Dori Prata 7 anos atrás
Boa parte das pessoas — tanto da indústria quanto jogadores — costumam tratar os games como uma mera forma de entretenimento, mas para muitas outras, a mídia pode servir para outros fins, como por exemplo causar as mais variadas emoções naqueles que experimentarem uma obra.
Um game designer que vem tentando oferecer experiências mais profundas é David Cage, o CEO da Quantic Dream e criador de jogos como Heavy Rain e Beyond: Two Souls. Recentemente o francês esteve num evento em Londres e nele previu que cada vez mais os desenvolvedores farão games que contem histórias mais pessoais, ao invés de se apoiarem apenas em monstros e zumbis.
Num determinado momento Cage falou sobre uma mulher que conheceu numa festa, que lhe contou que, após morar dois anos na rua, um trecho do Beyond: Two Souls fez com que ela caísse em prantos.
“Fiquei tão comovido por aquilo. Quando você é um criador, não espera por uma reação mais forte do que aquela. Acho que existe uma tradição nos videogames de que eles devem se separar do mundo real e não falar sobre problemas reais, nossa sociedade e coisas assim. Não sei de onde veio isso.
Nos últimos anos tenho visto mais criadores de games pensando de forma diferente, percebendo que filmes, livros, poesia — qualquer forma de arte — podem falar sobre esses problemas, então porque os games não? Porque sempre focamos em zumbis, monstros ou coisas que são legais, mas desconectadas do nosso mundo? A indústria tem sido muito bem sucedida dessa forma, mas acho que veremos mais criadores tentando falar sobre problemas como esses. Usar a interatividade para dizer algo significativo é algo muito empolgante.”
Cage disse ainda que entende o fato de seus jogos dividirem opiniões, afinal eles fogem do lugar comum, mas mesmo admitindo que adoraria criar algo que todos adorassem, não está disposto a entregar um título apenas porque o mercado deseja, preferindo tentar diversificar um pouco a indústria.
Bom, eu não serei hipócrita aqui dizendo que odeio jogos de zumbis ou monstros, porque é justamente o contrário, mas concordo plenamente com David Cage quando ele diz que a indústria precisa fugir dessas limitações que o mercado lhe impôs.
Por exemplo, o próprio Heavy Rain foi uma experiência bastante marcante para mim e mais recentemente, um dos jogos que mais me tocou foi o Firewatch. O detalhe é que ambos tratam de assuntos comuns e eu não os recomendaria para pessoas que só procuram ação. Porém, o que eu realmente gostaria é que elas entendessem que obras assim são necessárias, pois podem melhorar as narrativas mesmo nos títulos que costumam jogar. Quem sabe um dia…
Fonte: GamesIndustry.