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IA vs. criadores de jogos: Take-Two entra na briga

Para CEO da Take-Two, a inteligência artificial não substituirá os desenvolvedores, mas servirá como uma ferramenta para facilitar o trabalho

1 ano atrás

Nos últimos meses, o assunto mais debatido entre os apaixonados por tecnologia é o avanço que tem sido feito na área de inteligência artificial. Da criação de imagens a uma possível revolução instaurada pelo ChatGPT, o mercado de games tem se perguntado como essas ferramentas poderão interferir na criação e para o CEO da Take-Two, os desenvolvedores podem ficar tranquilos.

Inteligência artificial

A IA precisa ser nossa inimiga? (Crédito: Reprodução/rawpixel/Freepik)

Figura conhecida por não ter medo de expor suas opiniões sobre as tendências da indústria, Strauss Zelnick costuma ser bastante conservador em relação às novidades. Ele já afirmou não acreditar que serviços como o Game Pass acabarão com o modelo tradicional de vendas e foi um dos poucos executivos a não se empolgar com os NFTs. Restava saber o que ele pensava sobre a IA e isso finalmente aconteceu.

Ao participar de um vento para investidores, o mandachuva da Take-Two foi questionado se essas ferramentas poderão prejudicar o negócio deles, com a geração de conteúdo fazendo surgir jogos melhores do que aqueles que temos hoje.

Strauss Zelnick começou confirmando sua fama de cético em relação ao hype gerado por outras pessoas e tratou de fazer um esclarecimento. Para ele, “IA significa ‘inteligência artificial’ e não existe algo como uma inteligência artificial.” O CEO ilustrou seu comentário comparando o ChatGPT a uma calculadora, objeto que muitos acreditavam que faria as crianças não aprenderem matemática, mas não foi o que aconteceu.

Segundo Zelnick, uma ferramenta como esta poderá facilitar bastante o processo de criação de jogos, mas nunca conseguirá substituir uma pessoa. “Estamos inaugurando uma era muito empolgante de novas ferramentas e elas permitirão que nossas equipes e as dos competidores a façam coisas muito interessantes de maneiras mais eficientes,” disse o executivo. “E não, a IA não permitirá que alguém diga, ‘por favor, desenvolva um competidor para o Grand Theft Auto que seja melhor que o Grand Theft Auto’.”

Conseguirá a IA criar algo como um GTA V? (Crédito: Divulgação/Rockstar)

Mesmo se as pessoas tentarem fazer isso, o CEO da Take-Two defende que jamais obterão sucesso. No entanto, a contribuição que essas ferramentas podem dar é inegável e alguns exemplos dessas utilizações estão surgindo quase que diariamente na internet.

Da geração praticamente automática de imagens para servirem como artes conceituais ou até mesmo para serem utilizadas diretamente em alguns jogos; até fazer com que a interação com os NPCs (personagens não-controláveis, na sigla em inglês) sejam mais naturais, o impacto da inteligência artificial nos games pode ser imenso.

Veja, por exemplo, essa demo, em que o desenvolvedor mistura a API fornecida pela OpenAI, a ferramenta de transcrição de áudio para texto e texto para áudio do Microsoft Azure, a Unreal Engine e a DALL·E. O resultado é um robô atendente numa loja e que consegue responder aos nossos pedidos, com a conversa e produtos sendo gerados dinamicamente.  

Alguém poderá argumentar que ainda estamos muito longe de alcançarmos isso em um videogame, mas a verdade é que o recurso está logo ali, precisando apenas de ajustes. Duvida? Então passemos para uma implementação prática, uma que poderá transformar o Mount & Blade II: Bannerlord em um jogo bem mais interessante.

Usando o ChatGPT e uma engine customizada, a modificação permite que os jogadores digitem o que querem dizer aos personagens controlados pelo computador, com as respostas dadas por eles sendo geradas pela inteligência artificial. Os criadores afirmam que nada do que é dito pelos NPCs faz parte de um roteiro, embora eles passem informações corretas sobre locais, facções, eventos e tudo o mais relacionado ao universo do jogo.

Tudo bem, o tempo de resposta pode ser um pouco alto, mas precisamos levar em consideração que essa é uma tecnologia que só começou a ganhar popularidade há alguns meses. Mesmo assim, parece uma evolução muito maior do que muitos poderiam imaginar, o que nos faz pensar no que estaria por vir.

No caso de RPGs ou jogos de mundos abertos, imagine não ter que ouvir repetidamente os comentários feitos por alguém, sem falar em frases idênticas ditas por várias pessoas. Imagine chegarmos ao ponto em que a interação com a inteligência artificial em um jogo parecerá tão natural que esqueçamos que aquela conversa não está sendo feita com outro jogador.

Para alguns, como o australiano David Chalmers, professor de Filosofia e Ciências Neurais na New York University e especialista em consciência e tecnologia, inevitavelmente haverá um momento em que esses personagens terão noção de suas existências, o que mudará completamente a maneira como os tratamos.

Inteligência artificial

Crédito: Reprodução/0fjd125gk87/Pixabay

Devido à inteligência artificial se tratar de uma das áreas que menos evoluíram nos games nas últimas décadas, a utilização de algo como o ChatGPT poderia fazer com que acelerássemos vários anos nesta direção. Porém, de nada adiantará termos as conversas mais interessantes com um NPC, se eles continuarem agindo das maneiras mais estúpidas possíveis e sem demonstrarem o menor senso de sobrevivência.

Iniciativas neste sentido tem acontecido por todos os lados, como o ambicioso Project Atlas, da Electronic Arts. Lançado em 2018, ele já contou com mais de mil pessoas trabalhando para tornar a inteligência artificial mais precisa através de machine learning, o que fez com que ela fosse capaz de aprender a jogar o Battlefield 1 na base da tentativa e erro. Novamente, o que pode surgir de algo assim beira o inimaginável.

Mas se temos visto avanços lentos no que diz respeito a tornar os comportamentos dos NPCs mais realista, o mesmo não pode ser dito sobre a utilização de inteligência artificial para ajudar na criação de jogos. Também se valendo da técnica de machine learning, a Anything World é uma ferramenta de animação 3D que reduz em 40% o processo de criação de mundos virtuais, algo que já tem sido utilizado por empresas como Ubisoft e Apple.

Outro bom exemplo está sendo dado por modders dedicados ao The Elder Scrolls III: Morrowind. Incomodados com o fato de os NPCs do jogo não term sido dublados, eles recorreram a ferramentas como ElevenAI e MWSE para treinar a inteligência artificial, inclusive mantendo os sotaques de cada região e fazendo assim com que o jogo se tornasse bem mais atrativo.

Inteligência artificial

Crédito: Reprodução/Freepik

Contudo, por mais que a tecnologia possa servir para encurtar caminhos e baratear o desenvolvimento de jogos, existe toda uma questão ética envolvida. Alguns se perguntam até que ponto é justo utilizarmos esse conteúdo nos jogos e principalmente, como isso poderá prejudicar financeiramente quem vinha trabalhando da maneira tradicional, como, por exemplo, os dubladores.

Já Strauss Zelnick acredita não haver motivos para nos preocuparmos. “Não acho que vocês verão isso afetar a estrutura de custos de negócios, porque penso que isso apenas subirá a barra,” defendeu o CEO. “Penso que sempre que você torna as coisas mais fáceis, iremos querer fazer mais e as nossas equipes irão querer mais.”

De qualquer forma, os últimos meses sugerem que o surgimento de uma nova era para o desenvolvimento de jogos se anuncia. O que precisamos saber é se tudo não passará de um falso alarme.

Fonte: GamesIndustry

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