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O Senhor dos Anéis: Gollum — não tão Precioso

O Senhor dos Anéis: Gollum é um jogo mal polido, mas apresenta uma boa história sobre a criatura mais miserável da Terra-média

42 semanas atrás

O Senhor dos Anéis: Gollum é mais recente adaptação da obra de J.R.R. Tolkien na forma de game, e talvez o que deixou os fãs mais desconfiados. A decisão de centrar a aventura ao redor de um dos personagens mais vis dos livros, e o envolvimento de uma distribuidora/desenvolvedora conhecida por lançamentos baseados em franquias famosas medianos para baixo, fez com que muitos não nutrissem maiores expectativas pelo título.

Estavam todos certos, em partes. Mecanicamente, a saga do hobbit distorcido de duas caras (literalmente) conta com apresentação e mecânica genéricos, e inúmeros problemas de instabilidade, seja nos consoles ou nos PCs mais parrudos.

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Divulgação/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Divulgação/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

Ainda assim, O Senhor dos Anéis: Gollum consegue se escorar graças a uma boa história, que cobre um capítulo canônico da Guerra do Anel, que Tolkien nunca se incomodou de contar.

Escombros e destroços

A história do game se passa em paralelo aos eventos descritos em A Sociedade do Anel, pouco tempo depois de Frodo Bolseiro herdar o Um Anel, e anos antes de sua comitiva de hobbits deixar o Condado. O que se sabe, por relatos providos por outros personagens, é que em um determinado momento, Gollum deixou sua morada nas cavernas abaixo das Montanhas de Névoa, para recuperar seu "presente de aniversário", na sua conta, roubado por Bilbo nos eventos de O Hobbit.

Como ele perdeu o rastro (afinal, se passaram décadas), o distorcido hobbit desvia para Mordor, é capturado pelas forças de Sauron, torturado até entregar os nomes "Bolseiro" e "Condado", e mantido como escravo até ser liberto (como isca) e capturado de novo, desta vez por Aragorn, e mantido prisioneiro pelos elfos da floresta, o reino de Thranduil, pai de Legolas.

A aventura começa com Gollum sendo interrogado por Gandalf, que deseja saber o que Sauron extraiu dele, e o que Gollum estava procurando. A narrativa se desenrola inicialmente como um flashback, na estadia do protagonista como escravo nas minas de Mordor, mas também abrange outras áreas, e introduz alguns personagens inéditos para reforçar a trama.

O game ilustra personagens conhecidos à sua maneira (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O game ilustra personagens conhecidos à sua maneira (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

Temos em O Senhor dos Anéis: Gollum um jogo de plataforma, com sua narrativa organizada em missões a serem cumpridas. O nível de liberdade na exploração é limitado, embora você seja basicamente livre para ir quase a qualquer lugar dentro do mapa proposto, você só avança ao cumprir os objetivos propostos.

A desenvolvedora, Daedelic Entertainment, é mais conhecida pela franquia Deponia, enquanto a distribuidora Nacon é considerada no meio gamer "a LJN da atual geração". Este estúdio em questão se tornou infame por assegurar direitos de franquias famosas, apenas para lançar jogos medíocres baseados nelas.

Quando se tornou público que a Nacon distribuiria o jogo, graças à licença concedida pelo Embracer Group, dono de tudo relativo às obras de Tolkien que não os livros, todo mundo ficou com o pé atrás. A favor da Daedelic, haviam State of Mind e outra adaptação literária, de Os Pilares da Terra de Ken Follet, ambos tendo sido bem recebidos.

Gollum foi originalmente anunciado em 2019, prometido para 2021, sofreu uma série de atrasos, e só deu as caras agora, e confirmando os temores, o jogo é bem genérico, embora abarque ideias interessantes.

Caviloso e Fedegoso

A jogabilidade básica de O Senhor dos Anéis: Gollum não é muito diferente de boa parte dos games de plataforma disponíveis. Gollum pode pular, escalar, e se esconder, pois por ser ridiculamente fraco, ele não pode enfrentar inimigos de frente. Usando de táticas stealth, por outro lado, é possível surpreender adversários, estrangulando-os por trás, ou fazer uso do cenário para eliminá-los.

Tecnicamente o título não se destaca em nada. Os gráficos e sons se assemelham a um título do início da geração passada, os puzzles são simples, e as locações, embora baseadas nos livros, são bastante genéricas, mais do que o visto em Terra-média: Sombras da Guerra. Fica claro que o game se apoia na narrativa, e tão somente.

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O período entre Gollum ser capturado em Mordor até ser encontrado por Frodo e Sam, em As Duas Torres, era uma história que todos conheciam, mas ninguém nunca viu contada. A Daedelic tomou algumas liberdades para preencher as lacunas, e amarrar as pontas ao cânone dos livros, ao mesmo tempo que tenta se distanciar ao máximo da identidade visual dos filmes de Peter Jackson.

Para que a história funcionasse, alguns novos personagens tiveram que ser criados, como a elfa Mell, que por cega, é considerada um pária entre os seus, e faz amizade com nosso distorcido protagonista. Outros menores, como a Boca de Sauron, receberam mais destaque e importância.

Porém, a parte mais interessante do game é o próprio Gollum, ou como ele foi desenvolvido como personagem. Além de ter uma espécie de "sentido Aranha", que lhe permite perceber elementos próprios (a desculpa, uma habilidade que ele teria desenvolvido por influência do Um Anel), sua mente fraturada e vil abriga duas personalidades distintas, constantemente em conflito.

Em determinados momentos, o jogador terá que tomar decisões se colocando como o covarde e subserviente Sméagol, ou o cruel e traiçoeiro Gollum, e na sequência, iniciar um debate mental para convencer sua outra metade.

O conflito interno entre Gollum e Sméagol como mecânica do game (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O conflito interno entre Gollum e Sméagol como mecânica do game (Crédito: Reprodução/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O grande problema do game é usar o enredo como uma muleta, para compensar as inúmeras falhas técnicas, a jogabilidade truncada, o visual desinteressante, e um sem número de problemas de instabilidade, que fazem o título dar pau mesmo em PCs da NASA, equipados com a poderosa GeForce RTX 4090 da Nvidia, e processadores de ponta.

Nos consoles então, jogá-lo é um exercício de paciência, com quebras de polígonos e crashes catastróficos constantes.

Conclusão

O Senhor dos Anéis: Gollum é uma experiência conflitante. Por um lado, é interessante interagir com um personagem controverso, em uma história apenas referenciada nos livros, mas, ao mesmo tempo, a execução foi um desastre, que faz todo o esforço ir por água abaixo. No fim, o título acabou sendo cansativo, pouco inspirado, e não muito divertido.

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Divulgação/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

O Senhor dos Anéis: Gollum (Crédito: Divulgação/Daedelic Entertainment/Nacon/ Middle-earth Enterprises/Embracer Group)

De minha parte, eu gosto da ideia de jogar como um personagem não-heróico, em uma situação não convencional e para cumprir um objetivo nada nobre, mas O Senhor dos Anéis: Gollum é um exemplo do que não deve ser feito em desenvolvimento, ao focar mais na narrativa e deixar as mecânicas em segundo plano.

Até porque neste caso, é melhor ficar com os livros mesmo.

O Senhor dos Anéis: Gollum — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One, Nintendo Switch (em breve) e Windows (analisado no PS5, com cópia cedida pela Nacon);
  • Desenvolvedora — Daedelic Entertainment;
  • Distribuidora — Daedelic Entertainment, Nacon;
  • Classificação Indicativa — 14 anos.

Pontos fortes:

  • Game cobre (com algumas liberdades) uma história canônica não contada nos livros;
  • O conflito interno entre Sméagol e Gollum é interessante, e faz parte da mecânica.

Pontos fracos:

  • Faltou polimento, no visual e mecânicas;
  • Jogabilidade pouco inspirada;
  • Muitos problemas de instabilidade.

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