Carlos Cardoso 8 anos atrás
Existe uma regra em apresentações de tecnologia: nunca entre em modo FULL STARK. Você não é Tony Stark, vai empolgar a platéia e não vai conseguir entregar. Por isso quando Alex Kipman subiu ao palco e começou a falar de novas fronteiras, de ir além da realidade virtual, dos mundos imaginários, eu fiquei com medo. Quando falou de hologramas, pensei: “ferrou, ele entrou em modo FULL STARK”.
Só que Alex Kipman não é qualquer um. Ele inventou um brinquedo chamado Kinect, e é um geek de carteirinha. Eu o conheci quando veio ao Brasil. De noite, cansado, caipirinhado e o cara ainda falava do trabalho com um entusiasmo juvenil. Eis que eles detonam no melhor estilo ninja enfiando as espadas nos dois competidores, com o Microsoft HoloLens, que não precisa de um smartphone (KIAAAA Glass) nem de um computador (HAYAAA Oculus Rift).
O que é?
Um dispositivo de computação completo, com telas translúcidas de alta definição, CPU, GPU, HPU — um chip holográfico dedicado e só não tem APU pois com o Satya por lá soaria racista. Terabytes de dados por segundo são enviados pelos sensores, para que a imagem seja projetada nas telas perfeitamente alinhada com seus olhos. O som surround ajuda a completar a imersão.
Veja o vídeo-conceito:
http://www.youtube.com/watch?v=aThCr0PsyuA
Microsoft HoloLens — Transform your world with holograms
“Ah mas é conceito, você odeia conceito”
Não, phylho. Conceito não presta quando é baseado em nada. O HoloLens é um dos projetos mais antigos de Alex Kipman, tem mais de 7 anos. Enquanto não ficava maduro várias idéias derivadas dele foram desenvolvidas, uma delas é o Kinect.
Sim, o HoloLens usa sensores bem mais avançados que o Kinect, ele consegue ler o movimento de seus braços num raio de 120 graus, vertical e horizontal. Ah sim, também tem sensores de voz.
O Windows 10 virá com APIs para desenvolvimento de apps holográficos, por isso já estão demonstrando coisas como Skype Holográfico. Um VLC usando a tecnologia será chupeta.
O HoloLens foi desenvolvido em colaboração com técnicos da NASA, e estão doidos para usar para controlar robôs em outros planetas. Hoje em dia cada movimento é simulado antes de ser executado, mas a tela do PC não dá a mesma perspectiva tridimensional de “estar lá”.
Jessi Hempel, da Wired, que inexplicavelmente recebe mais amor da Microsoft do que o MeioBit, foi convidada para um one-to-one com Kipman, onde mexeu com um HoloLens. Ela conta que na simulação de Marte as pernas tremeram, ela não conseguia conciliar o que os olhos viam e o chão de verdade. Era tão real que o “Sol” da simulação atingia as pernas dela e marcava sombras no solo marciano.
Ah sim, o HoloLens além de aceitar comandos de voz, os entende de forma contextual pois sabe para onde você está olhando, então "delete" não apaga tudo (espero).
Bem, chega de falar. Veja a demonstração que a Microsoft fez em tempo real, com a Lorraine McFly construindo um quadcóptero no HoloStudio, ao mesmo tempo em que uma câmera 3D mostrava o que ela estava vendo, mas… do ponto de vista da câmera e — ah, você entendeu:
http://www.youtube.com/watch?v=RCCXZ8ErVag
Dastan 0104 — Microsoft's Holographics Live Demo, Project HoloLens goggles in action| Impressive
Em um gesto de diplomacia Alex Kipman estendeu as mãos para as equipes do Glass, do Rift, da Sony, explicando que as APIs holográficas do Windows 10 são abertas e desenvolvedores são bem-vindos.
Ao final os jornalistas presentes foram convidados a experimentar o produto, um gesto de confiança bem grande, ainda mais com algo ainda em fase tão inicial.
Em sua conversa comigo, anos atrás, Alex Kipman citou sua frase preferida de Alan Kay: “A melhor forma de prever o futuro é criando-o”. Eu acho que Alex Kipman conseguiu, não nos dando o que queríamos mas o que precisávamos. Afinal, hoverboard é legal pra alguns mas todo mundo adora ver TV na hora da janta: