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X-Men '97 — fabulosa nostalgia, do jeito certo

X-Men '97 explora o saudosismo pel'A Série Animada do jeito certo, e o resultado é uma animação que respeita, mas amplia o material original

20/03/2024 às 11:34

X-Men '97 tinha uma missão inglória: contar novas histórias ambientadas no universo de X-Men: A Série Animada (1992-1997), a animação baseada em personagens da Marvel Comics mais querida pelos fãs, e uma das mais bem-sucedidas.

A produção, diferente da animação rival Batman: A Série Animada, ficou datada e presa aos anos 1990, assim, a Marvel Studios optou por fazer de X-Men '97 um programa similar, no visual e narrativa. E acreditem, tudo funciona muito bem.

X-Men '97 (Crédito: Divulgação/Marvel Studios Animation/Disney)

X-Men '97 (Crédito: Divulgação/Marvel Studios Animation/Disney)

Descubra o que achamos dos dois episódios iniciais da série, já disponíveis no Disney+, sem spoilers.

De volta aos velhos tempos

A trama de X-Men '97 começa um ano após o fim d'A Série Animada, em que o professor Charles Xavier é considerado legalmente morto (na verdade, ele foi levado ao planeta Shiar pela rainha Lilandra, para que ele pudesse se recuperar do ataque sofrido no fim da série). O time dos Filhos do Átomo é essencialmente o mesmo de antes, com a adição de Bishop, o viajante do tempo capaz de absorver e redirecionar energia, agora como membro fixo.

A turma não mudou nada em relação ao que eram na animação antiga. Scott Summers/Ciclope continua sendo o líder que alguns não respeitam, mas agora ele tem um dilema, Jean Grey está grávida e prestes a dar à luz, e o casal está considerando sair do grupo para viver a vida em família.

Logan/Wolverine, Remy LeBeau/Gambit, Ororo Munroe/Tempestade, Anna Marie/Vampira, Hank McCoy/Fera e Jubilation Lee/Jubileu continuam iguais, em design e personalidade, enquanto Morpho passou a adotar a aparência sem nenhum traço humano identificável, similar à sua contraparte dos Exilados. Ele é o único cujos poderes mudaram um pouco, ele ainda pode alterar sua aparência, mas se tornou capaz de replicar habilidades físicas.

Nos dois episódios iniciais, Morpho aparece usando os poderes de Colossus, Arcanjo, Lady Letal e Blob, mas ao se transformar na Psylocke, ele usa suas habilidades de combate com a espada, mas não seus poderes psíquicos. Se isso vai mudar, veremos nos próximos episódios.

Só alguém com MUITA confiança no próprio taco (e Magneto a tem de sobra) para encarar um traje tosco desses, e ainda ficar maneiro (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

Só alguém com MUITA confiança no próprio taco (e Magneto a tem de sobra) para encarar um traje tosco desses, e ainda ficar maneiro (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

O plot inicial lida com os resquícios dos Amigos da Humanidade, o grupo de extremistas que visam o extermínio dos mutantes, tendo acesso a tecnologias recauchutadas dos Sentinelas, as temíveis máquinas caçadoras e o pior pesadelo de qualquer um com um gene X. O grupo tem o reforço de um novo vilão, Carl Denti aka Executor X, que usa diversas parafernálias para infernizar a vida dos X-Men.

O piloto também introduz um novo personagem na série, o brasileiro Roberto da Costa, o futuro Mancha Solar, que aqui faz o mesmo papel da Jubileu no piloto d'A Série Animada, e não por acaso, é ela quem o guia pela nova realidade de se descobrir um mutante.

Como se não bastasse, Magneto ressurge na mansão Xavier e esfrega o testamento de Charles na cara dos X-Men, no que o maior telepata do mundo deixou tudo para seu velho amigo, inclusive a liderança do grupo. O Mestre do Magnetismo está tentando, com muito esforço pessoal, trilhar o caminho do bem, com direito a mudança de visual e tudo... usando o famoso (pelos motivos errados) traje do "M" gigante tosco.

X-Men '97 não tem vergonha de parecer "velha"

Os eventos iniciais de X-Men '97 espelham os acontecimentos narrados na edição histórica Uncanny X-Men Vol. 1 #200 (1985), que conecta a nova série E a antiga, com o julgamento de Magneto e sua estreia como líder dos X-Men. Há algumas referências soltas aqui e ali, incluindo a aparição de Calisto e os Morlocks, os mutantes que vivem nos esgotos de Nova Iorque.

A continuidade da narrativa original foi bem respeitada, quem foi fã d'A Série Animada vai reconhecer diversos elementos, como o perene triângulo entre Scott, Jean e Logan, e os flertes de Remy com Vampira, que está agora dividida com a chegada de Erik à mansão (assim como nas HQs, ela e Magneto tiveram um passado).

Nada grita mais anos 1990 do que esses modelitos, que são canônicos, apareceram em X-Men Vol.2 #4, E na 3.ª temporada d'A Série Animada. Jim Lee, claro (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

Nada grita mais anos 1990 do que esses modelitos, que são canônicos, apareceram em X-Men Vol.2 #4, E na 3.ª temporada d'A Série Animada. Jim Lee, claro (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

Roteiro de lado, a parte técnica de X-Men '97 merece destaque. Primeiro, a produção recebeu o aval de Kevin Feige, com duas condições: usar de novo a música-tema clássica, e trazer de volta o elenco original, o que foi atendido em partes. Norm Spencer, o dublador original do Ciclope, por exemplo, faleceu em 2020, e foi substituído por Ray Chase; Catherine Disher também não retornou, e a voz de Jean Grey ficou a cargo de Jennifer Hale, a "femShepard" de Mass Effect.

Por outro lado, Carl Dodd (Wolverine), Lenore Zann (Vampira), George Buza (Fera), e Alison Sealy-Smith (Tempestade) voltaram; a dublagem brasileira também trouxe alguns que trabalharam na animação original, enquanto outros foram substituídos, como Luiz Feier Motta como Wolverine. Ele já havia dublado o personagem em X-Men: Evolution, mas em '97, ele interpreta a versão do carcaju imortalizada na voz de Isaac Bardavid, falecido em 2022.

No entanto, a maior atenção vai para a animação em si. A equipe da Marvel Studios Animation vem cortando um dobrado nos últimos anos, para fugir do estigma de não conseguir emplacar séries memoráveis, Avengers Assemble (no Brasil, Vingadores Unidos) durou 5 temporadas, mas pouca gente lembra dela; as várias do Homem-Aranha nos anos recentes também não deixaram impressões profundas. A única que o público realmente se lembra é X-Men: A Série Animada, e em menor grau, Homem-Aranha (1994) e X-Men: Evolution.

What If...?, a primeira animação da Marvel produzida direto para o Disney+, contou com o que há de mais moderno para animar o estilo único e inconfundível de J.C. Leyendecker, um dos artistas mais proeminentes (e mais alegre do que uma árvore cheia de macacos sob efeito de gás do riso) da primeira metade do século XX, mas para X-Men '97, uma abordagem mais datada era ideal.

A nova série usa um estilo de arte que reproduz o visual da produção de Avi Arad, voltada a levar à TV os quadrinhos de Jim Lee e cia, e a técnica de animação usa menos quadros de propósito. O resultado é curioso, você sabe que se trata de um produto novo, mas, ao mesmo tempo, parece ser um desenho de 30 anos atrás.

Claro, X-Men '97 é mais bonito que X-Men: A Série Animada, ainda mais se a compararmos com a última temporada da série antiga.

Além da apresentação, as histórias são importantes. A revelação dos nomes dos episódios sugerem histórias clássicas, como Lifedeath, que alude à fase em que Tempestade e Forge engataram um romance, durante o período em que ela perdeu os poderes. A original adaptou arcos importantes das HQs, como A Saga da Fênix Negra e Dias de um Futuro Esquecido, além de servir como inspiração reversa, para o evento dos quadrinhos A Era do Apocalipse.

Dificilmente X-Men '97 chegará ao mesmo patamar, mas o cuidado da Marvel em manter a série visualmente datada, para não destoar demais d'A Série Animada, é um ponto positivo, por mais que os Jovens™️ (que foram um erro) reclamem.

X-Men '97 — Conclusão

Não é segredo que X-Men '97 faz parte de uma estratégia da Marvel para reposicionar os mutantes no imaginário dos fãs. A longa saga de Krakoa foi encerrada nos quadrinhos, e de uma civilização de imortais, os Filhos do Átomo voltarão a ser escritos como heróis que lutam por um mundo que os teme e odeia, inclusive pela mais gente boa dos roteiristas, a divertidíssima Gail Simone.

No cinema teremos Deadpool & Wolverine, a única produção do MCU em 2024, com Wade, aquele mercenário tagarela, a cargo de unificar o finado Foxverso ao universo principal. Uma nova série animada, ligada diretamente ao cartoon da Marvel mais reverenciado de todos, chega a ser uma aposta óbvia.

Bem-vindos de volta, X-Men (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

Bem-vindos de volta, X-Men (Crédito: Reprodução/Marvel Studios Animation/Disney)

A seu favor, X-Men '97 paga, sim, tributo a X-Men: A Série Animada, mas caminha com as próprias pernas, permitindo a exploração de mais arcos clássicos das HQs, como a série original fez, agora com uma animação mais estável, ainda que ela pareça velha de propósito. Ela pode não ser tão interessante aos novatos, mas é um deleite para os fãs que passaram dos 40 anos.

Mesmo que você não tenha assistido à primeira animação, ou conheça pouco das HQs, X-Men '97 se sustenta com uma boa narrativa, heróis imperfeitos, a marca registrada da Marvel, e vilões carismáticos. E claro, muitos Sentinelas para Logan mostrar mais uma vez que ele é o melhor no que faz, sem medo da classificação etária.

Nota:

Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney

5/5 SNIKT!

Onde assistir:

X-Men '97 está disponível no Disney+.

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