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Blue Origin "precisa acelerar", diz Bezos Capitão Óbvio

Jeff Bezos ainda acredita que a Blue Origin se tornará "a empresa definitiva", mas admite que ela terá que pisar fundo no acelerador

14 semanas atrás

A Blue Origin, a companhia aeroespacial de Jeff Bezos, teve um "pequeno" problema de cadência em 2023: não realizou um único lançamento que fosse; a título de comparação, a SpaceX realizou 92 missões e tem mais três agendadas até o fim do ano. Este não é o único embaraço da empresa fundada em 2000, dois anos antes que a rival de Elon Musk, e que nunca chegou ao Espaço de verdade, apenas fez voos suborbitais.

Embora Bezos tenha assegurado contratos com a NASA, para a construção do segundo módulo lunar da missão Artemis, e para uma missão em Marte, o executivo reconhece que há muito a ser feito para alcançar (na cabeça dele, ultrapassar) o nível de excelência das demais companhias do ramo. O primeiro passo será pisar no acelerador com vontade, o que devia ter sido feito há muito tempo.

Mesmo sendo dois anos mais velha que a SpaceX, a Blue Origin de Jeff Bezos nunca mandou um parafuso sequer para o Espaço (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Mesmo sendo dois anos mais velha que a SpaceX, a Blue Origin de Jeff Bezos nunca mandou um parafuso sequer para o Espaço (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Sendo uma empresa ativa há mais de 20 anos, a Blue Origin não é exatamente pequena, e emprega cerca de 11 mil funcionários, segundo dados oficiais mais recentes, o que é pouca coisa menos que a SpaceX (~13 mil, dados de setembro de 2023). Tanto uma quanto a outra conta com profissionais de ponta da área aeroespacial em seus quadros, mas Bezos tem a seu favor que já era muito rico ao fundar a empresa, uma antiga paixão.

A Blue Origin possui contratos sólidos com parceiros como a ULA de Tory Bruno, que tem sua própria cota de problemas para resolver, e como projeto pessoal de Bezos, ele injetou ao longo dos anos uma quantia excepcional na empresa, entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões. Levando tudo isso em conta, não haveria motivos para que ela não deslanchasse, mas os resultados práticos se limitam ao New Shepard, que realiza voos suborbitais, este mais voltado ao turismo espacial, que o careca pode não ter muito mais concorrência, agora que Sir Richard Branson desistiu da Virgin Galactic.

De qualquer forma, a Blue Origin teve o tempo, e o dinheiro, necessários para se tornar uma potência tanto quanto a SpaceX, que hoje vale mais que a Boeing, mas ainda não realizou nenhum voo do New Glenn, seu foguete para missões no espaço exterior, e que será usado (sabe lá quando) nas missões que fechou com a NASA. Sem contar o módulo Blue Moon para a volta dos astronautas norte-americanos à Lua, que será usado como uma opção à Starship.

Para ser sincero, a Blue Origin ganhou tais boquinhas por Bezos ser birrento, e não ter medo de processar o governo dos Estados Unidos quando contrariado, o que inclusive afundou um contrato da Microsoft com o Pentágono, quando a Amazon foi preterida na licitação. Isso, e o fato dele ser muito mais dado a lobby do que Elon Musk, levou o Congresso a mantê-lo na folha de pagamento, apenas para que o executivo não crie (mais) problemas.

Porém, mesmo Jeff Bezos entende que não vai conseguir se garantir no grito para sempre, é preciso que a Blue Origin mostre resultados práticos, e rápido, ou vai ficar definitivamente para trás na corrida espacial.

Em entrevista ao podcast em vídeo do cientista da computação Lex Fridman, Bezos revelou uma série de pormenores sobre a Amazon e a Blue Origin, e os motivos que o levaram a renunciar ao cargo de CEO da gigante do e-commerce em 2021, para focar exclusivamente na companhia aeroespacial (embora sejam empresas "co-irmãs", como dizia Vicente Matheus, elas operam em separado). Em resumo, as coisas estão devagar demais, e é preciso acelerar:

"A Blue Origin precisa se tornar uma companhia muito mais ágil, este é um dos motivos do por que eu me afastei do cargo de CEO da Amazon, dois anos atrás (...). Eu queria participar (ativamente), e a Blue Origin precisa de mim no momento. Ela precisa de mais energia, de algum senso de urgência. Nós precisamos nos mover muito mais rápido. E nós iremos."

Bezos defende que a Blue Origin se tornará "a companhia mais decisiva em qualquer setor da indústria", e que sua equipe "será excelente em assumir riscos e tomar decisões rápidas". O executivo diz que a empresa precisa de "gente ambiciosa" para alcançar esse objetivo, e que estarão sempre abertos a "mudar de opinião", ou seja, admitir quando estão errados e reagir de acordo.

O grande problema para Bezos, claro, está em convencer todos, quem está fora E dentro da empresa, de que a Blue Origin será capaz de recuperar o tempo perdido. Na época do processo contra a NASA, por perder inicialmente a licitação do módulo lunar para a SpaceX, contatos internos ouvidos pelo site Ars Technica disseram estar ressentidos por como o caso estava sendo levado pela cúpula, o que incluía dados maquiados, para fazer a empresa parecer a injustiçada no rolo.

Sem contar o agradecimento feito aos consumidores da Amazon, por estes pagarem o voo do New Shepard, que pegou muito mal entre colaboradores, dado como seus entregadores eram tratados.  Na época, a Blue Origin perdeu colaboradores-chave, inclusive com alguns deles indo para a SpaceX.

Uma das medidas recentes tomadas por Bezos foi trocar o então CEO Bob Smith, supostamente dispensado por não mostrar resultados concretos em meia década, por Dave Limp, ex-Amazon, para acelerar o P&D da empresa, a fim de cumprir os compromissos que assumiu para a NASA. Lembrando, a Blue Origin nunca mandou nem uma jujuba para o Espaço, e precisa desenvolver um lander lunar, e terminar os trabalhos acerca do New Glenn.

Bezos JURA que o New Glenn voa em 2024. Veremos (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Bezos JURA que o New Glenn voa em 2024. Veremos (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Segundo Bezos, o New Glenn está quase pronto, e se tudo correr bem, terá seu tão esperado lançamento inaugural em algum momento de 2024. Estamos falando de um foguete reutilizável, tal qual o Falcon Heavy, com 98 m de altura, capacidade para colocar até 45 toneladas em órbita baixa, ou 13,6 t em órbita geoestacionária. Ele é movido por 7 motores BE-4, desenvolvidos internamente, cada um com capacidade de produzir 2,45 MN de impulso ao nível do mar.

O BE-4 já foi homologado, tanto que ele está previsto para equipar o Vuncan Centaur da ULA, não estivesse terrivelmente atrasado. Tory Bruno só recebeu as primeiras duas unidades em 2022, quando a entrega deveria ter sido feita em 2017, e se atender clientes já está complicado, atender a demanda interna não está muito diferente, segundo fontes. Bezos garante que esses problemas serão resolvidos, mas a essa altura, todo mundo entrou no modo São Tomé.

Por fim, Bezos evitou fazer maiores comentários sobre a SpaceX, sua principal concorrente (embora ela e a Amazon estejam fazendo negócios), e Elon Musk. O executivo disse apenas não conhecer profundamente o rival, apenas sua "persona pública" que ele exibe a todos, mas acrescentou que a companhia aeroespacial e a montadora Tesla jamais alcançariam o nível de sucesso comercial que atingiram, se seu dono não fosse "um líder competente".

Fonte: Ars Technica

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