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Valve x IA na criação de jogos: permitir ou não?

Após a Valve barrar um jogo que utilizou inteligência artificial na sua criação, mas liberar outros, debate sobre os direitos autorais volta a acontecer

37 semanas atrás

Recentemente uma história contada no Reddit chamou a atenção de vários sites especializados. Nela o autor afirmava que um jogo que ele havia submetido à aprovação do Steam não foi aceito e a justificativa dada pela Valve dizia respeito a utilização de inteligência artificial na sua criação. O caso agora está levantando um grande debate sobre quem deveria ser responsável por controlar os direitos autorais.

Crédito: Reprodução/Freepik

Segundo a pessoa identificada apenas como potterharry97, a ideia era publicar uma versão preliminar do título usando alguns elementos criados com inteligência artificial, para então alterá-la depois, conforme o desenvolvimento prosseguisse. Porém, a resposta que ele teve da plataforma foi a seguinte:

"Embora nos esforcemos para lançar a maioria dos títulos enviados a nós, não podemos publicar jogos em que os desenvolvedores não possuem todos os direitos necessários.

Após uma análise, identificamos propriedade intelectual no [Nome do Jogo Aqui] que parece pertencer a um ou mais terceiros. Em particular, o [Nome do Jogo Aqui] contém arquivos de arte gerados por inteligência artificial que parecem pertencer a material protegido por direitos autorais de propriedade de terceiros. Como a propriedade legal dessas artes geradas por IA não é clara, não podemos publicar o seu jogo enquanto ele contiver ativos gerados por IA, a menos que você possa confirmar que possui os direitos de todas as propriedades intelectuais utilizadas no conjunto de dados que treinou a IA para criar os ativos no seu jogo."

A mensagem enviada pela equipe da Valve ainda falava sobre o game designer ter a oportunidade de remover todo o conteúdo que tivesse sido criado manualmente, o que ele alega ter feito. Porém, como a pessoa apenas melhorou a arte, o jogo foi impedido novamente de aparecer no Steam, desta vez de maneira definitiva.

Com as imagens geradas por serviços como Midjourney, BlueWillow e DALL·E tendo se tornado tão comuns, era inevitável que essas artes fossem aproveitadas também por criadores de jogos. No entanto, a própria Valve parece não ter se preparado muito bem para este momento.

Crédito: Reprodução/BlueWillow/Dori Prata

Isso ficou claro em uma nota enviada pela empresa ao site IGN, onde uma porta-voz afirmou que eles “estão continuamente aprendendo sobre IA, as maneiras como ela pode ser utilizada no desenvolvimento de jogos e como incluí-la no processo de revisão de jogos enviados para a distribuição no Steam.” O comunicado segue:

“A nossa prioridade, como sempre, é de tentar publicar o maior número possível de títulos que recebemos. A introdução da IA às vezes pode tornar mais difícil mostrar que um desenvolvedor possui os direitos suficientes para usar IA na criação de ativos, incluindo imagens, texto e música. Em particular, há algumas incertezas legais relacionadas a dados usados para treinar modelos de IA. É responsabilidade legal do desenvolvedor garantir que eles possuem os direitos apropriados para lançar seus jogos.”

Ainda segundo o representante da Valve, essa é uma tecnologia que está em constante evolução e que o objetivo deles não é desencorajar o seu uso no Steam. Na verdade, eles afirmam estar trabalhando em maneiras de integrar jogos feitos com a utilização de inteligência artificial ao processo de política de análise do Steam, conforme as leis e políticas acerca do assunto também evoluem.

“Damos as boas-vindas e encorajamos a inovação, e a tecnologia da IA está destinada a criar novas e empolgantes experiências nos jogos,” explicou a Valve. “Embora os desenvolvedores possam utilizar essas tecnologias de IA em seus trabalhos com licenças comerciais. Eles não podem infringir os direitos autorais existentes.”

Algo que também ajuda a demonstrar o quanto os criadores do Half-Life ainda estão tateando este campo é o fato de haver jogos no Steam que declaradamente recorreram a imagens geradas por inteligência artificial para serem criados. Um exemplo disso é o Traveler - The AI Story, que em sua descrição diz que desde as imagens até a história, passando pelos efeitos sonoros, tudo foi feito artificialmente.

Traveler - The AI Story (Crédito: Divulgação/Yocat Games)

Ora, se a editora permitiu que algo assim pudesse ser vendido no Steam, por que o jogo criado por potterharry97 não pôde? Considerando a falta de critérios adotado pela loja, o provável é que tenha ocorrido apenas uma falha no processo de avaliação, o que de forma alguma serve para amenizar a frustração daquela pessoa e que nem por isso deixa de acender um sinal de alerta naqueles que estão planejando lançar algo por lá e que tenha contado com o apoio da IA.

Mas enquanto as lojas precisam lidar com a polêmica em relação a quem possui os direitos sobre essas imagens, discussões acaloradas sobre o assunto deverão continuar acontecendo. De um lado temos aqueles que enxergam na tecnologia uma ótima ferramenta de apoio, uma maneira de economizar tempo e até melhorar a qualidade final de seus trabalhos. Do outro estão — principalmente — os artistas, que defendem que esses sistemas de inteligência artificial estão aproveitando suas criações, mas sem lhe dar os devidos créditos (e parte do eventual faturamento gerado).

Do lado da Valve, eu entendo o medo em se ver no meio de um enorme processo que, além de poder lhe custar alguns milhões de dólares, ainda poderia jogar uma mancha sobre o nome da empresa. Para uma companhia que trabalha com criação, ser acusada de facilitar ou incentivar o plágio é um título que eles provavelmente nunca gostariam de conquistar.

No entanto, se eles estão realmente preocupados com isso, acredito que nenhum jogo que utilize inteligência artificial na sua criação deveria ser aprovado e isso inclui aqueles que eventualmente surgirão pelas mãos dos gigantes. Se a política for não aceitar esse tipo de conteúdo, deveria valer para todos, mas nós sabemos muito bem como essas coisas funcionam.

Fonte: The Verge

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