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Goichi Suda e a velha discussão sobre notas para jogos

Goichi Suda diz que as pessoas se importam demais com agregadores como o Metacritic e reacende debate sobre avaliações que dão notas aos jogos

16/09/2024 às 9:47

Algo que tenho visto muito ultimamente são pessoas afirmarem que não ligam para as notas dadas em avaliações de jogos. Céticos quanto as impressões passadas pela mídia especializada, esses consumidores afirmam que o melhor é buscar a opinião de outros jogadores e por isso, será que agregadores como o Metacritic estariam perdendo a relevância? Pois de acordo com Goichi Suda, não é bem assim.

Shadows of the Damned: Hella Remastered - Goichi Suda

Shadows of the Damned: Hella Remastered (Crédito: Divulgação/Grasshopper Manufacture)

Também conhecido como Suda51, ele iniciou sua carreira na Human Entertainment em 1993, quando trabalhou na criação do Fire Pro Wrestling. Desde então se consolidou como um dos game designers mais criativos (e ousados) do Japão, produzindo obras aclamadas como killer7, No More Heroes, Shadows of the Damned, Lollipop Chainsaw e Killer is Dead.

Recentemente Goichi Suda esteve ao lado de outro gênio japonês, Shinji Mikami, em uma conversa com o site GamesIndustry e quando alguém com tanto talento se dispõe a opinar sobre a indústria, vale a pena prestar atenção. Ao ser questionado sobre o estilo tão diferente adotado por eles, Suda51 disse o seguinte:

“Todo mundo presta muita atenção e se importa demais com as notas do Metacritic. Chegou ao ponto em que há quase uma fórmula — se você quer obter uma pontuação alta no Metacritic, é assim que faz um jogo.

Se você tem um jogo que não se encaixa nessa fórmula, nesse escopo de comercialização, ele perde pontos no Metacritic. As empresas maiores podem não querer lidar com esse tipo de coisa. Essa pode não ser a razão principal, mas certamente é uma das razões. Todo mundo se importa demais com os números.

Pessoalmente não me importo muito com os números do Metacritic. Não estou realmente consciente sobre eles. O que é importante para nós é lançar jogos que queremos lançar e ter pessoas jogando games que queremos que elas possam jogar.”

Shinji Mikami e Goichi Suda

Shinji Mikami e Goichi Suda (Crédito: Reprodução/IGN Japan)

Muitos poderão dizer que esse comportamento de Goichi Suda deveria ser seguido por outros criadores, mas ele admitiu não estar totalmente blindado as notas dadas pelos sites que avaliam seus jogos. Segundo o game designer, quando algum veículo lhe dá uma nota zero, aquilo faz com que se sinta “um mer**”, questionando porque foram tão longe. Mas tirando isso, ele tenta evitar o agregador de notas.

Durante a entrevista, Mikami foi ao encontro da opinião dada pelo amigo, mas ponderou, afirmando que há muitos jogos bons por aí que acabam ofuscados por aqueles feitos com um maior orçamento. “O tipo de jogo que recebe o maior investimento de marketing é aquele que precisa atrair a maior audiência possível,” disse. “Jogos mais únicos não precisam ter a mesma comercialização.”

Atualmente trabalhando em uma remasterização do Shadows of the Damned, título lançado originalmente em 2011 e que contou com a produção de Mikami e o roteiro de Suda51, é difícil discordar da opinião de ambos.

Goichi Suda me parece correto ao criticar a maneira pasteurizada como os grandes jogos são produzidos atualmente, quase sempre seguindo uma receita de bolo para conquistar a maior pontuação possível e assim chamar a atenção do público. Ao mesmo tempo, como não entender o posicionamento de Shinji Mikami, quando obviamente as editoras estão preocupadas em recuperar as dezenas (às vezes centenas) de milhões de dólares investidos nas chamadas produções AAA?

killer7 (Crédito: Divulgação/Grasshopper Manufacture)

No entanto, esse é um problema cuja responsabilidade deveria ser dividida — em maior ou menos proporção — em três partes. Não resta dúvida de que os executivos das editoras e os criadores possuem sua parcela de culpa nessa industrialização da mídia, mas eles não são os únicos.

Sim, os profissionais responsáveis por avaliar os jogos (e aí me incluo nessa) precisam ter um maior senso crítico sobre o que estão experimentando e tentar passar da melhor maneira possível os erros e acertos dessas produções. Usando o próprio Metacritic como parâmetro, por lá é possível ver as médias de notas dadas pela imprensa e pelo público, com elas normalmente sendo bem diferente entre si.

Embora algumas vezes vejamos situações um tanto injustas, com jogos sendo massacrados pelos motivos que não deveriam, muitas pessoas preferem ignorar as pontuações dadas pelos sites e focar apenas na pontuação do público. E tudo bem, é positivo que tenhamos essa diferença de opiniões.

No More Heroes (Crédito: Divulgação/Grasshopper Manufacture)

Mas isso também nos leva à terceira parte deste círculo vicioso que há tanto tempo contamina a indústria, o público. Pode parecer errado apontar os consumidores como responsáveis pela falta de variedade nos jogos produzidos, mas a verdade é que somos nós quem sustentamos esse modelo.

A partir do momento em que uma grande produção vende muito mais que títulos de pequeno/médio porte — e não raro, melhores em vários aspectos que suas contrapartes milionárias —, só porque pertence a uma franquia conhecida ou porque recebeu um alto investimento na divulgação e uma média maquiada em um algum agregador de notas, passa a ser nossa a culpa pelo sistema se perpetuar.

Esse não é um problema dos videogames, mas da indústria do entretenimento no geral, ficando bem claro quando estúdios de cinema, gravadoras ou editoras de jogos lançam campanhas para divulgar os prêmios e elogios feitos pela imprensa. E por mais que eu, você ou Suda51 não concordemos com isso, não há como negar que essas notas e avaliações afetam diretamente a decisão de uma boa parte dos consumidores.

Shadows of the Damned: Hella Remastered (Crédito: Divulgação/Grasshopper Manufacture)

É por isso que considero tão difícil avaliar um jogo, filme, livro, revista em quadrinhos ou o que quer se seja. A impressão que tenho sobre uma obra pode ser muito diferente da sua e se as nossas opiniões diferirem, quem está certo? Por que eu não posso ter adorado um título que você odiou e não ter sido conquistado por outro que alguém amou?

E quando isso se resume a uma simples nota, fica ainda mais difícil defender nossa opinião. Eu entendo que muitas vezes não temos o tempo necessário para ler várias longas análises, tornando muito mais simples tirar alguma conclusão ao verificar se um jogo teve uma média 85, 50 ou um vergonhoso 30. Porém, será que o avaliador não usou argumentos plausíveis para justificar a nota dada?

Qual a solução para isso? Sinceramente não sei, mas sempre acreditei em acompanhar pessoas que possuem um gosto com o qual me identifico, mesmo eventualmente discordando de algumas opiniões. E para fazer isso, apenas olhar a pontuação presente no Metacritic nunca será suficiente.

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