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A recriação histórica com o Total War: Pharaoh

Recriando o Novo Império egípcio, Total War: Pharaoh nos leva a uma viagem histórica e mostra que os jogos podem ser mais do que mero entretenimento

21 semanas atrás

Para algumas pessoas, a ideia de os videogames servirem para mais do que apenas entretenimento soa quase como uma ofensa. Usar um jogo para passar um pouco de conhecimento sobre outros povos e culturas? Absurdo! Porém, aos poucos as empresas estão percebendo como a mídia pode ser também uma ferramenta de ensino e um jogo como o Total War: Pharaoh é bom exemplo disso.

Crédito: Divulgação/Creative Assembly

16° capítulo de uma franquia que nasceu no ano 2000, Total War: Pharaoh se passa durante o Novo Império, período que durou do século XVI ao IX a.C. Foi nele que reinou Merneptá, mas quando o fim do grande Faraó se aproximou, muitos almejaram ocupar sua posição.

Pois é aí que entramos, podendo escolher um dos oito líderes de facções, cada um com virtudes e fraquezas específicas. Isso nos permitirá, por exemplo, levar o último grande rei dos Hititas, Supiluliuma, a comandar o Egito, ou então fazer com que um cananeu ocupe o vácuo de poder que recai na região.

Porém, aqueles que preferirem dar continuidade ao controle egípcio também terão essa opção, seja controlando Ramessés III, Amenemessés, Seti II (filho de Merneptá) ou mesmo sua esposa, Tausret.

O bacana é que esses personagens não contam com diferenças que impactam apenas a jogabilidade. Com ambições e complexos relacionamentos, a maneira como eles se comportam influenciará diretamente no destino do Egito, tornando a campanha principal interessante e digna de a encararmos mais de uma vez, só para vermos como podemos afetar aquelas civilizações.

E com essas figuras é possível perceber que o jogo político e a poderio militar são partes fundamentais da mecânica do Total War: Pharaoh. Saber quando agradar seus súditos usando a diplomacia ou o momento exato de colocar as tropas nos campos de combate são decisões com as quais sempre teremos que lidar constantemente.

Crédito: Divulgação/Creative Assembly

Misturando estratégia em tempo real com o gerenciamento por turnos, o jogo está a todo momento tentando nos fazer imergir naquele universo, com três aspectos sendo muito importantes para isso: o rio Nilo, as mudanças climáticas e a religião.

No caso do maior rio africano, a Creative Assembly dedicou um enorme esforço para garantir que ele não fosse apenas um elemento visual. Com isso, saber aproveitar os seus recursos será fundamental para termos êxito e quem não for capaz de se adaptar as inundações sazonais do poderoso Nilo provavelmente verá seu império ruir.

Sim, Total War: Pharaoh conta com um inédito sistema de mudanças climáticas, algo que adiciona realismo às campanhas e uma alta dose de imprevisibilidade. Ao todo temos quatro aspectos climáticos, cada um afetando diretamente o curso das batalhas:

  • Tempestades, que prejudicam muito a eficácia das unidades de longa distância, além de impedir incêndios.
  • Trovoadas, que atuam de maneira parecida com as tempestades, mas com o agravante de reduzir a moral das unidades.
  • Tempestades de areia, responsáveis por diminuir bastante a visibilidade, a velocidade de movimentos e a recuperação de fadiga. Elas também causam uma pequena quantidade de dano por segundo nas unidades.
  • Ondas de calor, que aumentam a fadiga e pior, impedem que ela seja reposta. Por fim, os incêndios se alastrarão mais quando a temperatura for maior.
Total War: Pharaoh

Crédito: Divulgação/Creative Assembly

Essa parte dos incêndios, muitas vezes iniciados com ataques de flechas de fogo ou tochas, também sofre influência direta do vento, tanto em relação a sua velocidade quanto a direção. Por isso é importante que o jogador saiba utilizar o fogo a seu favor, podendo encurralar inimigos, por exemplo.

No entanto, de nada adiantará uma abordagem como essa caso uma tempestade caia logo em seguida. Também precisamos tomar cuidado com a maneira como o terreno ficará lamacento após uma forte chuva, afinal, isso diminuirá a mobilidade das unidades, mas se uma onda de calor vier, o chão voltará a secar.

Com a mudança climática podendo afetar tanto o campo de batalha, o jogo nos fará pensar bastante sobre quando é o melhor momento para atacar. Algumas unidades poderão lutar melhor numa tempestade de areia, então, não seria melhor esperar que uma comece? Mas e se formos atacados, como podemos utilizar as alterações no terreno a nosso favor?

Tantas variáveis ajudam a aumentar a tensão das batalhas, enquanto a religião, assim como acontecia na sociedade da época, também terá uma forte influência no Total War: Pharaoh. Retratadas de maneira fidedigna, as crenças e divindades egípcias impactarão diretamente nossos reinos, com os templos e o incentivo à adoração de deuses fazendo com que aumente o desenvolvimento da civilização e a lealdade do povo.

Crédito: Divulgação/Creative Assembly

Mas tratando especificamente do conceito de utilizar um jogo para ensinar história ao público, confesso ter ficado um pouco decepcionado. Como o pessoal da Creative Assembly se dedicou tanto para reproduzir a sociedade egípcia, com seus costumes, poderio militar e crenças, esperava que eles aproveitassem o espaço para nos entregar mais informações sobre o período.

Para mim, poucas empresas conseguem realizar isso de forma tão direta e detalhada quanto a Ubisoft, com jogos como o Assassin's Creed Mirage funcionando como verdadeiras aulas sobre os períodos em que se baseiam. O melhor de tudo é que essas pílulas de conhecimento nunca parecem invasivas, com o jogador podendo ignorá-las caso prefira partir para a ação.

No caso do Total War: Pharaoh, ele até conta com uma enciclopédia, mas a área é voltada para os muitos elementos que o jogo nos entrega, sem se preocupar muito com a precisão histórica. É positivo que esse conteúdo esteja disponível na nossa língua, mas eu adoraria se por lá também tivéssemos mais informações que pudessem incrementar nosso conhecimento.

Total War: Pharaoh

Crédito: Divulgação/Creative Assembly

Mas concordo que essa ausência não pode ser considerada um defeito. Mesmo para aqueles que, assim como eu, reconhecem os jogos como ótimas plataformas de disseminação cultural, um não se dispor a isso não é suficiente para rebaixar sua qualidade.

Eu ainda preciso me dedicar mais ao Total War: Pharaoh, conhecer melhor suas mecânicas e passar pela saborosa — e igualmente preocupante — situação de não perceber o tempo passando enquanto estou fazendo isso, mas o simples fato dele nos colocar num dos períodos mais fascinantes e conturbados da nossa história já me parece um ótimo motivo para tratá-lo como mais do que puro entretenimento. Contudo, mesmo que você não o veja desta maneira, tudo bem, a elaboração de estratégias de combate, os acordos políticos e a adrenalina das batalhas estarão ali, só esperando pela próxima pessoa que controlará o Novo Império.

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