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HoloLens militar para o Exército dos EUA fica para 2022

Contrato de US$ 22 bilhões entre o Exército dos EUA e Microsoft foi pausado para melhorias no IVAS, a versão militar do HoloLens

2 anos e meio atrás

Em 2018, a Microsoft assegurou um contrato com o Departamento de Defesa e o Exército dos Estados Unidos, para fornecer uma versão do HoloLens, seu headset de Realidade Aumentada, especializada para uso por tropas. Ele contará com sensores mais sensíveis e trará funções extras, como visão noturna e térmica, e informações contextuais para situações diversas.

O contrato prevê o fornecimento do equipamento por 10 anos, pelo qual a Microsoft receberá cerca de US$ 21,88 bilhões, mas o contrato agora foi pausado para ajustes. Por enquanto ele não será revisto, a medida foi tomada pelo governo a fim de aperfeiçoar mais a tecnologia.

Soldados do Exército dos EUA usam o IVAS, versão militar do HoloLens, durante teste com tropas em outubro de 2020 (Crédito: Courtney Bacon/U.S. Army/Reuters)

Soldados do Exército dos EUA usam o IVAS, versão militar do HoloLens, durante teste com tropas em outubro de 2020 (Crédito: Courtney Bacon/U.S. Army/Reuters)

A Microsoft originalmente lançaria o HoloLens como um produto para o usuário final, mas a companhia não morria de medo de repetir o fiasco do Kinect, um produto especializado que foi vendido a preço de banana para especialistas e desprezado por gamers, e também ficou de olho na recepção (e aplicações relevantes) menos que ideais desenvolvidas para o rival Google Glass.

No fim, após ouvir conselhos de clientes potenciais como NASA, Volvo e outras, Redmond mudou o foco e posicionou o HoloLens no início como um produto restrito, voltado exclusivamente a desenvolvedores com projetos que a Microsoft considere realmente relevantes, para autorizar a compra.

Hoje ele é vendido em cinco versões, sendo a padrão, que custa US$ 3,5 mil, a mais acessível. A Developers Edition sai pelo mesmo preço, mas esta é exclusiva para desenvolvedores com projetos que a Microsoft considere válidos (educação, aplicações industriais, etc.), e que não sejam games. O preço é alto exatamente para manter o afegão médio longe do acessório.

O trauma foi tamanho que depois de matar a versão comercial do Kinect, a Microsoft o relançou em 2018 como Azure Kinect DK, um sensor especializado voltado exclusivamente para developers developers developers.

Como a Microsoft não está interessada em oferecer o HoloLens para a gentalha, o jeito é ir atrás de clientes grandes, e poucos têm mais dinheiro à disposição do que as Forças Armadas. Talvez inspirada no experimento feito pelo Exército da Noruega, em que pilotos de tanques testaram o Oculus Rift, a companhia sondou as necessidades do Exército dos EUA para o uso de sensores especializados, focados principalmente em modos de visão (noturna, térmica) e informações extras contextuais.

Tropas em solo já usam equipamentos diversos em situações de vigilância e combate, snipers têm à disposição acessórios e apps de cálculo de tiro que levam tudo em conta, até a rotação da Terra, na hora de realizar disparos insanos. A ideia da Microsoft foi de oferecer o HoloLens especializado, chamado IVAS (Integrated Visual Augmentation System, ou Sistema Integrado de Aumento Visual em português), como um "tudo em um".

Alex Kipman, criador do HoloLens, durante apresentação do modelo de segunda geração (Crédito: Reprodução/Microsoft)

Alex Kipman, criador do HoloLens, durante apresentação do modelo de segunda geração (Crédito: Reprodução/Microsoft)

O IVAS foi contratado em regime OTA (Other Transaction Authority, ou Outras Autoridades Transacionais), onde órgãos militares podem firmar parcerias de desenvolvimento conjunto com empresas privadas, sem passar pelo processo de licitação. A primeira versão, que era basicamente o HoloLens 2 com nome trocado, foi criticada pelos soldados que o testaram, por ter sensores muito fracos.

A versão atual, que não se parece em nada com o modelo comercial, traz recursos adicionais e sensores bem mais sensíveis. Ele vem sendo testado desde 2020 e inicialmente recebeu sinal verde do Exército, para ser desenvolvido e entregue para uso em setembro de 2021.

Isso foi mês passado. Os testes originalmente deveriam ter sido concluídos em julho último, mas segundo a agência Reuters, os militares pediram que o período seja estendido em mais 10 meses, a serem concluídos em maio de 2022. A entrega final, dessa forma, ficará para setembro do ano que vem. A motivação oficial é a de melhorar ainda mais a plataforma, para que a versão final do IVAS atenda o alto padrão do Exército.

Embora o Exército afirme estar comprometido com a Microsoft e vai honrar o contrato, a medida pode estar relacionada com uma auditoria (cuidado, PDF) pelo Departamento de Defesa, de modo a descobrir se o IVAS de fato atende a todos os requisitos estipulados, muito provavelmente por certos setores acreditarem que o governo está desperdiçando dinheiro dos contribuintes com perfumaria desnecessária.

Vale lembrar que a Microsoft já não anda bem na fita com os militares. Em 2019, a companhia assegurou um acordo de US$ 10 bilhões com o Pentágono, para fornecer seu serviço Azure no contrato JEDI (Joint Enterprise Defense Infrastructuer), a fim de atender as necessidades de computação na nuvem do órgão. A Amazon, a outra concorrente, entrou com um processo contra o governo por ter sido preterida, o que hoje é normal em se tratando de Jeff Bezos.

IVAS visto de perto (Crédito: Divulgação/Microsoft/US Army/DoD)

IVAS visto de perto (Crédito: Divulgação/Microsoft/US Army/DoD)

No fim das contas o projeto todo foi para o vinagre, após o Pentágono concluir que a Microsoft "não atendeu às demandas exigidas". Como tanto o JEDI e o contrato bilionário pelo IVAS foram firmados durante o governo Trump, é provável que a administração de Joe Biden esteja revendo suas prioridades; além disso, o atual presidente dos EUA não vai com a cara das big techs.

Vale lembrar que o acordo também vem sendo severamente criticado internamente. Desde o início, diversos funcionários da Microsoft se manifestaram contra fornecer uma tecnologia, inicialmente voltada a aplicações educacionais, para as Forças Armadas. Sobre isso, o CEO Satya Nadella foi enfático, ao dizer que a empresa não privaria suas tecnologias de "instituições que nós (o povo) elegemos em democracias, para proteger a liberdade de que nós gostamos".

A companhia rebate as acusações, dizendo que o IVAS é um equipamento para "proteger as tropas em situações de combate" e para uso em treinamentos, mas é fato que ele será empregado como um assistente tático em situações reais de conflito, sendo capaz de identificar tropas inimigas a distância, com informações adicionais necessárias para tomadas de decisão, inclusive para confrontos em que a iniciativa partirá do lado norte-americano, e não o contrário.

Por fim, a Microsoft será submetida a uma avaliação de terceiros, por conta de preocupações a respeito de suas tecnologias de vigilância, levantada por acionistas preocupados com a aparente contradição entre os valores da empresa, e o desenvolvimento de produtos e serviços que entram em desacordo com a proteção aos direitos humanos. É possível que o IVAS também tenha entrado nesse balaio.

Os resultados das investigações e testes só deverão aparecer em 2022, e embora o Exército dos EUA tenha dado a palavra de que vai pagar a Microsoft, fica uma pontinha de dúvida sobre se o acordo para o fornecimento do IVAS será mesmo levado em frente.

Fonte: Reuters

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