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ULA está oficialmente à venda; quem vai levar?

Tory Bruno revela que ULA está aberta para propostas de aquisição; Lockheed Martin, Blue Origin e Amazon estão entre os interessados

20 semanas atrás

ULA (United Launch Alliance) está aberta para negócios: o executivo-chefe Tory Bruno confirmou que a joint venture controlada pela Lockheed Martin e Boeing está pronta para analisar ofertas de aquisição, ao acreditar que seu vasto catálogo a torna um item atraente no mercado aeroespacial, para quem quiser comprar.

A afirmação de Bruno confirma os rumores que circularam em março de 2023, no que a ULA estaria enviando propostas a potenciais compradores, no que os mais interessados seriam a Amazon e a Blue Origin, embora haja a possibilidade da Lockheed assumir a empresa sozinha, adquirindo os 50% da Boeing.

Segundo seu CEO, a estrutura de comando da ULA é "complicada", e limitou seu crescimento (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

Segundo seu CEO, a estrutura de comando da ULA é "complicada", e limitou seu crescimento (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

Tory Bruno revelou que a ULA está "na pista" em uma entrevista ao Bloomberg, onde ele afirma que um possível futuro novo dono "colherá os frutos" da transformação que a empresa passou nos últimos anos, por uma série de fatores, de questões geopolíticas à óbvia pressão exercida pela SpaceX, hoje sua principal concorrente.

Tendo sido fundada em 2006, a United Launch Alliance nasceu direcionada para uso da NASA e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, provendo os meios necessários para lançamentos científicos e satélites de diversas funções, o que inclui missões militares confidenciais. A ULA recebe em média US$ 1 bilhão/ano de subsídios, que ela alocou no desenvolvimento dos foguetes Delta e Atlas, este o lançador exclusivo da cápsula Starliner da Boeing; ela também faz parte da joint que desenvolve o SLS, com Boeing (não pergunte), Aerojet Rocketdyne e Northrop Grumman.

Só que o tempo passou, e a ULA começou a ter alguns problemas. O Vulcan e a cápsula Centaur, que deveriam voar em 2023, estão atrasados e talvez, TALVEZ, saiam do chão no Natal (spoiler: não vai rolar); o foguete é movido pelos motores BE-4 da Blue Origin, que estão também para lá de atrasados; mesmo sendo um cliente pagante, a companhia de Jeff Bezos não consegue suprir a demanda, e olha que o acordo foi assinado em 2014.

Não obstante, a ULA foi vítima das trapalhadas da Boeing, que está perdendo muito dinheiro para cumprir com sua parte do desenvolvimento do SLS, e da cápsula Starliner, e as contas não estão fechando. A Lockheed, por outro lado, está em uma posição mais confortável, com as finanças em dia e pronta para entregar a cápsula Orion, que será usada no programa Artemis da NASa, que levará finalmente astronautas de volta à Lua.

Por outro lado, o motivo que levou a ULA a correr atrás do prejuízo, tem nome e sobrenome: Elon Musk. Sua SpaceX provou que foguetes reutilizáveis são um futuro inevitável para a exploração espacial, no que a empresa cumpre todos os padrões de excelência exigidos pela NASA, e gastando muito menos dinheiro.

Ainda que o Vulcan seja uma "evolução" frente ao Atlas e ao Delta, ele ainda é descartável, com um custo estimado entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões por lançamento, com a cápsula Centaur; O Falcon 9, por sua vez, custa US$ 67 milhões por missão. Falcon Heavy? US$ 97 milhões em missões recuperáveis, ou US$ 150 milhões caso seja exigido que ele queime todo o combustível na ascensão, culminando com a perda do veículo.

A situação da ULA não é muito diferente da ESA, só dá para reduzir custos até certo ponto, se a estratégia for continuar com foguetes descartáveis. Para cortar mais gastos, só com reutilizáveis, e ninguém hoje tem condições de mudar todo o seu business plan, de uma hora para outra. Melhor para Elon Musk.

Tory Bruno, CEO da ULA: "fazemos qualquer negócio" (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

Tory Bruno, CEO da ULA: "fazemos qualquer negócio" (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

Isso posto, Tory Bruno diz que a gestão acionária "complicada" da ULA, com uma metade puxando o freio da outra, por questões financeiras, além de outros motivos, foi um fator que deteve a evolução e agilidade da joint venture. O financiamento do Vulcan, por exemplo, aprovado pelo conselho formado por executivos da Lockheed e Boeing, inicialmente só previa incrementos trimestrais.

A gota d'água foi a perda da exclusividade com acordos militares, quando a Força Espacial dos EUA fechou contratos para o lançamento de 12 novos satélites, dividindo-os entre a ULA e a SpaceX; tradicionalmente, a empresa de Bruno levaria o pacote inteiro. Em 2020, o Pentágono selecionou a empresa para 60% de suas missões de segurança nacional, até 2027, e a companhia de Musk ficou com os 40% restantes.

Quem vai ficar com a ULA?

Entre as companhias com mais chances de comprar a United Launch Alliance, destacam-se três:

  • Lockheed Martin: dona de 50% da ULA, ela está em uma situação financeira bem mais confortável que a Boeing, com um lucro projetado de US$ 8,4 bilhões para 2023. Ela seria a candidata natural para assumir o controle total da empresa, e está sendo considerada, entre especialistas e especuladores, como a líder do páreo;
  • Blue Origin: a companhia aeroespacial de Jeff Bezos nunca mandou um parafuso sequer para o espaço, mas vem fechando contratos para missões em Marte e na Lua, muito para controlar os acessos de birra de seu dono, que não pensa duas vezes em processar o governo dos EUA quando contrariado. A adição de ULA a seu portfólio resolveria os problemas de escala do BE-4 e do New Glenn, seu projeto de foguete reutilizável; o Vulcan também suporta conversão futura, e a união das empresas poderia acelerar o processo;
  • Amazon: operada separadamente da Blue Origin, a gigante do e-commerce teria uma margem de folga para alavancar o Projeto Kuiper, sua constelação de satélites para internet própria, e finalmente fazer frente à StarLink de Elon Musk; ela já injetou US$ 2 bilhões de modo a aumentar as capacidades da ULA para este fim, permitindo o lançamento de até 25 Vulcan/ano.

Além destas, a Northrop Grumman seria uma compradora interessante, com esta já tendo demonstrado interesse em contratos militares; a possibilidade da Boeing, apesar de andar mal das pernas, comprar a parte da LM e assumir tudo, também não deve ser totalmente descartada, embora as chances disso acontecer serem baixas.

Tory Bruno diz que se ele fosse comprar uma empresa espacial, ele ficaria "de olho na ULA", apontando que hoje a empresa pode agregar valor a quem estiver disposto a comprá-la, logo, só nos resta acompanhar os futuros desenvolvimentos desta história.

Fonte: Bloomberg

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