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SpaceX ganha concorrência para pousar astronautas na Lua, mas não vai levar

Se pousar na Lua por si só não é simples, imagine construir uma nave para isso em 3 anos. É o que a SpaceX foi contratada para fazer.

3 anos atrás

A notícia é ótima, principalmente para a SpaceX, uma empresa com 18 anos de idade e que em 3 anos se tudo der certo irá pousar na Lua, mas toda a história do Programa Artemis é bem mais complexa e envolve extrema politicagem.

Os três finalistas (Crédito: NASA)

Basicamente a NASA ficou ambiciosa demais e não conseguiu ir adiante com os planos do Venture Star, o avião espacial gigante que seria o sucessor do Space Shuttle. Nem quando o projeto sofreu um downgrade considerável e virou o X-33, conseguiram.

Quando ficou claro que o Ônibus Espacial estava com os dias contados, criaram o programa Constellation, que projetaria um foguete bem mais simples e barato, o Ares I, e uma versão de carga, o Ares V.

Como todo bom programa de governo, o Constellation foi crescendo em ambições e custos. Em certo momento ele envolvia missões à Lua, Marte, espaço profundo e sei lá, Tatooine. O custo já estava em US$230 bilhões.

Quando Obama puxou a tomada, o programa estava anos atrasado, já havia gasto dezenas de bilhões de dólares e tinha pouco ou nada para mostrar.

Na correria criaram o SLS, um foguete que aproveitaria parte do que foi feito pro Constellation, e ainda seria bem mais barato que o Space shuttle. Spoiler Alert: Não foi. Estima-se que quando (e se) for lançado cada SLS custará mais de US$2 bilhões, excluindo custos de desenvolvimento.

A muito custo lançaram uma versão simplificada da Cápsula Orion, em Dezembro de 2014, usando um Delta IV Heavy da ULA.

Lançamento da Orion em um Delta IV Heavy, em 2014 (Crédito: NASA / Bill Ingalls)

Em 2017 o Programa Espacial ganhou um bem-vindo empurrão, quando Donald Trump concentrou verbas em exploração tripulada, e em 2019 foi lançado o Programa Artemis, que iria levar de volta à Lua astronautas americanos, com pouso previsto para 2024.

A grande diferença é que dessa vez o ato de pousar na Lua ficaria a cargo de empresas privadas. A NASA ao invés de assumir todas as etapas do processo, usaria a bem-sucedida técnica de investir dinheiro na iniciativa privada, fomentando a criação de novas tecnologias.

Isso deu certo nos sistemas de lançamento, como o Falcon 9 e o Electron, e mesmo em naves tripuladas, como a Dragon.

A verba foi dividida em um monte de sub-projetos, várias empresas estão construindo módulos de pouso robóticos para realizar vários experimentos contratados pela NASA, mas o grande foco era o HLS, Human Landing System. Em essência, a NASA projetou um procedimento no qual uma nave levará os astronautas até a Estação Espacial Gateway, em órbita da Lua, e um módulo de pouso reutilizável irá levar e trazer os astronautas da superfície lunar.

Várias empresas apresentaram projetos. Três foram selecionadas para a fase de design:

  • SpaceX
  • Dynetics
  • Blue Origin

Foi liberada uma verba de US$967 milhões para que elas detalhassem suas propostas e designs. A Blue Origin receber US$579 milhões, a Dynetics US$253 milhões e a SpaceX ficou com US$135 milhões.

Agora, depois de muita deliberação, saiu o resultado, e para surpresa de muita gente a SpaceX ganhou, irá receber US$2.89 bilhões para desenvolver a Starship HLS, uma versão adaptada da nave que já estão construindo, projetada para pouso lunar.

A SpaceX foi criticada por ter uma proposta ousada demais, que envolvia um monte de fatores desconhecidos, mas ironicamente as duas outras propostas foram rejeitadas por serem... muito conservadoras.

O Dynetics HLS seria um módulo de pouso/ascensão com capacidade para até 4 astronautas, sendo reabastecido em órbita por módulos de combustível trazidos por foguetes Vulcan da ULA. Sua vantagem seria o centro de gravidade baixo e facilidade de acesso para os astronautas.

Módulo da Dynetics (Crédito: Dynetics)

A Blue Origin apresentou o Integrated Lander Vehicle, seguindo o modelo bem tradicional da Apollo, com um módulo de pouso, um módulo de transferência e um módulo de ascensão. É a proposta mais complicada, e inclui o uso de uma cápsula Orion para transferir o ILV da Estação Gateway para órbita lunar baixa.

Módulo da Blue Origin (Crédito: Blue Origin)

A SpaceX apresentou a Starship Lunar, uma nave com duas escotilhas com sistemas de suporte de vida independentes, capacidade de carga sem precedente, reabastecimento em órbita através de Starships de Carga e muito mais.

Lunar Starship da SpaceX (Crédito: NASA)

Outro fator que provavelmente impressionou a NASA: A Starship já está voando. Quer dizer, ela ainda não aprendeu a pousar, mas isso é só um detalhe. A Dynetics é uma empresa com 40 anos de experiência fornecendo componentes pra Defesa e Indústria Aeroespacial, mas nunca construiu nada grande. A Blue Origin por sua vez numa mandou nem uma rolha para o Espaço.

Para piorar, a proposta da SpaceX foi DE LONGE a mais barata, as duas outras pediram valores absurdamente altos, mas a mídia especializada acha que o que mais influenciou foi isto aqui:

Size Matters (Crédito: Meio kibado do Scott Manley)

As imagens com as três propostas são totalmente falsas, mostram os três sistemas fora de escala, A Starship está numa categoria totalmente diferente.

A Orion, que é bem maior que os módulos da Dynetics e da Blue Origin, e leva até 6 passageiros (contra 4 dos outros) tem um volume pressurizado interno de 20m3 e uma área habitável de 9m3.

A Starship tem um volume interno pressurizado de 825 m3. Ela foi projetada para levar CEM passageiros até Marte. Ao ser adaptada para uma missão lunar com 4 ou 5 astronautas, sobra espaço A RODO para carga. Ela pode transportar CEM toneladas de carga de uma vez, nenhum dos concorrentes sequer sonha em chegar perto disso.

Missões com eles significaria lançar vários módulos isolados cada um levando parte do material. A SpaceX pode levar uma expedição lunar inteira incluindo veículos, módulos habitacionais, barris de cerveja...

A SpaceX merecidamente ganhou essa concorrência para pousar na Lua, e receberá US$2.89 bilhões pelos próximos anos, enquanto cumprir as metas do contrato, mas aqui começa a parte da politicagem.

A empresa está desenvolvendo seu próprio foguete, a Starship, que com o Super-Heavy lançará cargas de 100 toneladas até a órbita da Terra. Com reabastecimento orbital uma Starship pode tranquilamente ir até a Lua, mas não é isso que vai acontecer.

Segundo Elon Musk o custo idealizado de um lançamento da Starship é de US$2 milhões, mas a NASA precisas justificar o SLS e a Orion, então os astronautas decolarão com o Space Launch System, a um custo de US$2 bilhões, sua cápsula Orion seguirá em direção à Lua, aonde acoplarão com a Estação Gateway.

Enquanto isso uma Starship Lunar decolará da Terra, será reabastecida em órbita, e seguirá para a Estação Lunar.

Muita nave pra minha estaçãozinha (Crédito: Reddit)

O que diga-se de passagem é ridículo. É uma nave espacial com 825 m3 de espaço interno se acoplando com uma “estação espacial” de 125m3. É quase como aquela foto famosa do Shaquile O’Neal com a namorada.

A tripulação vai viajar apertada numa Orion, podendo aproveitar uma Starship que deve ter até sauna hidro e tv com Canal Privê a bordo, pois a NASA não quer admitir que o SLS é um elefante branco.

Para a SpaceX tanto faz, eles vão pousar na Lua, vão receber o muito bem-vindo dimdim e investir tudo na Starship e no Starlink, que a longo prazo financiarão os planos de colonização de Elon Musk, Imperador de Marte (sério, tá na Bio dele no Twitter)

Já a concorrência que corra atrás.

Para Saber Mais:
O documento da NASA detalhando as razões da escolha da SpaceX para pousar na Lua (cuidado, PDF)

 

 

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