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Assassin's Creed Mirage — De volta para o passado

Servindo como um retorno aos primeiros jogos da franquia, Assassin's Creed Mirage é uma experiência mais focada e intensa, além de muito divertida

29 semanas atrás

Quando em 2007 a Ubisoft lançou o primeiro Assassin's Creed, talvez nem o mais otimista funcionário da empresa francesa imaginasse isso, mas eles estavam colocando no mercado aquela que se tornaria sua principal franquia. Vários jogos e mais de 155 milhões de cópias vendidas depois, além, de muitas mudanças na estrutura da marca, com o Assassin's Creed Mirage a empresa decidiu mudar o rumo e essa foi uma decisão que deverá agradar alguns, mas incomodar outros.

Assassin's Creed Mirage

Crédito: Divulgação/Ubisoft

Quem acompanha a série desde os primórdios sabe que um divisor de águas aconteceu em 2017, com o lançamento do Assassin's Creed Origins. Com muitas pessoas defendendo que estava na hora da franquia receber uma oxigenada, o jogo que nos levou ao Egito adotou um sistema de combate reformulado e principalmente, abraçou diversos elementos típicos de RPGs.

A ideia foi tão elogiada, que os dois capítulos seguintes seguiram pelo mesmo caminho, com as aventuras abordando a Grécia e a mitologia nórdica indicando uma nova era para os assassinos. Porém, o que serviu para muitos como um avanço, para aqueles que adoravam o estilo mais “simples” dos antecessores, a camada de complexidade foi algo desnecessário.

Pois é aí que entra o Assassin's Creed Mirage. Nascido como uma expansão para o Assassin's Creed Valhalla, durante o seu desenvolvimento a equipe da Ubisoft Bordeaux chegou à conclusão de que seria melhor transformá-lo num jogo independente, usando-o como uma forma de homenagem ao título que deu início à franquia.

Com esse objetivo em mente, o jogo teria uma companha bem mais curta que aquelas vistas na “era dos RPGs”, focando nas missões em que temos que passar o mais despercebido possível e situando sua história em Bagdá, durante o século IX. Já nos primeiros vídeos ficou claro que ele pareceria um Assassin's Creed protagonizado por Altair, mas com algumas melhorias de design que surgiram com o passar dos anos.

Assassin's Creed Mirage

Crédito: Divulgação/Ubisoft

Contudo, dessa vez assumiríamos o papel de Basim Ibn Ishaq, um jovem batedor de carteiras que, enquanto tenta sobreviver nas ruas de Anbar, é atormentado por pesadelos com um Djinn, criatura sobrenatural do folclore árabe. Insatisfeito com a maneira como sua vida tem se desenrolado, ele deseja entrar para uma ordem conhecida como Os Ocultos.

Sempre falhando em convencer a pessoa que ocupa o cargo mais alto daquele grupo na cidade, certo dia Basim ouve sobre um misterioso baú que chegou ao porto e foi levado para o palácio do califa. Aquilo faz com que ele parta para algo que toda pessoa responsável faria, que é entrar numa missão suicida não autorizada.

O que acontece naquele lugar mudará a vida de Basim para sempre, fazendo com que ele seja submetido a um intenso treinamento e alcance a posição que tanto almejava. A partir deste momento, seremos levados para Bagdá e gradualmente o mundo de Assassin's Creed Mirage se abrirá a nossa frente.

Essa poderá ser a primeira frustração para quem gostava da grandiosidade dos capítulos anteriores. Aqui o mapa será muito menor, com a ação acontecendo principalmente nas ruas que cercam a Cidade Redonda. No entanto, isso não quer dizer que a aventura se dará numa escala quase claustrofóbica. Ainda haverá muitas missões paralelas, itens para colecionar, segredos para descobrir e ir de um ponto a outro do mapa ainda poderá levar vários minutos.

Embora eu goste muito da sensação de exploração que os mapas do Origins, Odyssey e Valhalla nos dão, não achei ruim essa experiência mais condensada, com Bagdá transbordando vida e sendo uma das cidades mais bonitas e detalhadas que já vi em um jogo.

Crédito: Divulgação/Ubisoft

Mas gostando ou não dessa escala menor, o fato é que a cidade foi pensada para ser um enorme playground de parkour e assassinatos. Agora, escalar, correr e saltar funciona quase como um quebra-cabeça, com o jogo nos obrigando a prestar atenção nos locais que o protagonista poderá ou não alcançar. Durante uma perseguição isso acaba trazendo uma saborosa tensão, além de nos fazer sentir como se estivéssemos realmente vencendo os obstáculos pelo caminho.

Já a cada missão que nos for dada, tudo parece ter sido criado para termos múltiplas opções de execução, cabendo ao jogador estudar os arredores e assim poder decidir se tentará uma infiltração por uma passagem secreta, se acionará um músico para atrair os guardas ou realizará pequenas missões que facilitarão as principais.

Um exemplo de como essas tarefas se interconectam pode ser visto nas primeiras horas da campanha, quando temos que assassinar um figurão que controla parte da cidade. Ao chegar no lugar, obviamente muito bem protegido, descobriremos que o alvo está entocado nos seus aposentos, então, como tirá-lo de lá?

Embora seja possível recorrer à força bruta, em Assassin's Creed Mirage ela nunca é incentivada, pois teremos uma enorme quantidade de inimigos nos caçando. Com isso, podemos recuperar um carregamento de um comerciante ou encontrar documentos referentes a pessoas escravizadas. O objetivo em ambas as situações será chamar a atenção daquele que devemos abater e ao fazer isso, a missão poderá ser concluída tranquilamente.

Muitas dessas atividades paralelas só poderão ser ativadas ao darmos tokens para certos personagens e o interessante é que para obtê-los, a maneira mais simples é realizando missões paralelas. Essa foi a maneira dos desenvolvedores nos incentivarem a realizar essas tarefas, o que considero uma boa saída.

Crédito: Divulgação/Ubisoft

Quanto as missões principais de assassinato, essas são as cerejas de um bolo muito maior, os momentos preparados enquanto realizamos todas as tarefas que o jogo tem a nos oferecer e o motivo para ele realmente existir. Para quem gosta de preparar invasões com cautela, calculando tudo o que pode dar errado no caminho, essas grandes missões podem levar dezenas de minutos para serem concluídas, mas quando forem, a sensação de dever cumprido é extremamente recompensadora.

No meio tempo estaremos pelas ruas roubando muita gente, num minigame em que precisamos apertar o botão no momento certo para não sermos descobertos. Com o tempo essa prática se torna mais fácil, mas caso falhemos, a vítima chamará os guardas e uma barra de notoriedade se encherá. Contando com três níveis, ela representa o efetivo que será posto à nossa procura, mas o que poderia tornar as escapas mais emocionante foi muito amenizada por cartazes espalhados pela cidade.

Trazendo o rosto de Basim, bastará rasgar esses pôsteres para vermos a barra diminuir e como a localização das peças é mostrada na bússola localizada no topo da tela, nos livrar da caçada será algo relativamente simples. Espalhados pelo mapa até existem alguns sujeitos cuja função é apenas limpar a nossa imagem, mas como eles exigem os tais tokens especiais (e relativamente raros) para fazer isso, é muito melhor bater em retirada e procurar os ditos cartazes.

Também gostei muito da maneira orgânica como o Assassin's Creed Mirage acaba servindo como uma grande aula de história, especialmente da cidade de Bagdá e da cultura árabe. A todo momento temos a oportunidade de visitar algum local histórico, o que desbloqueará textos explicando como aquela população tratava assuntos como religião, astronomia, comércio e matemática.

E para quem se preocupa com a precisão das informações passadas, vale dizer que a Ubisoft Bordeaux contou com a colaboração de quatro especialistas em arte islâmica, além da historiadora Glaire Anderson. Com a inclusão de uma dublagem árabe, tudo isso garantiu que o nível de imersão proporcionado fosse o maior possível, sendo fácil nos sentirmos nquela bela cidade do século IX.

Assassin's Creed Mirage

Crédito: Divulgação/Ubisoft

Para mim, a adoção de elementos de RPG a partir do Assassin's Creed Origins foi uma boa escolha e embora eles ainda se façam presente no Mirage, são muito mais comedidos. Sim, aqui ainda temos pontos de experiência que nos permitem desbloquear certas habilidades, mas isso acontece apenas em momentos chaves da história e até a variedade de armas com estatísticas distintas fio muito reduzida.

No entanto, nada disso está no centro do palco como nos jogos anteriores, com o foco sendo mesmo a exploração e as sequências em que nos esgueiramos enquanto tentamos não ser vistos. Para alguns, esse capítulo pode ter dado um passo atrás, mas não tenho do que reclamar da campanha mais curta ou do mapa menor que ele nos entrega.

Para mim, Assassin's Creed Mirage é uma experiência sólida e que me fez lembrar do início da franquia. Uma época em que tudo parecia mais simples, mais focado e mais intenso. É um jogo que não ocupará seu tempo mais do que deveria e que, ao contrário de muito do que tem sido criado hoje, não mira num mapa enorme — e quase sempre “repleto de nada” ou de tarefas repetitivas.

Se você esperava outro jogo dos assassinos que consumiria uma centena de horas de sua vida, certamente ficará decepcionado. Porém, se o intuito for testar suas habilidades como uma espécie de ninja do Oriente Médio enquanto conhece uma bela e vibrante Bagdá do século IX, provavelmente passará momentos bem divertidos com o jogo.

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