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IA: EUA quer Apple, Nvidia e AMD usando chips da Intel

Secretária de Comércio dos EUA quer Intel fornecendo chips de IA no lugar da TSMC; resta convencer Apple, Nvidia e AMD a comprarem

16/09/2024 às 10:40

Apple, Nvidia e AMD estão entre as maiores companhias que desenvolvem semicondutores e chips voltados à Inteligência Artificial (IA), mas todas contam com manufaturas externas para a impressão de seus designs. O problema para o governo dos Estados Unidos, as três são as principais clientes da TSMC.

A foundry taiwanesa está há tempos na mira do premiê Xi Jinping, e seria um dos principais motivos para a improvável, mas não totalmente descartada, reanexação forçada de Taiwan à República Popular da China, algo que Washington prefere que não aconteça, mas preparou um plano de contingência mesmo assim, na forma de uma Lei de incentivos à indústria local, que favorecerá principalmente a Intel.

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

O problema: Apple, AMD e Nvidia não têm intenção de deixar de fazer negócios com a TSMC, o que a Secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, aquela que puxou a orelha de Jensen Huang, não vê como uma opção viável a longo prazo.

IA, chips, e Intel vs. TSMC

A pandemia da Covid foi didática ao demonstrar o quão frágil é o mercado de tecnologia, que hoje tem total dependência de manufaturas da China e de Taiwan, esta especificamente os semicondutores impressos pela TSMC. A empresa hoje fornece chips para uma pletora de clientes, é a foundry exclusiva dos SoCs Apple Silicon, e mesmo empresas que imprimem seus chips (a maçã, AMD, Nvidia e várias outras são fabless, ou seja, só criam os designs) terceirizam parte de suas linhas.

Uma dessas é a própria Intel, em um clássico caso de teto de vidro, mas de qualquer forma, o governo dos EUA não anda muito contente com a predileção das companhias locais, especialmente as designers de semicondutores, pela TSMC. Um dos motivos é a ameaça da China invadir e anexar Taiwan, o que seria catastrófico, há a estimativa que em um cenário onde a foundry deixe de existir, o país entre em recessão, o que terá consequências globais.

O segundo motivo, Apple e cia. preferem fazer negócios com empresas de Taiwan e China, porque os custos finais dos componentes são menores, seja por a TSMC ter muitos clientes, ou Pequim jogar o valor hora-homem de funcionários de montadoras lá embaixo. De um jeito ou de outro, a Intel não é uma fornecedora de chips interessante para seus negócios, por cobrar muito mais.

Foi para lidar com esse cenário que o presidente Joe Biden aprovou em 2022 a CHIPS and Science Act (de Creating Helpful Incentives to Produce Semiconductors, ou Criar Incentivos e Suporte para a Produção de Semicondutores), uma Lei que prevê a injeção de até US$ 280 bilhões para o desenvolvimento e impressão de semicondutores, mas dentro dos EUA e de preferência, por empresa norte-americanas, onde a Intel será obviamente a principal beneficiada.

A CHIPS Act é similar à Lei da União Europeia aprovada em 2021, de modo a desenvolver a pesquisa e impressão local de semicondutores, para se livrar tanto da dependência da China e Taiwan, quanto das companhias dos EUA.

Voltando à América, o plano da CHIPS Act depende de colaboração das companhias consumidoras de chips para dar certo, o que não parece estar acontecendo. A Apple já expressou a intenção de comprar componentes impressos localmente, mas da TSMC, que está construindo uma manufatura em solo americano, pelo mesmo motivo de sempre: mesmo que o custo seja maior, ainda será mais barato do que comprar na mão da Intel.

Há também o ponto mais óbvio, tanto a TSMC quanto a Samsung, uma de suas principais concorrentes, não têm a menor intenção de produzirem seus chips mais avançados fora de Taiwan e Coreia do Sul, por mais que o governo dos EUA queira tudo ao mesmo tempo agora, componentes de ponta E preços competitivos, para assumir a liderança do setor (America First, como sempre).

Gina Raimondo, secretária de Comércio dos EUA, não anda nada contente com Apple, AMD e Nvidia priorizando a TSMC em detrimento da Intel (Crédito: Andrew Harnik/AP)

Gina Raimondo, secretária de Comércio dos EUA, não anda nada contente com Apple, AMD e Nvidia priorizando a TSMC em detrimento da Intel (Crédito: Andrew Harnik/AP)

O que nos traz de volta à Intel. O CEO Pat Gelsinger está apostando o futuro da companhia no processo 18A, que o executivo JURA ser superior ao de 3 nm dos taiwaneses, e o governo quer a empresa como fornecedora de chips de IA para as grandes companhias locais, mas em uma reunião recente para discutir o futuro da empreitada, Gina Raimondo teria ouvido queixas de Gelsinger, por Apple, AMD e Nvidia continuarem priorizando a TSMC.

Segundo a rede CNBC, a secretária de Comércio teria se encontrado com "vários" investidores-chave da Apple e Nvidia, para "lembrá-los" dos benefícios de contar com uma empresa 100% americana para o fornecimento de chips (leia-se Intel), que seria mais seguro do que depender exclusivamente da TSMC, mencionando uma possível, ainda que improvável, anexação de Taiwan pela China.

Basicamente, Raimondo está apelando para o bom e velho FUD (Medo, Incerteza e Dúvida), a fim de convencer as gigantes tech a priorizarem o mercado interno, de modo a não colocarem todos os ovos em uma cesta de terceiros, mas mesmo isso não estaria dando certo. A maçã dispensou chips da Intel em 2020, trocando a arquitetura CISC/x86 pela RISC/ARM, e não há indícios de que voltará a trabalhar com a antiga parceira, ainda mais em componentes voltados à IA, o buzz do momento.

Já Jensen Huang, CEO da Nvidia, declarou que sua empresa pode trocar de foundry se preciso for, mas isso implicaria em chips de IA mais caros e menos capazes, embora a demanda continuasse sendo suprida; na prática, o executivo não pretende fazê-lo sem um bom motivo.

Fonte: CNBC

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