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Poderá a IA ajudar no controle de qualidade dos games?

Chefe do Xbox Game Studios diz sonhar com o dia em que o controle de qualidade dos jogos ficará sob os cuidados da inteligência artificial

1 ano e meio atrás

De todas as etapas envolvidas na criação de um jogo, uma das mais críticas (e extenuantes) é o controle de qualidade. Garantir que um título chegue o melhor possível nas mãos dos consumidores exige o trabalho árduo dos testadores e muitas vezes resulta em adiamentos e o tão temido crunch.

Porém, mesmo com toda essa importância, as pessoas que trabalham procurando falhas nos games costumam ser as mais exploradas e relegadas em um desenvolvimento. Com salários baixos e longas jornadas, elas normalmente não recebem a atenção que merecem, algo que foi abordado com maestria pela série Mythic Quest: Raven's Banquet.

Crédito: Reprodução/upklyak/Freepik

Com os projetos se tornando cada vez mais complexos, como resolver um problema que tem tudo para se tornar bem maior? Pois o chefe do Xbox Game Studios, Matt Booty, acredita ter encontrado a solução e ela envolve a inteligência artificial.

Ao participar da PAX West com a palestra “Storytime with Matt Booty”, o executivo iniciou seu raciocínio afirmando que o controle de qualidade é um dos processos relacionados à criação de jogos que não acompanhou a velocidade do desenvolvimento. Booty então usou o cinema para explicar a complexidade na produção de videogames.

“Uma das maiores diferenças entre um jogo e algo como um filme, é que se estamos trabalhando em um filme e você chega e diz, ‘ei, esse final, vamos encurtá-lo, vamos editar isso, vamos cortar esta cena.’ Normalmente isso não quebra algo no início do filme. Mas em um jogo você pode estar pronto para o lançamento e um designer diz, ‘tenho esse pequeno recurso, vou apenas mudar a cor dessa coisa’ e então, de alguma forma aquilo explode algo e agora os primeiros dez minutos do jogo não roda. Então, esse aspecto do teste, toda vez que algo novo chega a um jogo, todo ele precisa ser testado, de trás para frente, de lado a lado.

O meu sonho — há muita coisa acontecendo com inteligência artificial e aprendizado de máquinas no momento e as pessoas usam a IA para gerar todas essas imagens. O que sempre digo quando encontro o pessoal da IA é: ‘me ajudem a descobrir como usar um bot de IA para testar um jogo.’”

Ainda segundo Matt Booty, se um dia chegarmos ao ponto do seu desejo ser realizado, ele poderia iniciar 10000 instâncias de um jogo na nuvem, fazer com que a inteligência artificial realizasse o processo de controle de qualidade durante a noite e pela manhã a equipe apenas receberia um relatório.

controle de qualidade

Saem as pessoas, chegam as máquinas (Crédito: Reprodução/vectorjuice/Freepik)

Se considerarmos a maneira como boa parte dos títulos tem sido lançado nos últimos anos, torna-se fácil comprar essa ideia. O motivo para vermos jogos chegarem às lojas parecendo tão inacabados não é porque aqueles que os testam fazem um mau trabalho, mas sim porque é muito mais fácil encontrarmos esses erros quando milhares, milhões de pessoas estão servindo como “cobaias”.

Logo, uma inteligência artificial poderia fazer em poucos dias todo o trabalho que uma equipe de controle de qualidade levaria meses para concluir, sem falar nos erros que os humanos estão suscetíveis a cometer. Um exemplo é o jogo Cyberpunk 2077, cujos testes ficaram nas mãos de uma empresa chamada Quantic Lab e que, segundo um ex-funcionário, enganou a CD Projekt Red.

Após o caso ganhar as manchetes, o CEO da companhia tratou de colocar panos quentes, afirmando que as pessoas não têm conhecimento sobre como funciona um processe de controle de qualidade e que a Quantic Lab cuida de cerca 200 jogos anualmente. De acordo com Stefan Seicarescu, normalmente esses projetos são terceirizados para mais de uma empresa, além de passar pelos testadores da própria desenvolvedora.

De qualquer forma, algo precisa ser feito para garantir que os jogos passem a ser lançados com um maior nível de qualidade. Porém, será que a solução está mesmo em deixar essa responsabilidade aos cuidados das máquinas? Até que ponto Matt Booty não estaria apenas tentando varrer a sujeira para debaixo do tapete?

Por mais que uma equipe de controle de qualidade não seja suficiente para realizar a mesma função de uma poderosa inteligência artificial, será que a indústria de games não deveria estar mais preocupada em garantir condições de trabalho melhores para esses profissionais? Será que contratar mais pessoas, pagar melhores salários e reduzir as jornadas de trabalho não faria com que a caça a falhas se tornasse mais efetiva?

Testar jogos está longe de ser uma profissão prazerosa (Crédito: Reprodução/pikisuperstar/Freepik)

Isso pode parecer apenas um devaneio, o desejo de alguém que acredita num mundo de fantasia, mas enquanto uma IA como a sonhada por Booty não for implementada, quem estaria idealizando uma utopia aqui?

O fato é que a utilização de inteligência artificial no desenvolvimento de games já se tornou uma realidade. Da geração aleatória de estágios até a criação de imagens para serem usadas no projeto, a “criatividade” das máquinas pode ser uma ótima ferramenta de apoio aos game designers, encurtando caminhos e até mesmo tornando possível a conclusão de um projeto.

Se um dia veremos os computadores ficando responsáveis também pelo controle de qualidade, teremos que esperar um pouco para saber. Mas mesmo que isso aconteça, ainda me pergunto se os jogos realmente deixarão de apresentar falhas tão bizarras e de passar a impressão de que foram lançados inacabados.

Fonte: TheGamer

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