Ronaldo Gogoni 5 anos atrás
Começou ontem a BUILD 2018, a conferência anual da Microsoft em que ela revela suas principais novidades principalmente na área de desenvolvimento, IA e computação na nuvem, com uma ou outra pílula interessante para os usuários finais.
Vejamos as principais novidades que Redmond apresentou no primeiro dia.
De início, a Microsoft comemora o fato de que o Windows 10 foi ativado em 700 milhões de computadores desde o lançamento. Embora um número expressivo (um incremento de 40% em relação a 2017), tais números ainda estão bem distantes do um bilhão de dispositivos projetados para o período. Como previsto, a promessa original não foi cumprida.
Agora vejamos as novidades. A próxima grande atualização do Microsoft 365, uma plataforma integrada voltada à produtividade composta por Windows 10, Office e e o pacote de segurança Enterprise Mobility + Security (lembrando, o foco da Microsoft hoje é nuvem, IA e ambientes corporativos) permitirá a integração entre uma série de dispositivos conectados, em especial o desktop e seu smartphone. Como o Windows Phone/10 Mobile virou história, resta oferecer a funcionalidade para Android e iOS.
O Your Phone será uma maneira de interligar seus gadgets de forma orgânica, permitindo que você acesse documentos e imagens em seu smartphone a partir de seu computador sem que você tenha que desbloquea-lo, ler e receber mensagens, conferir notificações e outras funções. A novidade, similar a um recente recurso introduzido pela Dell será liberada para usuários do programa Windows Insider em breve e como de costume, usuários Android terão muito mais espaço de manobra do que os donos de iPhones, dada a costumeira resistência da Apple (e até porque ela já tem uma solução do tipo, exclusiva do macOS).
O Microsoft Launcher para Android será atualizado, e terá acesso a um dos recursos novos do Windows 10: a Linha do Tempo. Trata-se de um histórico de longa duração que permite ao usuário verificar quais documentos, aplicativos e páginas da web foram acessados nos últimos 30 dias, viabilizando a continuidade de tarefas on the go a partir do ponto em que você parou no seu desktop, e vice-versa.
A Linha do Tempo também estará presente em dispositivos iOS, mas assim como o Your Phone de forma limitada: donos de iPhones e iPads serão limitados apenas às páginas abertas no Microsoft Edge. A novidade ainda não tem data de lançamento.
Por fim, os Sets (o recurso de agrupar diversas janelas e exibi-las como abas) estão sendo estendidos a todos os desenvolvedores, a princípio apenas para aplicações UWP mas posteriormente também para programas Win32. Hoje ele só é compatível com algumas aplicações da Microsoft, como o pacote Office da Windows Store e o Explorador de Arquivos. Já algumas aplicações do Office 365 estão recebendo o suporte a cards adaptativos, dessa forma poderão ser executados em uma interface resumida.
O Microsoft 365 também receberá novas e poderosas ferramentas de machine learning, na forma de pacotes pré-configurados de modo a permitir que os desenvolvedores criem novas aplicações mais inteligentes para o Windows 10 sem dificuldades. Já o Graph, o software de código aberto que integra as soluções da plataforma entre si está sendo posicionado como a principal ferramenta para permitir a integração das novas aplicações universais com a Linha do Tempo, que é um desejo prioritário da Microsoft.
Os serviços cognitivos terão maior suporte: o Project Ink Analysis é uma nova API permitirá que desenvolvedores integrem suas ferramentas às soluções Windows entre plataformas, uma expansão do Windows Ink com a nuvem por trás; já as APIs de reconhecimento de fala Bing Speech, Speaker Recognition, Custom Speech Service e Translator Speech estão todas sendo agrupadas sob um guarda-chuva comum.
A Microsoft também está investindo pesado em IA para acessibilidade. O novo programa AI for Accessibility visa investir US$ 25 milhões em cinco anos na forma de bolsas para desenvolvedores, ONGs e universidades para o desenvolvimento de novas e melhores ferramentas para pessoas com deficiências. A companhia também identificará e fomentará iniciativas já em curso, com todos tendo acesso aos profissionais da Microsoft para aprimorarem suas soluções.
O HoloLens, a plataforma de Realidade Mista proprietária da Microsoft não deve dar as caras tão cedo e não será um produto para as massas num primeiro momento (para atender o público a tecnologia foi licenciada para parceiros, como ASUS e Samsung), mas recebeu dois novos aplicativos para auxiliar os desenvolvedores a explorarem melhor a plataforma.
O primeiro é o Remote Assist, que permite o compartilhamento das imagens capturadas pelo HMD em tempo real com seus contatos, como um feed de vídeo permitindo a solução de problemas de forma rápida. A ideia é conectar profissionais distantes fisicamente de uma forma mais orgânica e prática, que não dependa exclusivamente de uma conferência via Skype em desktops e/ou dispositivos móveis para simplificar ao máximo a comunicação.
Já o Layout é voltado para projetistas, arquitetos, engenheiros e demais profissionais que lidam com design de interiores ou precisam posicionar maquinário pesado de uma maneira eficiente e rápida. O app permite o mapeamento em tempo real e uso virtual dos espaços físicos para que o usuário possa simular a posição de móveis, equipamentos e outros dispositivos e/ou objetos eliminando imprevistos, aproveitando os espaços físicos reais para criar modelos que otimizem melhor seu uso.
Para a realidade do chão de fábrica, por exemplo é uma solução muito interessante, que evita "chutes" no reposicionamento de maquinário.
Como de praxe a Microsoft permanece oferecendo o HoloLens como uma solução para grandes companhias e uma ferramenta de desenvolvimento de ponta, limitando ao máximo o acesso à plataforma e espantando curiosos: desenvolvedores precisam desembolsar US$ 3 mil e apresentar projetos que a Microsoft julgue agregadores (definitivamente, nada de games); já clientes corporativos não possuem essa restrição de compra mas pagam muito mais caro, US$ 5 mil.
A plataforma de serviços em nuvem da Microsoft foi como esperado um dos destaques. Uma das novidades diz respeito ao Project Brainwave, apresentado em 2017 como uma ferramenta para a execução de sistemas de IA em tempo real através de Arranjo de Portas Programáveis em Campo (Field Programmable Gate Array, ou FPGA); a Microsoft explicou que ele funcionará como uma poderosa arquitetura de hardware hospedada nos servidores Azure, por onde sua interface poderá ser acessada.
A Microsoft diz que disponibilizará o acesso ao ambiente de cálculo de ponta do Brainwave por um preço "competitivo", de modo a permitir que plataformas domésticas e outras soluções simples da Internet das Coisas tenham acesso a um sistema capaz de processar imagens, texto e sons em tempo recorde com eficiência e por um preço que não pesará no produto final.
Ao mesmo tempo, a abertura do código do Azure IoT Edge Runtime vai permitir que drones e outros equipamentos possam realizar funções críticas sem depender do acesso à nuvem, e tendo isso em vista a DJI fechou uma parceria de desenvolvimento de um novo SDK, voltado para Windows 10 permitindo o desenvolvimento de aplicações voltadas para seus produtos.
A parceria também prevê o acesso ao Azure, dessa forma os drones da DJI terão à sua disposição uma plataforma que permitirá melhor e mais rápido processamento de imagens e vídeos; assim ficará mais simples e rápido identificar objetos e realizar certas tarefas.
Ainda sobre parcerias, a Qualcomm vai desenvolver um novo kit de visão computacional de modo a levar o Azure a mais sensores ópticos inteligentes, mesmo os que não forem fabricados por ela própria de modo a continuar fornecendo sua solução de visão computacional a mais potenciais clientes.
Por fim, o Kinect. Não é segredo para ninguém que a Microsoft fez tudo errado com o acessório, que foi subutilizado no Xbox 360 e Xbox One e era um sensor barato demais para desenvolvedores, que por US$ 149 e um adaptador simples tinham acesso a um hardware excelente para mapeamento de ambientes e reconhecimento de imagem, o que viabilizou inúmeros projetos.
Porém, no fim das contas o acessório só eu dor de cabeça à Microsoft e foi devidamente exterminado. Ironicamente ele vive no iPhone X, o que prova que como produto em si ele era muito bom e só foi mal vendido, e matar a tecnologia não parece ser a melhor das decisões. O que fazer então?
Simples, você traz o Kinect de volta. O Project Kinect for Azure é um conjunto de sensores combinados a uma câmera de profundidade melhor do que a presente na última geração do gadget, com resolução de 1.024 x 1.024 pixels ao invés de 640 x 480 e é capaz de identificar as articulações das mãos, além de enxergar melhor o ambiente ao redor.
Alex Kipman, o responsável pelo Kinect e HoloLens informa que o novo Kinect é a quarta geração do sensor, sendo a primeira a lançada para Xbox 360, a segunda para Windows e a terceira, o acessório do Xbox One e que também equipou o HoloLens; a próxima geração do HMD deverá usar a versão Azure, miniaturizada para viabilizar seu uso em soluções de computação de borda e IA, principalmente para inteligência ambiental e outras aplicações de grande porte.
Assim, da mesma forma como aconteceu com o HoloLens o acesso ao Kinect for Azure será restrito a desenvolvedores das áreas de Internet das Coisas, automação e outras aplicações de grande porte; a Microsoft definitivamente não quer curiosos.
A integração entre ambas assistentes virtuais fora anunciada no ano passado, mas ainda não aconteceu. No entanto Microsoft e Amazon continuam fazendo com que as duas conversem e possam ser utilizadas em conjunto, com uma tendo acesso às funcionalidades da outra e suprindo suas deficiências. Na BUILD 2018 foi demonstrado como essa integração vai funcionar:
No entanto, tanto a Amazon quanto a Microsoft não informam quando Alexa e Cortana poderão bater um papinho, a funcionalidade ainda não tem data de lançamento.
Já na parte de conferências locais, a Microsoft demonstrou um conceito com uma câmera de 360 graus e um conjunto de microfones capaz de identificar cada um dos presentes e transcrever o que cada um dizia, com base nas capacidades de reconhecimento de voz do Skype.
Microsoft's meeting prototype device was cool, but what happens if every random comment you make in a meeting is transcribed and preserved for anyone to see? I guess it's a good way to make sure meetings stay on topic.. pic.twitter.com/qTBRo7CX8i
— Karissa Bell (@karissabe) 7 de maio de 2018
Ainda não há previsão de quando a solução será disponibilizada ou de como será o dispositivo, que pode vir a ser uma extensão corpórea um tanto esperada da Cortana.
Sendo a Microsoft BUILD uma conferência voltada exclusivamente para os desenvolvedores da plataforma Microsoft, é de praxe que muitas das coisas abordadas sejam voltadas para eles.
Por exemplo: o VisualStudio está recebendo o recurso Intellicode, um modo de sugestão de sentenças realmente úteis, que aparecem enquanto o programador está escrevendo seu código com base no que o mesmo está acostumado a escrever; dessa forma, o software aprende os maneirismos do usuário enquanto programa e passa a sugerir complementos que ele está acostumado a implementar. Já o recurso Live Share permite que o programador colebore em tempo real com outros membros de sua equipe, depurando o código em tempo real pelo VS 2017 ou pelo VS Code.
O Fluent Design foi simplificado, permitindo a criação mais fácil de aplicativos e o .NET Core 3.0 permite rodar programas em uma versão independente, mais recente do .NET e o Excel ganhou suporte a funções em JavaScript personalizadas que podem ser utilizadas no Windows, no macOS e na versão Online. Por fim, aproveitando a onda do blockchain, o Azure Blockchain Workbench permite que o desenvolvedor crie aplicativos conectando serviços como Azure Active Directory, Key Vault e SQL Database à rede de blocos encadeados.