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Blue Origin ganha outro contrato, para lander lunar

Jeff Bezos rindo à toa: Blue Origin ganha contrato para construção de 2.º lander lunar, projeto mais caro e bem menor que a Starship

42 semanas atrás

E aconteceu o que todo mundo previu: a Blue Origin ganhou mais um contrato da NASA, desta vez para a construção do segundo módulo de pouso lunar da missão Artemis. O acordo, no valor de US$ 3,4 bilhões, prevê a entrega do lander até o fim da década.

Esta é a segunda vez que a agência espacial norte-americana dá preferência à companhia aeroespacial de Jeff Bezos, que nunca mandou nada para fora da Terra, em licitações, sendo a primeira para uma missão a Marte, envolvendo o foguete New Glenn.

Arte conceitual do lander Blue Moon em escala, após revisão (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Arte conceitual do lander Blue Moon em escala, após revisão (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Curiosamente, o módulo de pouso lunar escolhido não é o ILV (de Veículo Lunar Integrado, em inglês), rejeitado antes, mas um projeto anterior conhecido como Mark 1, que passou por reformulação e redesign. Chamado agora Mark 2 ou Blue Moon, ele resultado de uma joint venture entre várias companhias, a saber Blue Origin, Lockheed Martin, Draper, Boeing, Astrobotic, e Honeybee Robotics.

Seu sistema de propulsão será novo, provido por um motor de oxigênio e hidrogênio líquidos, chamado BE-7, uma versão aprimorada do BE-3U, que equipa o segundo estágio do New Glenn. O módulo conta com duas versões, uma descartável, capaz de levar até 30 toneladas de carga, e uma retornável (não é vasilhame de refrigerante, mas enfim), a usada pelos astronautas, que comporta até 20 t.

A NASA confirmou que a Blue Origin desbancou a concorrente Dynetics, para o desenvolvimento de um segundo lander, na última sexta-feira (19). O contrato, fechado em US$ 3,4 bilhões, supera os US$ 2,89 bilhões que a SpaceX de Elon Musk assegurou em 2021, quando a Starship foi o módulo original vencedor da disputa entre as três empresas. Os motivos foram vários, a começar pela escala:

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Primeiro, a Starship é uma solução em si, que tem capacidade para partir da Terra rumo à Lua sozinho, e voltar, usando um foguete Falcon Super Heavy; segundo, o ILV era originalmente o módulo mais complicado dos três, sendo inspirado nas missões Apolo, composto de estágios de pouso, transferência e ascensão, sem contar a dependência de uma cápsula Orion.

Terceiro, e o fator mais crítico, a proposta da Blue Origin era de longe a mais cara das três, o dobro do aventado pela Dynetics, e quatro vezes mais que a Starship. No fim, a NASA fechou com a SpaceX por ser o que ela podia pagar, e Jeff Bezos, que não aceita um não como resposta, processou a agência, de modo a forçá-la judicialmente a contratar sua companhia.

Embora a Blue Origin tenha perdido a disputa na Justiça, esta não foi a primeira vez que o careca apela para o processinho, a fim de forçar o governo dos Estados Unidos a fechar contratos. Essa mesma atitude aniquilou um contrato de US$ 10 bilhões entre a Microsoft e o Pentágono, depois que a Amazon foi preterida e Bezos, claro, entrou com uma ação.

As coisas mudaram em 2022, quando Joe Biden aumentou o orçamento da NASA para este ano. Do adicional de US$ 1,2 bilhão, a maioria, US$ 538,3 milhões, foi para o Programa Artemis, elevando o budget para os atuais US$ 2,6 bilhões, com previsão de injeção constante até 2027, no que o montante pode chegar a US$ 4,45 bilhões. A meta? Desenvolver um segundo módulo lunar, para servir de redundância. Ordens do presidente.

Nota: na mesma ocasião, o orçamento para a cápsula Crew Dragon, da SpaceX, teve uma redução de US$ 10,7 milhões.

As concorrentes seriam as rejeitadas do pleito anterior, a Dynetics e a Blue Origin, com esta revisando o projeto. Ao invés do ILV, que incorporava algumas ideias do Mark 1, a companhia resolveu descartá-lo em prol do design original, que foi repaginado e atualizado. Ele subirá vazio acoplado ao New Glenn, onde se unirá a um rebocador espacial chamado Cislunar Transporter, um projeto da Lockheed Martin. Este, uma vez na Lua, abastecerá o módulo de pouso/ascensão.

O prof. Scott Manley explicou como o Blue Moon funciona, usando Kerbal Space Program, claro:

Como mencionado antes, este é o segundo contrato para uma missão espacial assegurado pela Blue Origin; em fevereiro de 2023, a companhia garantiu o uso do New Glenn para enviar um projeto de estudos da magnetosfera de Marte, usando sondas gêmeas, já em 2024.

No entanto, aquela pergunta sempre volta à baila: por que a Blue Origin, e Jeff Bezos por tabela, continua sendo agraciada pelo governo dos EUA com contratos, sendo que sua companhia nunca enviou um único parafuso para o Espaço? Seus projetos mais ambiciosos são apenas CGis, os testes e lançamentos realizados foram todos suborbitais, o New Glenn nunca saiu do chão, e seus motores, incluindo os prometidos para clientes, estão mais do que atrasados.

Ironicamente, o que está dando resultado para Blue Origin é justamente a personalidade birrenta de Jeff Bezos, de não aceitar rejeição e apelar para processos contra o governo, que causam transtornos e atrasos nos cronogramas, mesmo que ele não vença. A NASA e o Congresso entenderam que, ao invés de se indispor com Bezos, que não pensa duas vezes em queimar grana com lobbies no meio político, o melhor a fazer é agradá-lo e dar a ele o que quer, para não atrapalhar.

Esa atitude vai de encontro à dispensada a Elon Musk, porque o dono da SpaceX não bajula políticos, e uma vez que sua empresa garanta um contrato e cumpra o que lhe for pedido, ele fará o que lhe der na telha.

Exatamente por isso os congressistas o odeiam, e o melhor exemplo foi o que aconteceu com a Starship: para justificar a existência do SLS e da cápsula Orion, pagos com dinheiro público e que serão os veículos prioritários, o módulo da SpaceX será usado como um backup da "obra de igreja" da NASA e Boeing, em um procedimento bem complicado:

  1. A Starship sobe vazia e será abastecida em órbita. Enquanto isso, o SLS lança a cápsula Orion rumo à estação Gateway, na órbita lunar;
  2. Ao chegar, a Starship se acopla à Gateway, para que os 3 astronautas da Orion embarquem, e sigam para a Lua;
  3. Na volta, a Starship se acopla de novo à Gateway, os astronautas voltam para a Orion, que segue para a Terra;
  4. A Starship volta para a Terra vazia.

Todo esse procedimento poderia ser feito sem o SLS e a cápsula Orion, e dependendo do cenário, daria para dispensar até mesmo a estação Gateway, o que significaria economia de bilhões em dinheiro público (o SLS custa US$ 2 bi por lançamento, e é perdido toda vez). Mas como a Starship não pode ser controlada pelo Congresso, que determina em que estado, e por quem, ele será construído, o que se converte em empregos (e votos), como acontece com o SLS, é assim que vai ser.

Bezos, por sua vez, não vê problema nenhum em agradar políticos, mas também não tem melindre algum em comprar briga com o governo. Ele sabe que não pode vencer a máquina pública, mas ele tem ciência de que suas ações incomodam, custam dinheiro aos cofres públicos, e desagradam os eleitores dos políticos que tentam bater cabeça com ele.

No fim, é melhor manter Bezos feliz e com os bolsos cheios, para o bilionário gastar com coisas diversas, como uma escultura da namorada na proa de seu iate de US$ 500 milhões.

Blue Origin continua ganhando contratos com a NASA, mesmo sem nunca ter mandado um parafuso para o espaço, para a diversão de Jeff Bezos (Crédito: Saul Loeb/AFP/Getty Images)

Blue Origin continua ganhando contratos com a NASA, mesmo sem nunca ter mandado um parafuso para o espaço, para a diversão de Jeff Bezos (Crédito: Saul Loeb/AFP/Getty Images)

É isso ou ele continuar causando problemas para exploração espacial, pois cada ação judicial significa paralisação de projetos, como aconteceu quando ele processou a NASA; a SpaceX foi obrigada, por força da Lei, a parar os trabalhos da Starship por meses.

A projeção ideal indica que a missão Artemis deve voltar à Lua por volta de 2029, quando tanto a Starship quanto o Blue Moon deverão estar prontos e funcionais. Porém, considerando que até o momento a Blue Origin ainda não mostrou serviço, é mais seguro afirmar que o módulo de Bezos deverá voar por volta da primeira metade dos anos 2030.

Até lá, provavelmente veremos mais alguns casos do CEO ganhando concorrências no grito, e por birra.

Fonte: NASA

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