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Microsoft desiste de RV, Realidade Mista e HoloLens

Microsoft demitiu times AltspaceVR e de Realidade Mista, e encerrou seus projetos; HoloLens seria visto como um produto inviável

1 ano atrás

Já estava evidente que a Microsoft não possuía maiores pretensões ao Metaverso, e as demissões em massa que afetaram diversos setores da companhia deixaram isso bem claro: entre os milhares de funcionários que serão desligados, estão a totalidade dos times de Realidade Virtual e Realidade Mista da empresa, que encerrará seus projetos.

Por esse motivo, não há mais ninguém encarregado de tocar o HoloLens, o headset de Realidade Aumentada/Mista anunciado em 2015, que de lá para cá não se mostrou viável em nenhum segmento consumidor; dessa forma, a Microsoft estaria prestes a descontinuá-lo.

O HoloLens se revelou um elefante branco: caro demais para o povão, desinteressante para a indústria, inadequado para uso militar (Crédito: Divulgação/Microsoft)

O HoloLens se revelou um elefante branco: caro demais para o povão, desinteressante para a indústria, inadequado para uso militar (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Na última quarta-feira (18), a Microsoft anunciou que irá demitir 10 mil funcionários dentro das próximas semanas, um processo que se estenderá até março de 2023; todos os departamentos serão afetados, de software a hardware, nuvem, corporativo, divisão Xbox e seus estúdios internos.

Ninguém em Redmond está protegido do rasante do passaralho, e embora o número de colaboradores demitidos represente apenas 5% da força de trabalho da companhia, alguns setores foram mais afetados que outros.

Dois dias depois (20), a divisão AltspaceVR, originalmente uma companhia de soluções para Realidade Virtual que a Microsoft adquiriu em outubro de 2017, anunciou que encerrará suas atividades no dia 10 de março, com a demissão de todos os seus funcionários. Todos os projetos pendentes serão encerrados, sem cerimônia.

Não obstante, a gigante também demitirá todo o time responsável pelo Kit de Ferramentas de Realidade Misturada (Mixed Reality Tool Kit, ou MRTK), um projeto de código aberto voltado a acelerar o desenvolvimento de soluções em Realidade Mista, via Unity.

O MRTK3, a terceira geração do framework, tinha data de lançamento oficial agendada para fevereiro de 2023, mas ao invés disso, ele será sumariamente descontinuado; a versão Preview, até então disponível para download, foi removida.

O time do MRTK, além de responsável por integrar o framework de Realidade Mista da Microsoft a produtos de terceiros, como o SteamVR e o Meta Quest, era também parte integrante do projeto HoloLens, que também sofreu baixas dada a redução de funcionários no setor de hardware, que afetará igualmente outros produtos da empresa, como as linhas Surface e Xbox.

No entanto, sem o time de Realidade Mista por trás, o HoloLens está basicamente à deriva, apenas aguardando o anúncio de que o projeto será cancelado. O que sendo bem sincero, não surpreende.

Em 8 anos de existência, desde o anúncio original em janeiro de 2015, o HoloLens nunca mostrou a que veio, devido à mudança de mentalidade relativa ao produto, um dos projetos xodós do engenheiro brasileiro Alex Kipman, co-criador do Kinect; em verdade, o sensor de movimentos para Xbox e PC era um produto derivado do headset.

O grande, enorme problema para a Microsoft na época, foi ter oferecido o sensor para o mercado consumidor errado. As versões do Kinect para Xbox 360 e Xbox One eram odiadas pelos jogadores "hardcore", que nunca viram muito sentido nele, a não ser em títulos casuais, como de dança e para o público infantil.

A saída de Alex Kipman da Microsoft foi o início do fim (Crédito: AFP/Getty Images)

A saída de Alex Kipman da Microsoft foi o início do fim (Crédito: AFP/Getty Images)

Simultaneamente, o Kinect era amado por cientistas, desenvolvedores e entusiastas, que ficaram muito felizes ao ter um hardware de ponta acessível, por apenas US$ 149 na versão de console, que podia ser facilmente ligado a PCs via adaptadores, ignorando assim o modelo para computadores, que era US$ 100 mais caro. Eles só diferiam na conexão, proprietária no primeiro e USB no segundo, já que o SDK, disponibilizado de forma livre até hoje, é compatível com ambos.

A Microsoft ficou tão traumatizada, que o HoloLens foi direcionado a companhias de grande e médio porte, projetos educacionais, e claro, developers developers developers. A empresa passou a filtrar os projetos, e só quem recebia o aval poderia comprar a versão de desenvolvedor, que custava salgados US$ 3 mil na primeira geração, e US$ 3,5 mil na segunda; a versão Commercial Suite dispensava a submissão prévia, mas também só empresas, instituições e desenvolvedores podiam comprá-la.

Redmond intencionalmente colocou o preço do HoloLens nas alturas para afugentar o cidadão comum, que deixou de ser o foco, tanto foi que o HoloLens 2 perdeu todo o suporte a games, mas a verdade é que mesmo empresas não se interessaram muito pelo produto. Talvez por isso, a companhia resolveu mirar em um cliente que tradicionalmente tem dinheiro de sobra: as Forças Armadas.

Em 2018, a Microsoft fechou um acordo de US$ 480 milhões com o Departamento de Defesa e o Exército dos Estados Unidos, para desenvolver uma versão do HoloLens 2 originalmente para treino de tropas, mas que poderia (em tese) ser usado em situações de combate. O IVAS (Integrated Visual Augmentation System, ou Sistema Integrado de Aumento Visual em português) fornece visão noturna e térmica, além de informações contextuais via Realidade Aumentada a um soldado em terra.

O contrato previa a entrega de 120 mil unidades do acessório em 10 anos, que poderia render US$ 21,88 bilhões à Microsoft, e então vieram os problemas. A iniciativa é desde sempre criticada internamente, no que funcionários argumentam que um acessório, inicialmente criado para projetos educacionais, não deve se tornar uma ferramenta de guerra.

No entanto, o CEO Satya Nadella defendeu o acordo, ao dizer que a empresa não privaria suas tecnologias de "instituições que nós (o povo) elegemos em democracias, para proteger a liberdade de que gostamos".

O Exército dos EUA tentou encampar o IVAS a todo custo... até o Congresso barrar futuros investimentos (Crédito: Divulgação/US Army/DoD)

O Exército dos EUA tentou encampar o IVAS a todo custo... até o Congresso barrar futuros investimentos (Crédito: Divulgação/US Army/DoD)

Pouco tempo depois, os problemas técnicos começaram a aparecer. O projeto foi pausado para a implementação de melhorias, que não se mostraram suficientes. Soldados que o usaram em testes afirmavam que o IVAS limitava a visão periférica, era pesado e desconfortável, e emitia luzes que os tornariam alvos fáceis em uma situação de confronto.

Pouco depois, uma auditoria do Departamento de Defesa constatou que o alto comando do Exército estava determinado a adotar o IVAS a todo custo, ignorando as reclamações das tropas, e as ressalvas da própria Microsoft, que não mais acreditava no produto, consequência de uma confusão interna.

Nesse ínterim, Alex Kipman saiu da Microsoft, sob acusações de assédio sexual e comportamento inadequado. A coisa estava tão feia, que segundo relatos, havia uma recomendação interna para "nunca deixar uma funcionária mulher, sob quaisquer circunstâncias", sozinha com o brasileiro.

A gota d'água para a Microsoft teria vindo no dia 12 de janeiro de 2023, quando o Congresso dos EUA barrou quase 90% de uma verba de US$ 400 milhões, que o Exército usaria para comprar mais unidades do IVAS; os cerca de 10% aprovados serão usados para o desenvolvimento de uma versão melhor, visto que a última está causando dores de cabeça e náuseas nas tropas.

Então temos a seguinte situação: o HoloLens é caro demais para ser um produto voltado ao público comum/gamer, não se mostrou suficientemente interessante para ser adotado em massa por empresas e desenvolvedores (fora o alto custo), e não é confiável o bastante para ser usado como uma ferramenta militar.

Além disso, a equipe de Realidade Mista por trás do produto foi demitida, e a Microsoft não demonstra interesse pelo Metaverso. Logo, por que mantê-lo?

Ao demitir os times do AltspaceVR e MRTK, a Microsoft já mandou um recado claro que não pretende entrar na seara de Realidade Virtual/Mista mesmo a longo prazo, o que virtualmente matou o HoloLens. Tudo o que resta agora é aguardar o inevitável anúncio do encerramento do projeto, até porque não há mais ninguém trabalhando nele.

Fonte: ExtremeTech

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