecto, a assinatura passa a ser interessante para quem tem um alcance mediano, e quer expandir.

Para os VIPs, caso estes não percam o selo, ele não acrescenta muito.

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