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Scars Above — Uma Odisseia no Espaço

Buscando inspiração em várias obras de ficção cientifica, Scars Above é um jogo que conseguiu me prender pela boa jogabilidade e história interessante

1 ano atrás

Durante muito tempo a indústria de games gostou de classificar suas produções como de grande ou pequeno porte. Porém, alguns estúdios perceberam que existia espaço para projetos que não se encaixavam nem num extremo, nem no outro, seriam títulos que contariam com custos de produções superiores a de um indie, mas bem abaixo de um AAA. Scars Above se enquadra neste grupo.

Desenvolvido pelos sérvios da Mad Head Games, eles buscaram inspiração em várias obras da ficção cientifica para criar um jogo de tiro em terceira pessoa que fosse ao mesmo tempo intrigante, desafiador e assustador. Bom, quanto a isso posso dizer que o objetivo foi alcançado.

Scars Above

Crédito: Divulgação/Mad Head Games

Scars Above começa nos apresentando ao Metaedro, um enorme e misterioso objeto que certo dia aparece na órbita da Terra. Após alguns estudos, cientistas decidem enviar uma missão tripulada até o que parece ser uma espaçonave e para isso começam a treinar vários especialistas.

Essas pessoas fariam parte da equipe SCAR (sigla para Sistematização de Contato com Alienígenas Racionais), um grupo formado por quatro membros: o comandante Richard Robinson; o brilhante físico Mike; a médica e engenheira Tamara; e por fim, a bióloga e engenheira mecânica, Kate Ward.

O que eles não poderiam imaginar é o que aconteceria ao se dirigirem para a estrutura alienígena. Conforme se aproximam do Metaedro, a nave passa a ser atraída por uma espécie de campo gravitacional, até que um evento acontece e a Dra. Ward acorda num lugar desconhecido.

Não demorará até que a protagonista perceba que está num planeta alienígena, com a fauna e a flora local se misturando a monolitos claramente criados por uma civilização avançada. Felizmente o conhecimento da personagem lhe será muito útil, com ela precisando utilizar tudo o que aprendeu na vida acadêmica para descobrir o que está acontecendo ali e principalmente, como voltar para casa.

A mistura de gêneros e mecânicas

Crédito: Divulgação/Mad Head Games

Mas enquanto a história de Scars Above buscou suas referências em obras como 2001: Uma Odisseia no Espaço; Fundação e Alice no País das Maravilhas, sua jogabilidade pode ser considerada o amálgama de diversos títulos.     

Até pela sua ambientação, paleta de cores e posição da câmera, a primeira impressão ao nos encontrarmos no exoplaneta é de estarmos diante de uma variação do jogo Returnal, da Housemarque. Porém, se aquele jogo buscava nos colocar no meio do balé de um bullet hell, este pende mais para outro gênero que tomou a indústria nos últimos anos, o soulslike.

Assim como nos títulos que tentam replicar a essência das criações de Hidetaka Miyazaki, em Scars Above também teremos uma protagonista incapaz de morrer, ou melhor, de se manter morta. Nele também encontraremos lugares que servirão como ponto de renascimento e ativá-los sempre fará com que todos os inimigos ressurjam. Porém, aqui não teremos a tradicional mecânica que nos fará perder a “moeda local” caso não consigamos chegar até o ponto em que fomos derrotados.

Outro aspecto que parece ter vindo direto dos jogos da FromSoftware é o alto nível de dificuldade. Com os monstros encontrados pelo caminho sendo impiedosos e muitos exigindo a utilização da arma correta para serem derrotados, mesmo na dificuldade normal será comum morrermos diversas vezes e durante um bom tempo isso me desanimou a continuar jogando.

Crédito: Divulgação/Mad Head Games

Após sofrer para avançar em alguns trechos, percebi que não estava me divertindo com o jogo e decidi passar a jogar no nível mais fácil. Aquilo se mostrou uma escolha acertada, já que pude aproveitar melhor a viagem e seguir experimentando aquilo que mais me agradava no título, que era a sua história e exploração.

Aliás, por mais que o Scars Above seja um jogo bastante linear, praticamente não nos dando liberdade para seguirmos por outros caminhos, conhecer o planeta em que ele se passa me fez pensar em outro título que deve ter lhe servido de inspiração, o Metroid Prime. Com isso não quero dizer que a criação da Mad Head Games se aproxima da obra-prima do Retro Studios, mas nem de longe considero isso um demérito.

Contudo, não espere encontrar aqui uma infinidade de lugares interconectados, com um mapa que precisará ser acessado constantemente. Ainda assim, as muitas habilidades e equipamentos que Kate adquire ao longo da aventura lhe permitirão acessar áreas que antes eram intransponíveis, fazendo com que, mesmo timidamente, o título se aproxime de um metroidvania.

Use a arma certa!

Crédito: Divulgação/Mad Head Games

Por se tratar essencialmente de um jogo de tiro, pode haver a impressão de que as batalhas presentes em Scars Above se resumem a atirarmos em tudo o que se mover, mas essa é uma área do jogo em que os desenvolvedores acertaram em cheio.

Isso porque conforme os monstros forem cruzando nosso caminho descobriremos que eles possuem fragilidades contra alguns elementos. Assim, inimigos poderão ser derrotados mais facilmente caso os atinjamos com fogo, enquanto outros serão alvos fáceis contra gelo. Também poderemos aproveitar o cenário, com um disparo elétrico na água afetando todos que estiverem por perto.

Além disso, embora os adversários mais fracos possam ser atingidos em qualquer lugar, aqueles mais poderosos costumam contar com uma camada extra de proteção, tornando-os quase imunes aos nossos ataques. A solução? Encontrar alvos como pústulas e que poderão ser alvejados. O problema é que a oportunidade para acertar esses locais são raras, fazendo com que um mero confronto possa se estender por vários minutos.

Também merece ser citado o design dos monstros, muitos deles parecendo terem saído de uma história de H. P. Lovecraft. Destaque também para os chefes, que além de possuírem visuais ainda mais marcantes, nos colocarão diante de situações que funcionarão como verdadeiros quebra-cabeças.

O esmero versus a diversão

Scars Above

Crédito: Divulgação/Mad Head Games

Scars Above não é o tipo de jogo que será lembrado pela sua qualidade técnica. Apesar de ter gostado dos cenários e da iluminação, a impressão é de estarmos jogando algo que deveria ter sido lançado no final da geração passada. Isso se torna mais evidente ao olharmos para os personagens, que além de contarem com animações pobres, possuem rostos pouco inspirados — para dizer o mínimo.

Contudo, mesmo não agradando pela parte visual, o título da Mad Head Games conseguiu prender minha atenção de uma maneira que não achei que ele seria capaz. Seja pelas divertidas batalhas que exigem algum raciocínio (e uma boa dose habilidade), seja pela história intrigante, os pontos negativos não foram suficientes para me fazer desistir de encarar a odisseia de Kate Ward.

Evidentemente, muito disso se deve a baixa expectativa que tinha pelo jogo e por ter conseguido entender que não encontraria uma superprodução ali. Assim ele conseguiu me divertir pelo tempo em que estive no controle da Dra. Kate Ward, com a aventura me fazendo lembrar daqueles jogos que alugávamos despretensiosamente e eram capazes de nos fisgar.

Seguindo nessa incursão a um passado distante, posso dizer que gostei do fato da campanha ser curta, com ela podendo ser concluída num final de semana. mesmo assim, admito que me incomodou um pouco a parte final parecer ter sido acelerada, com a aparição de itens para a melhoria da personagem crescendo absurdamente e os chefes surgindo um após o outro. Ficou a impressão de que o estúdio precisou concluir o projeto antes do que desejava, algo que tem se tornado tão comum nos últimos anos.

Especulações a parte, quem procura uma experiência mais duradoura poderá recorrer a níveis mais altos de dificuldade, o que seria uma maneira de ampliar o tempo que passaremos no jogo, mesmo que isso sempre me soe como uma solução um tanto artificial.

PS: ao contrário do que é informado na página do jogo no Steam, Scars Above possui legendas em português do Brasil.

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