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ULA teria sido posta à venda, mas quem vai comprar?

Fontes afirmam que a United Launch Alliance (ULA) pode ser vendida em 2023; Jeff Bezos poderia fechar compra via Blue Origin, ou Amazon

1 ano atrás

A ULA (United Launch Alliance) estaria procurando um comprador. Ao menos é o que dizem três fontes próximas à companhia fabricante de foguetes, uma joint venture criada para atender as necessidades de clientes grandes, como a NASA.

O Vulcan é bem grandinho (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

O Vulcan é bem grandinho (Crédito: Divulgação/United Launch Alliance)

A notícia sobre uma possível venda da ULA foi publicada em primeira mão pelo site Ars Technica, que diz ter em entrado em contato com as fontes. Segundo a investigação, a empresa teria enviado propostas a potenciais compradores interessados, e que um acordo formal deve ser firmado antes do fim de 2023; a financeira Morgan Stanley e a companhia de consultoria Bain & Company estariam agindo como mediadoras.

Fundada em 2006, a United Launch Alliance é uma parceria entre a Lockheed Martin e a Boeing Defense, Space & Security, controlada igualmente pelas duas empresas, com 50-50 de participação. A empreitada foi financiada e administrada com muito interesse pelo governo norte-americano, para uso pela NASA e Departamento de Defesa, no lançamento de missões científicas e satélites, inclusive os espiões.

O negócio foi bastante lucrativo para ambas as partes, graças ao dinheiro público injetado, em média US$ 1 bilhão/ano, o que viabilizou as plataformas de lançamento Delta e Atlas, cujos modelos estão entre os foguetes equipados com os motores mais potentes da indústria aeroespacial. Ambos serão substituídos pela geração Vulcan, cujo primeiro lançamento está agendado para maio de 2023.

No entanto, todo o setor tomou um sacode na última década, graças à SpaceX. A companhia de Elon Musk estabeleceu foguetes reutilizáveis, mesmo os de grande porte, como o futuro, e boa parte dos concorrentes estão correndo atrás do prejuízo, enquanto tentam puxar o tapete da empresa norte-americana, ao menos na Europa. Infelizmente, a companhia da presidente e COO Gwynne Shotwell segue todas as regras, assim, não arrisca ser enquadrada por concorrência desleal.

Toda a linha Atlas e Delta da ULA foi composta de foguetes descartáveis, e mesmo o projeto inicial do Vulcan seguiria essa fórmula, em prol de priorizar a potência dos dois motores BE-4, este capaz de produzir 2,45 MN de impulso ao nível do mar.

O Vulcan e a cápsula Centaur devem bater de frente com os foguetes da SpaceX em termos de preço, e vale lembrar que a ULA possui contratos muito lucrativos; ela garantiu 60% dos lançamentos voltados à segurança nacional dos EUA, entre 2023 e 2027, e 38 lançamentos da constelação de satélites Kuiper da Amazon, uma futura concorrente da StarLink.

Mesmo assim, a ULA não está navegando em águas tranquilas. Primeiro, a SpaceX forçou a empresa a repensar seus planos, no que o Vulcan, originalmente descartável, se tornará reutilizável posteriormente, para reduzir os custos de lançamento e diminuir a distância entre ela e sua principal concorrente.

Segundo, o motor BE-4 usado no foguete, fabricado pela Blue Origin, está para lá de atrasado. A companhia de Jeff Bezos mal consegue dar conta dos pedidos de clientes pagantes como a empresa de Tory Bruno, e o projeto do New Glenn, então, nem se fala.

Tory Bruno (esq.), CEO da ULA, e Jeff Bezos, durante coletiva de imprensa em 2014, exibindo modelo do motor BE-4, fornecido pela Blue Origin (Crédito: Win McNamee/Getty Images)

Tory Bruno (esq.), CEO da ULA, e Jeff Bezos, durante coletiva de imprensa em 2014, exibindo modelo do motor BE-4, fornecido pela Blue Origin (Crédito: Win McNamee/Getty Images)

Pode parecer que uma venda não faça sentido, mas há de lembrar que a Boeing está perdendo bastante dinheiro à parte, apenas para manter o cronograma do SLS e da cápsula Starliner, por mais que ela receba verba com mais facilidade que a SpaceX, apenas porque os legisladores americanos odeiam Elon Musk, um dos poucos temas em que há consenso bipartidário. Do outro lado, a Lockheed está mais à vontade com o projeto da cápsula Orion, que tem Airbus e ESA como parceiras, no módulo de serviço ESM.

Na possibilidade de a proposta de venda ser real, poucos seriam mais beneficiados pela aquisição do que Jeff Bezos. No caso dela ser adquirida pela Blue Origin, isso resolveria problemas de escala para a produção do BE-4, e a expertise da companhia seria agregada ao projeto New Glenn, que recentemente ganhou um contrato de uma missão à Marte.

O ponto negativo óbvio reside no fato de que a Blue Origin nunca mandou nem um parafuso ao espaço, o que pode mudar. Simultaneamente, outra compradora em potencial seria a Amazon, o que pode parecer absurdo, mas ambas companhias fundadas por Bezos são administradas completamente em separado.

Nesse cenário, a Amazon teria mais flexibilidade para viabilizar o Projeto Kuiper, sem contar com o óbvio resultado que Bezos passaria a ter duas empresas aeroespaciais sob seu controle, ao manter ULA e Blue Origin separadas, mas com uma coçando as costas da outra.

Em um cenário igualmente provável, uma das duas controladoras da ULA pode assumir a parte da parceira e tocar a empresa 100%, no que a provável de fazê-lo seria a Lockheed Martin, dadas as dificuldades da Boeing com outros projetos; entre interessados externos, destaca-se a Northrop Grumman, que possui interesses em lançamentos visando segurança nacional.

Procuradas, tanto a Lockheed Martin quanto a Boeing desmentiram a possibilidade de venda com notas à imprensa idênticas, dizendo que "em consistência com nossas (suas) práticas corporativas, nós (ambas empresas) não comentamos rumores de mercado em potencial, ou especulações sobre atividades financeiras".

Fonte: Ars Technica

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