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Returnal e Sony no PC: quando a migalha vem disfarçada de banquete

Returnal registra baixo número de jogadores no Steam e mostra que a Sony poderia mudar sua política de adaptações, mas quem acredita que isso acontecerá?

1 ano atrás

Por mais que eu tenha certas ressalvas em relação à onda de roguelikes que invadiu o mercado nos últimos anos, fiquei feliz ao saber que o Returnal estava indo para os computadores. Após jogar um pouco dele no PS5, gostei muito do que a Housemarque criou e por pertencer a um gênero que costuma se sair tão bem entre o público do PC, o sucesso parecia garantido. Porém, alguns números sugerem que talvez eu estivesse errado.

Returnal

Crédito: Divulgação/Housemarque

Tendo estreado na nova plataforma na última quarta-feira (15), o título foi bem recebido pela crítica, inclusive com a sua média tendo sido superior àquela registrada no console da Sony. Entre os principais elogios temos a qualidade gráfica superior e o fato da adaptação rodar muito bem no PC, algo que chega a ser surpreendente hoje em dia.

Já quando se trata da opinião dos jogadores, no Steam o Returnal conta com um índice de aprovação de 81%, com algumas das reclamações recaem "apenas" no preço cobrado pelo jogo. Para essas pessoas, por mais que estejamos falando de um título com alto grau de produção, isso não elimina o fato dele ser um roguelike, onde o nível de dificuldade e repetição são características marcantes e que fazem com que apenas um nicho se interesse por ele.

Esse é um argumento que podemos debater, mas o fato é que ao olharmos para o número de jogadores podemos notar que a criação do estúdio finlandês está com uma certa dificuldade para engrenar.

Segundo o site SteamDB, durante esses primeiros dias o pico de pessoas jogando o Returnal simultaneamente não chegou a 7 mil, fazendo dele o jogo desta nova fase da Sony com o segundo pior desempenho, ficando a frente apenas do Sackboy: A Big Adventure, com 610 pessoas. No topo da lista temos o God of War, com mais de 73 mil jogadores simultâneos e mesmo o Uncharted: Legacy of Thieves Collection, que também teve um início fraco, registrou quase 11 mil pessoas. Nota: todos esses picos aconteceram logo após os respectivos lançamentos.

Returnal

Crédito: Divulgação/Housemarque

Contudo, mesmo com esses números nos dando um indicativo se os jogos foram ou não aceitos pelo público, eles precisam ser olhados com cuidado. Primeiro porque estamos tratando do desenho apenas no Steam e segundo porque o número de jogadores simultâneos não representa as vendas totais.

Outro detalhe importante é que esta é uma nova franquia, com o seu poder de atração sendo muito menor que um God of War ou mesmo um Horizon Zero Dawn. Porém, o que explicaria o jogo ter se saído tão bem no PlayStation 5, com 560 mil cópias vendidas nos três primeiros meses? Pois a resposta pode estar também no timing.

Mesmo não podendo ser considerado um “system seller”, quando o Returnal chegou ao console os consumidores reclamavam bastante da falta de exclusivos e ver o lançamento de uma nova propriedade intelectual, com uma mecânica diferente do que estávamos acostumados, acabou chamando a atenção de muita gente.

Pois essa sensação de novidade não conseguiria se manter no PC, com os quase dois anos que separam as versões tendo sido suficiente para apagar um pouco do brilho da aventura de Selene Vassos. Além disso, o ar de jogo independente automaticamente faz muitas pessoas pensarem em preços mais convidativos e ele estar sendo vendido por R$ 249,90 não ajuda.

Pois isso nos leva a um comportamento que a Sony tem adotado há bastante tempo e que normalmente é criticado pelos consumidores, estou falando da arrogância. Na cabeça dos executivos da empresa, suas propriedades intelectuais são tão poderosas que tudo bem se eles as levarem para o PC muitos meses depois e cobrarem um “preço cheio” por elas.

Crédito: Divulgação/Housemarque

A percepção provavelmente é de que as pessoas pagarão quanto eles quiserem para terem acesso a tais jogos, quase como se a empresa estivesse fazendo um favor por disponibilizar tamanhas perolas fora do jardim murado que atendo pelo nome PlayStation. Já quem não quiser esperar e/ou pagar caro para jogar no PC, adivinhe? Que compre um console!

O que talvez essa soberba não esteja os deixando enxergar é que nem tudo o que eles lançam possui a força de um Kratos ou um Spider-Man, o apelo de um Nathan Drake ou a qualidade do mundo pós-apocalíptico em que (sobre)vive a Alloy. Convenhamos, se nem os simpáticos bonequinhos do LittleBigPlanet conseguiram se destacar no PC, será que deveríamos esperar uma sorte melhor para o loop infinito de Returnal?

Às vezes chego a pensar que a divisão PlayStation PC LLC faz esse tipo de coisa pensando em algo do tipo, “como o jogo já vendeu bem no console, depois de tanto tempo qualquer coisa que vender nos computadores é lucro.” Se for o caso, não deixa de ser uma estratégia, mas como consumidor, é triste pensar que aquilo que pode ser considerado bom (quebra da exclusividade), poderia ser muito melhor.

Crédito: Divulgação/Housemarque

O problema é que, se num mundo ideal esse possível fraco desempenho comercial poderia representar o acendimento de um alerta nos escritórios da Sony, com a empresa buscando rever sua política de adaptação para PC, um recuo parece pouco provável. É difícil imaginar eles mudando de estratégia quanto a demora para esses lançamentos e ao preço cobrado por eles.

O que também deverá ajudar a editora a se manter firme nas suas teimosias convicções é o próximo jogo que será levado para o PC, o The Last of Us Part I. Previsto para estrear na nova plataforma em 28 de março (também por R$ 249,90), o enorme sucesso que a série tem feito na TV deverá fazer com que as vendas sejam bem altas e assim a Sony continuará do alto da sua torre de marfim, achando que está apenas fazendo uma boa ação à indústria de games.

No fim das contas, tudo não passa de negócios e se eles continuam nessa política, é porque deve estar valendo a pena financeiramente. No entanto, mesmo achando que ter uma má opção é melhor do que não ter opção alguma, é inevitável olhar para a maneira como a Microsoft trata seus jogos no PC e não desejar que as outras fabricantes fizessem o mesmo (lançamentos simultâneos, cross-buy, cross-save, Game Pass, etc.).

Com o tempo saberemos quem está certo nesta corrida, mas como consumidor, não consigo ter muita simpatia pelas armas utilizadas pela Sony e lá no fundo ainda tenho um pouco de esperança de que um dia ela mude.

Fonte: The Gamer

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