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Company of Heroes 3 — A guerra sob controle

Fazendo com que um jogo de estratégia funcione bem no PS5 e Xbox Series, Company of Heroes 3 - Console Edition é uma experiência tensa, complexa e divertida

41 semanas atrás

Existe uma máxima entre os fãs de jogos de estratégia que fala que o gênero não funciona nos consoles. Nos últimos anos vimos diversas tentativas de fazer essa adaptação, com melhores ou piores resultados e quando soube que o Company of Heroes 3 receberia uma versão para Xbox One Series S|X e PlayStation 5, preferi esperar para ver como (e se) o jogo funcionaria nesses videogames.

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

Lançado em 2006 apenas para computadores, o primeiro Company of Heroes ainda figura como o meu jogo de estratégia favorito. A tensão que aquela criação da Relic Entertainment nos passava durante as missões é algo que nunca esquecerei e após uma continuação morna, criei uma grande expectativa por este terceiro capítulo.

Eis que 17 anos depois daquele jogo brilhante, cá estamos com a estreia da franquia nos consoles e eu estaria mentindo se dissesse que não tinha receio em relação a como seria encarar a Segunda Guerra Mundial sem a dupla teclado e mouse. Felizmente, a equipe que ficou responsável por essa adaptação fez um ótimo trabalho.

Ao iniciarmos o Company of Heroes 3 - Console Edition seremos jogados direto no meio da ação, com a primeira missão servindo com um tutorial onde nos será passado algumas mecânicas. Porém, o destaque aqui vai mesmo para as lições sobre o funcionamento dos controles.

Basicamente, usaremos o botão X/A para selecionarmos as unidades, sendo que se o mantivermos pressionado, uma área de seleção será formada para assim marcamos tudo o que estiver ao seu alcance. A partir daí, bastará apertar o quadrado/X no local onde queremos que ela se mova. Já no caso de pressionarmos círculo/B, os soldados atacarão onde o cursor estiver.

Embora o procedimento seja simples, demorei uma pouco para me adaptar. Sempre que queria mover as unidades eu acabava pressionando X/A, o que resultava na seleção ser desfeita. Porém, bastaram alguns minutos para que o processo ficasse marcado na minha memória e assim as ordens e movimentações das tropas se tornassem algo intuitivo.

Company of Heroes 3 - Console Edition

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

Outro elemento importante da jogabilidade do Company of Heroes 3 - Console Edition é a Roda de Comandos. Acionada ao apertarmos o L2/LT, ela mudará conforme a unidade ou construção que tivermos selecionado. Desta forma, será através deste recurso que mandaremos um grupo de paraquedistas plantar um explosivo, engenheiros consertar um veículo danificado ou cortar uma fileira de arame farpado que está impedindo o avanço de nossas tropas.

Também será com a Roda de Comandos que escolheremos quais construções criar na nossa base ou quais unidades deverão ser produzidas. Podemos descrevê-la como um atalho, uma forma de fazer com que muitas opções estejam facilmente acessíveis nos controles. Alguém poderá argumentar que mesmo assim não teremos a agilidade proporcionada pelos periféricos dos computadores, o que é verdade, mas aí entra outro ótimo recurso do jogo, a Pausa Tática.

Sendo acionada ao apertarmos o botão L3, o que ela fará é justamente parar a ação, nos dando todo o tempo necessário para planejarmos o que fazer a seguir. O detalhe é que poderemos definir uma sequência de ações, como, por exemplo, enviar uma unidade para um determinado lugar, depois para outro e por fim, ativar alguma habilidade especial.

Company of Heroes 3 é um jogo onde normalmente muitas coisas acontecerão ao mesmo tempo, com os inimigos nos atacando por várias frentes e os campos de batalha sendo lugares caóticos. Por isso, saber aproveitar algo como a Pausa Tática será muito importante, com ela nos livrando de enviar veículos por um caminho perigoso, nos permitindo pensar quais unidades produzir ou até mesmo ler as mensagens e dicas dadas pelos NPCs.

Movendo as peças pelo tabuleiro

Company of Heroes 3 - Console Edition

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

Outra novidade deste terceiro capítulo é a maneira como se desenrola uma das campanhas, na Itália. Nela, boa parte do tempo não comandaremos tropas em tempo real e decidiremos como avançar até a capital italiana, em algo parecido com o que tempos na série Total War.

Isso quer dizer que, como comandante das forças aliadas, teremos que decidir quais cidades tomar, quanto devemos dedicar para proteger pontos importantes ou de que forma investir os recursos que conquistamos.  Com cada escolha moldando a história, o modo faz com que o jogo se torne muito mais dinâmico, sem que nunca saibamos exatamente o que encontraremos a seguir.

Nele cada unidade terá pontos de ação que poderão ser utilizados para mover-se pelo mapa, tomar cidades ou atacar inimigos. Então, quando tivermos gastos todos, será a hora de encerrar o turno e esperar os alemães fazerem seus movimentos. Porém, não ache que tudo acontecerá assim, sem a nossa participação direta nas batalhas.

O que torna a campanha mais interessante é que embora algumas cidades possam ser tomadas de maneira automática, poderemos optar por ir a campo, quando o Company of Heroes 3 voltará a funcionar como um bom e velho jogo de estratégia em tempo real. Desta forma teremos que encarar missões que vão desde tomar pontos estratégicos até defender um setor ou simplesmente garantir nossa superioridade do terreno.

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

É muito legal ver como tudo se encaixa bem, com o suporte marítimo que conquistamos no modo por turno podendo ser ativado nas batalhas ou as unidades que desbloqueamos lá, sendo disponibilizadas aqui. A sensação de estarmos participando de uma enorme guerra e não de pequenas batalhas é muito mais presente desta vez.

Além disso, outra boa sacada foi permitir que as unidades ganhem veteranice conforme realizam missões. Isso fará com que elas tenham acesso a habilidades mais poderosas, o que nos fará te que pensar bem antes de as enviarmos para o combate, adicionando um sentimento de cuidado pouco comum em jogos onde normalmente não nos apegamos a personagens que só servem como “buchas de canhão”.

Mas acima de tudo, o Company of Heroes 3 conseguiu causar em mim algo que vinha buscando desde o primeiro jogo, que era a tensão de ver sua estratégia ruir diante de um poderoso ataque inimigo. Para ilustra isso, posso contar algo que vivi já numa das primeiras missões da campanha italiana.

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

Ao chegar numa cidadezinha, tive que tomar um setor estratégico e após algumas baixas para ambos os lados, tive sucesso e inocentemente achei que a situação estava resolvida. Contudo, logo fui informado que os “chucrutes” estavam preparando um contra-ataque e que uma solução seria destruir duas pontes que davam acesso ao local.

A partir daquele momento comecei a reforçar minhas tropas, mas não atentei para o fato que o inimigo não iria esperar. Então, não demorou até que eles avançassem rapidamente em minha direção e onda após onda de ataques, meus soldados caiam como moscas. A situação só começou a mudar quando enfim cheguei perto das pontes e com a ajuda de ataque aéreo e alguns engenheiros que se sacrificaram, enfim consegui interromper aquela sangria. Vitória, mas apenas depois de vários minutos em que fiquei grudado na cadeira e ao custo de várias mortes que poderiam ter sido evitadas (se eu fosse mais inteligente).

Aliás, aqui vale citar duas características que me agradaram muito no jogo: a longa duração de algumas missões, que podem chegar perto de uma hora; e a maneira como quase todo o cenário pode ser destruído. Há um sniper que está aterrorizando suas tropas do alto da torre de uma igreja? Sem problema, um grupo com morteiros poderá destruir a construção a distância. Está sem engenheiros para limpar o caminho? Basta mandar um tanque de guerra passar por cima dos arames farpados ou sacos de areia.

Obviamente isso valerá para os inimigos, então não pense que seus fuzileiros estarão a salvo só porque se esconderam num prédio ou que uma barricada impedirá o avanço do outro exército. Tudo isso poderá ajudar, mas como em qualquer guerra, não existe a garantia que suas tropas estarão a salvo.

A névoa da guerra

Company of Heroes 3 - Console Edition

Crédito: Divulgação/Relic Entertainment

Mas enquanto o Company of Heroes 3 - Console Edition acerta por implementar boas ideias e mecânicas ou mesmo por fazer com que um jogo tão complexo funcione com um simples gamepad, ele derrapa em outros aspectos.

Um dos principais é na acessibilidade. Como uma pessoa com problemas de visão, é triste ver um título com uma qualidade de produção tão elevada se lançado com legendas minúsculas, a ponto de ter sido obrigado a sentar mais perto da televisão para conseguir ler o que estava escrito. O problema acontece também na interface, fazendo com que muitos dados se tornem quase ilegíveis.

Uma explicação para isso pode estar no fato de num jogo de estratégia termos muitas informações precisarem ser mostrada simultaneamente e até na própria plataforma de origem, o PC. De qualquer forma, não consigo ignorar o quão desconfortável tem sido me esforçar para ler alguns textos e mesmo não pensando numa solução para isso, gostaria que fosse resolvido.

Outro ponto que me decepcionou um pouco nesta versão para consoles foi a qualidade visual. Embora os cenários sejam bonitos e contem com um bom nível de detalhes, as texturas possuem uma baixa resolução e os personagens não são muito bonitos. Os gráficos até podem ser melhorados caso optemos pelo modo qualidade, mas aí a taxa de frames cairá pela metade e não achei que o ganho visual tenha sido muito grande na resolução 4K.

Contudo, eu não diria que esses problemas foram suficientes para me fazer perder a vontade de continuar testando minhas (poucas) habilidades nos campos de batalha. Company of Heroes 3 - Console Edition é um jogo muito divertido, tenso na medida certa e que consegue nos fazer sentir como um verdadeiro comandante numa guerra imensa. No mais, ele ainda faz o improvável, mostrar que jogos de estratégia podem funcionar muito bem num videogame.

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