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X: Elon Musk quer cobrar por acesso para combater bots

Elon Musk sugere que X (ex-Twitter) passará a restringir acesso apenas a usuários pagantes; executivo estuda implementar paywall há tempos

30 semanas atrás

Desde que assumiu o Twitter, Elon Musk implementou uma série de mudanças na rede social, de mudar seu nome para X a medidas mais drásticas, visando a monetização por todos os meios necessários, que do plano X Premium (ex-Twitter Blue), que inclui selo de verificação e o novo Tweetdeck, à cobrança pelo acesso das APIs. Quem quer monetizar seu perfil também precisa pagar.

Outra alternativa, aventada internamente, era de que o atual X Premium seria um "teste de águas" para o plano real de monetização, que seria erguer uma paywall ao redor do X, exigindo assim que todos os usuários paguem para acessar o serviço. Agora, Musk citou pela primeira vez tal intenção em público, com a desculpa de combate aos bots.

De acordo com Elon Musk, instituir cobrança pelo acesso ao X é "a única forma" de combater os bots (Crédito: Emil Lendof/The Wall Street Journal/iStock/Getty Images)

De acordo com Elon Musk, instituir cobrança pelo acesso ao X é "a única forma" de combater os bots (Crédito: Emil Lendof/The Wall Street Journal/iStock/Getty Images)

A declaração foi dada durante uma transmissão ao vivo no X, em uma conversa cara a cara com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. O encontro entre o bilionário e o político tinha como pauta principal o combate ao antissemitismo na plataforma, uma espécie de resposta aos atos da Liga Anti-Difamação, no que Musk ameaçou o grupo de processo por "afugentar os anunciantes", algo que ele seguiu em frente com outra entidade.

No entanto, segundo AJ Brown, ex-chefe de segurança de marca e qualidade de anúncios do Twitter, a real razão para empresas não quererem anunciar no X não são campanhas movidas por grupos anti-discursos de ódio, e sim que a rede hoje reduz o alcance de tais postagens, ao invés de eliminá-las, em prol da "liberdade de expressão absoluta" que Musk defende.

Em resumo, a maioria das grandes companhias congelou os anúncios do X, e muitas não pretendem voltar, por entenderem que hoje, o popular site de microblogs™️ é uma plataforma insegura, e uma marca cuja atual péssima imagem só trará prejuízo a seus próprios negócios.

Musk vem reiterando há tempos que, embora defenda a total liberdade de expressão, não tolera antissemitismo no X de nenhuma forma, mas vale lembrar que a empresa não mais conta com um setor que monitora postagens problemáticas, pois todos os profissionais em todo o mundo foram demitidos.

O bate-papo com Netanyahu, que por si é uma figura problemática por vários motivos, seria uma forma de mostrar a todos que Musk está (em tese) buscando fazer mais por coibir discursos de ódio de todo o tipo, e foi inclusive cobrado a fazê-lo pelo primeiro-ministro israelense.

Para Musk, muitos dos perfis que propagam discursos de ódio e mensagens problemáticas são bots, algo que o executivo odeia e vem fazendo de tudo para expulsá-los do X. A instituição de cobrança pelo acesso à API, e por valores altos, foi a primeira medida de combate nesse sentido.

No entanto, a manobra também vitimou uma série de perfis legítimos, e afetou profundamente integrações da rede social com plataformas, sites, jogos e outros produtos, incluindo serviços de login (OAuth); quase todos estão removendo gradativamente a integração com o X em seus produtos.

No entanto, o X Premium e as APIs pagas não são suficientes para manter os bots longe do X, e, ao mesmo tempo, nem todo mundo está pagando; embora o site conte com aproximadamente 550 milhões de usuários mensais, somente 827.615 são assinantes do serviço que oferece o selo azul e o Tweetdeck; isso equivale a ridículos 0,15% da base instalada.

Assim, se os 99% de usuários restantes não pretendem abrir a carteira para acessar serviços extras, Musk entende que é hora de restringir o acesso básico, colocando todo o X atrás de uma paywall.

Durante a conversa com Netanyahu, Musk disse que a X Corp. deverá instituir a cobrança mensal de "uma pequena quantia" (quanto, não foi divulgado) pelo acesso à rede social, no que o bilionário entende ser esta a maneira mais eficiente de combater os bots, fazendo-os pagar para manter serviços que inviabilizarão suas operações.

"É a única maneira que consigo pensar para combater os vastos exércitos de bots (...). Como um bot custa uma fração de um centavo — digamos um décimo (US$ 0,001) —, mas ainda assim ele terá que pagar... digamos que alguns dólares (por mês, no caso de operações em que um mesmo usuário/grupo controla muitos perfis de bots), o custo efetivo dos bots será muito alto."

Musk também apontou que cada vez que um usuário criar um bot novo, ele terá que estabelecer um método de pagamento diferente, o que pode, na teoria, desmantelar grupos que administram dezenas, centenas, ou até milhares de perfis de bots.

Cobrar pelo acesso ao X pode levar ao abandono em massa dos usuários (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Cobrar pelo acesso ao X pode levar ao abandono em massa dos usuários (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O que Musk não considerou, é que passar a cobrar pelo acesso a um produto ou serviço, que a base instalada já se agarrou à ideia de ser gratuito, ainda mais uma plataforma com 17 anos de existência, é uma das duas decisões de negócios mais fadadas ao fracasso, sendo a outra mudar o direcionamento, alienando todo o público no processo. O melhor exemplo deste cenário foi o que aconteceu com o Tumblr.

A consequência imediata é sempre a debandada dos usuários, no que neste caso, os egressos do X poderão acabar em outros sites de microblogs, como o rival Threads do Meta, o BlueSky ou o Mastodon, ou outras redes como TikTok, Instagram e Facebook, e até mesmo o Tumblr, no que a Automattic está agora investindo para atrair o público jovem.

Caso a cobrança mínima seja introduzida, mesmo que fique entre US$ 2 e US$ 4, serão US$ 2 ou US$ 4 além do que a grande massa está disposta a pagar, e um êxodo de usuários irá afetar diretamente a entrega e visualização de anúncios, ainda a principal fonte de renda da plataforma.

O comentário do dono do X pode ou não ter sido aleatório, mas a ideia de erguer um paywall não é nova. David O. Sacks, conselheiro financeiro, ex-COO do PayPal e um dos membros da "Máfia" da plataforma de pagamentos, tal qual Musk, seria o principal defensor da ideia de que o acesso livre a um produto de interesse não é viável do ponto de vista de negócios.

O jornalista e executivo de mídia Nicholas "Nick" Thompson pensa da mesma forma; ele foi o responsável por fechar o acesso livre de todos os sites das publicações em que atuou como editor-chefe, do WIRED e The New Yorker ao The Atlantic, do qual hoje é CEO. Seu mantra é "o modelo de paywall torna o conteúdo melhor", pois o veículo passa a se comprometer em entregar qualidade, para justificar o investimento (claro, isso não se aplica muito bem aqui).

Musk a princípio não citou compromisso com a qualidade do conteúdo, até porque ele é gerado pelos usuários, apenas uma forma de encarecer e inviabilizar o uso do X por fazendas de bots, mas ao fazer isso, ele pode muito bem irritar o restante dos usuários não-pagantes, no que grandes são as chances destes simplesmente dizerem "obrigado, mas não, obrigado", enquanto pegam suas coisas e se mudam para outras plataformas.

Como de costume, Musk não elaborou a declaração, e o X não mais conta com um departamento de Relações Públicas.

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